quarta-feira, 12 de julho de 2017

Os Médiuns e as Fraudes[1]

O espantoso desafio para pesquisadores e verdadeiros médiuns


 
Por Sandro Fontana

Quando os céticos clamam por comprovações sobre a mediunidade, essa exigência não é à toa. Ao longo dos últimos 150 anos demonstrações mediúnicas e fraudes sempre andaram juntas, diga-se de passagem, até de médiuns aparentemente genuínos.
Já é conhecido que muitos médiuns (principalmente ingleses) cobravam por seus serviços, isso opostamente à cultura francesa, parecia colaborar para tal feito, afinal, muitos médiuns que demonstravam uma mediunidade efetiva em um momento de suas vidas, ao longo do tempo tal “poder" parecia desaparecer, obrigando-os a tomar caminhos obscuros e que seriam, mais tarde, fraudes facilmente detectáveis.
Mas e os médiuns voluntários, porque fraudariam já que não existia remuneração envolvida?
Essa é uma pergunta que vem sendo feita por décadas e a resposta mais objetiva passa a ser: crença exagerada e ego.
Parece estranho que uma postura religiosa de crença, onde a caridade passa a ser um referencial, conduza certas pessoas a um caminho tão anticristão, para não dizer criminoso.
De certa forma isso tudo ocorre num momento espirita onde a cultura da “não colaboração” com pesquisas está em seu auge. Atualmente é muito difícil encontrarmos médiuns dispostos à submissão de testes que venham a demonstrar sua mediunidade efetiva, isto é, não tem sido fácil médiuns aceitarem a convites de pesquisadores para demonstrarem se seus “poderes" são verdadeiros.
Em geral tal postura gera sempre uma problemática, onde a recusa não evidencia necessariamente uma fraude, mas deixa todo mundo com um pé atrás, pois, se a pessoa é realmente um médium, então por que não colaborar?
Um dos argumentos usados por alguns médiuns é o fato de que ele poderia estar ajudando pessoas ao invés de estar colaborando com pesquisas, mas essa parece ser uma desculpa que passa a não ser bem aceita, principalmente quando o estudo envolve famílias e a ajuda estaria ocorrendo da mesma forma, mas agora com um grupo pequeno e restrito delas.
Este artigo foi elaborado para atualizar e situar nosso leitor, pois sabemos que o grupo interessado na parte cientifica sempre mantém um nível crítico mais elevado, diferenciando-se da grande maioria espírita, dessa forma é possível perceber que a fraude está associada com três elementos: dinheiro, ego e crença doentia.
 
Por que precisamos das pesquisas?
As pesquisas são necessárias basicamente por dois motivos: descartar a fraude, demonstrando que o fenômeno ocorre de fato e para melhor compreendermos os limites da mediunidade e capacidade dos espíritos.
Como exemplo, temos nessa edição da RCE um breve resumo dos estudos de Drayton Thomas. Com os procedimentos elaborados por ele podemos melhor compreender como ocorre a visão por parte dos espíritos, algo que ficou incompleto na elaboração da Codificação.
Conhecer os limites da mediunidade é fundamental, isso porque a crença, por vezes, domina e abafa a razão, escondendo uma verdade e conduzindo a doutrina por um caminho sinistro da ignorância, algo combatido por Kardec durante toda sua vida. Como exemplo disso posso citar um caso não comentado no meio espirita: alguém já ouviu falar de Emily Rose?
Ela era uma jovem que, quando incentivada pelos pais, elaborou um método cientifico simples para testar ditos médiuns que faziam o “Toque Terapêutico” (TT), isso nada mais é do que a aplicação do passe, oficialmente instalado em hospitais americanos anos atrás. A pergunta básica do estudo dela era: O TT funciona?
Ela tomou um caminho lógico de experimentação, mas pelo fato dos médiuns não possuírem entendimento de como o passe (ou TT) funciona de fato, e desconhecerem seus limites, esses “médiuns” afirmavam terem o poder de sentir a energia do corpo das pessoas, assim como emitir de seus também.
A proposta de Emily era “cegar" as médiuns e estas colocariam suas mãos espalmadas para cima, então a jovem Emily selecionaria/escolheria, de forma aleatória, uma das mãos para colocar a sua a uma distância de aproximadamente 30 cm, a fim de evitar que o calor do corpo indicasse (ou induzisse falsamente) qual mão da médium ela teria escolhido para o teste. As médiuns tinham simplesmente que dizer qual das suas mãos estava captando a energia da menina (esquerda ou direita).
O experimento foi um sucesso, para os céticos!
Os médiuns acertaram cerca de 44%, ou seja, algo esperado para o acaso, uma vez que haviam somente duas opções (esquerda ou direita).
Isso demonstrou que os médiuns estavam totalmente iludidos.
Houve erro ou falha no método? Absolutamente não! Infelizmente não houve, pois o erro estava na crença de que isso era possível de ocorrer, gerando uma péssima imagem para o espiritismo e principalmente para o potencial do passe, algo que não tem nada a ver com uma crença descabida.
Emily foi condecorada pela iniciativa e o espiritismo/misticismo, de modo geral, ridicularizado no meio cientifico, acadêmico e social, exatamente porque a crença e fé cega não limitaram ou compreendiam o fenômeno. No exemplo citado não temos caso de fraude mas sim de ignorância absoluta por parte dos praticantes.
Em outras pesquisas com médiuns, por exemplo, em eventos de cartas psicografadas publicamente ou “cartas consoladoras”, um estudo ainda não publicado[2] revela que a grande dificuldade dos pesquisadores na atualidade é o fácil acesso a internet, buscamos investigar alguns médiuns e verificar como ocorrem as fraudes e, por outro lado, onde se fixam os detalhes do verdadeiro médium.
Primeiramente é importante compreender que, devido ao fácil acesso à internet, é praticamente impossível garantir que um médium não fraude, até porque é muito fácil de se obter dados de pessoas já falecidas, principalmente com o uso das redes sociais e banco de dados. Em casos raros é possível se ter maiores garantias da genuinidade mediúnica quando surge uma informação relevante e muito particular (esse foi o caso citado no artigo que passa por revisão por pares).
Contudo, na atualidade, não há outro caminho senão um teste controlado com o médium, onde ele basicamente faria uma sessão dentro do seu modus operandi, ou seja, atuaria da mesma forma só que as famílias envolvidas na sessão seriam escolhidas por pesquisadores ou um grupo a parte.
 
Como ocorrem as fraudes?
As fraudes podem ocorrer basicamente de duas formas: a primeira é com entrevistas às famílias. Geralmente, sem perceber, as famílias acabam fornecendo dados e detalhes que posteriormente vem a surgir nas cartas psicografadas. Os médiuns que aplicam essa técnica, normalmente não psicografam a carta na mesma sessão, a fim de não ficar tão evidente, esperando que os pais retornem em outros momentos. Como fator colaborador, o médium entrevista outras famílias e não é incomum surgirem casos onde grupos de famílias vão até o evento mediúnico devido a um acidente coletivo ou que possuam ralação parental.
Dessa forma já é possível se obter dados suficientes para “construir” uma carta; some a isso uma “pitada" de informações genéricas lógicas, algo que pareça pessoal mas é redundante, por exemplo: “mamãezinha, por vezes fico aqui sofrendo ao ver você olhando para aquela foto onde estamos abraçados”, em qual caso isso não ocorre?
Se uma carta é fraudulenta, uma informação desse nível não possui limite de maldade, onde o fraudador usa do sofrimento alheio para obter algum tipo de benefício e facilidade pela ânsia e dor do familiar.
A segunda, que pode ou não ser associada à primeira, é a que mais impressiona. Como uma espécie de show, o médium (sem pegar qualquer nome ou pedido das pessoas presentes), começa a escrever uma carta atrás da outra, então depois do “momento mediúnico” o médium começa a ler, uma a uma, e as pessoas que se identificam com o texto aparecem aos prantos. São famílias desesperadas, mães prestes a suicídios por terem perdido seus filhos que estão lá e nem percebem do novo golpe que sofrem, só que dessa vez, da mentira. Esse tipo de fraude ocorre de maneira discreta.
Sem perceber várias famílias ficam focadas em receber noticias e daí compartilham ou participam de momentos (ou movimentos) sociais na internet demonstrando seu interesse. Elas acabam sendo alvos desses oportunistas que acompanham na mídia social suas futuras vítimas.
Além dessas pessoas “indefesas" ocorre a técnica do “caso aleatório”, ou seja, o fraudador procura por eventos trágicos na região onde irá fazer a sessão e elabora uma carta, a única diferença é que tal mensagem fica “ao chute”, isto é, a carta surge na sessão, se por um acaso a pessoa não compareceu, então foi o espirito (dentre as centenas de mães sofredoras) que veio a deixar uma mensagem para ser entregue em outro momento à família desinteressada. Se, por outro lado, a família está presente, o poder de convencimento é maior ainda, uma vez que não tinham avisado ninguém ou comentado que iriam ao evento. Isto surte um poder fenomenal incrível, dando maior credibilidade aparente ao médium.
Geralmente tal fraude está associada a detalhes muito convincentes, parecendo que o espirito quer efetivamente demonstrar quem ele é e usa de todo o “poder” do médium para garantir isso. Informações tais como CPF, RG, telefone, endereço ou datas muito específicas surgem aos montes, pena que o público leigo não imagina que tais dados são extremamente raros de ocorrer e geralmente aparecem em médiuns mecânicos (então a letra teria que ser a mesma) ou em médiuns com uma vidência muito rara.
Nesse "segundo caso", os médiuns acabam sendo desmascarados quando ocorre conflito de dados ou quando eles acidentalmente se enganam ou erram. Nomes ou apelidos desconhecidos, endereços errados na internet, ligação parental incorreta são os pontos chaves que podem alertar os pesquisadores (e familiares) a detectar uma possível fraude.
É oportuno comentar que, tudo isso necessariamente deve estar associado a (no mínimo) um dos 3 itens “pilares" das fraudes, ou seja, ganho financeiro, ego e crença exacerbada. Em geral médiuns envolvidos com as fraudes vendem seus livros nas sessões, algo que lhes rende ganhos financeiros (chegando a mais de R$5.000,00 por evento), nesses casos geralmente eles não possuem custos uma vez que grupos de familiares organizam tudo e pagam-lhes as passagem e estadia durante o “show”.
 
E os médiuns verdadeiros?
Infelizmente esses se tornam vítimas também, mas dessa vez da sua imagem e seu trabalho honesto.
É um tanto difícil de separar os resultados de ambos, pois um médium verdadeiro vai reproduzir exatamente o mesmo “material" (cartas) que os fraudadores, sendo praticamente impossível de distinguir entre um e outro. A única forma para se ter certeza são os experimentos controlados, ficando assim o verdadeiro médium “certificado" de sua honestidade.
É triste termos de chegar a esse ponto, mas por “maus médiuns” os bons acabam tendo que pagar o preço de provar sua honestidade.
Algum se propõe ao teste?




[1] Revista Ciência Espírita - Dezembro/2016
[2] O estudo está passando por uma revisão por pares e será publicado em edição futura da Revista Ciência Espirita.

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