Quando os céticos clamam por
comprovações sobre a mediunidade, essa exigência não é à toa. Ao longo dos
últimos 150 anos demonstrações mediúnicas e fraudes sempre andaram juntas, diga-se
de passagem, até de médiuns aparentemente genuínos.
Já é conhecido que muitos
médiuns (principalmente ingleses) cobravam por seus serviços, isso opostamente
à cultura francesa, parecia colaborar para tal feito, afinal, muitos médiuns
que demonstravam uma mediunidade efetiva em um momento de suas vidas, ao longo
do tempo tal “poder" parecia desaparecer, obrigando-os a tomar caminhos
obscuros e que seriam, mais tarde, fraudes facilmente detectáveis.
Mas e os médiuns voluntários,
porque fraudariam já que não existia remuneração envolvida?
Essa é uma pergunta que vem
sendo feita por décadas e a resposta mais objetiva passa a ser: crença exagerada e ego.
Parece estranho que uma postura
religiosa de crença, onde a caridade passa a ser um referencial, conduza certas
pessoas a um caminho tão anticristão, para não dizer criminoso.
De certa forma isso tudo ocorre
num momento espirita onde a cultura da “não colaboração” com pesquisas está em
seu auge. Atualmente é muito difícil encontrarmos médiuns dispostos à submissão
de testes que venham a demonstrar sua mediunidade efetiva, isto é, não tem sido
fácil médiuns aceitarem a convites de pesquisadores para demonstrarem se seus
“poderes" são verdadeiros.
Em geral tal postura gera sempre
uma problemática, onde a recusa não evidencia necessariamente uma fraude, mas
deixa todo mundo com um pé atrás, pois, se a pessoa é realmente um médium, então
por que não colaborar?
Um dos argumentos usados por
alguns médiuns é o fato de que ele poderia estar ajudando pessoas ao invés de
estar colaborando com pesquisas, mas essa parece ser uma desculpa que passa a
não ser bem aceita, principalmente quando o estudo envolve famílias e a ajuda
estaria ocorrendo da mesma forma, mas agora com um grupo pequeno e restrito
delas.
Este artigo foi elaborado para atualizar e situar nosso leitor, pois
sabemos que o grupo interessado na parte cientifica sempre mantém um nível crítico
mais elevado, diferenciando-se da grande maioria espírita, dessa forma é
possível perceber que a fraude está associada com três elementos: dinheiro, ego
e crença doentia.
Por que precisamos
das pesquisas?
As pesquisas são necessárias
basicamente por dois motivos: descartar a fraude, demonstrando que o fenômeno
ocorre de fato e para melhor compreendermos os limites da mediunidade e capacidade
dos espíritos.
Como exemplo, temos nessa edição
da RCE um breve resumo dos estudos de Drayton Thomas. Com os procedimentos
elaborados por ele podemos melhor compreender como ocorre a visão por parte dos
espíritos, algo que ficou incompleto na elaboração da Codificação.
Conhecer os limites da
mediunidade é fundamental, isso porque a crença, por vezes, domina e abafa a
razão, escondendo uma verdade e conduzindo a doutrina por um caminho sinistro
da ignorância, algo combatido por Kardec durante toda sua vida. Como exemplo
disso posso citar um caso não comentado no meio espirita: alguém já ouviu falar
de Emily Rose?
Ela era uma jovem que, quando
incentivada pelos pais, elaborou um método cientifico simples para testar ditos
médiuns que faziam o “Toque Terapêutico” (TT), isso nada mais é do que a
aplicação do passe, oficialmente instalado em hospitais americanos anos atrás.
A pergunta básica do estudo dela era: O TT funciona?
Ela tomou um caminho lógico de
experimentação, mas pelo fato dos médiuns não possuírem entendimento de como o
passe (ou TT) funciona de fato, e desconhecerem seus limites, esses “médiuns”
afirmavam terem o poder de sentir a energia do corpo das pessoas, assim como
emitir de seus também.
A proposta de Emily era
“cegar" as médiuns e estas colocariam suas mãos espalmadas para cima,
então a jovem Emily selecionaria/escolheria, de forma aleatória, uma das mãos
para colocar a sua a uma distância de aproximadamente 30 cm, a fim de evitar
que o calor do corpo indicasse (ou induzisse falsamente) qual mão da médium ela
teria escolhido para o teste. As médiuns tinham simplesmente que dizer qual das
suas mãos estava captando a energia da menina (esquerda ou direita).
O experimento foi um sucesso,
para os céticos!
Os médiuns acertaram cerca de
44%, ou seja, algo esperado para o acaso, uma vez que haviam somente duas
opções (esquerda ou direita).
Isso demonstrou que os médiuns
estavam totalmente iludidos.
Houve erro ou falha no método?
Absolutamente não! Infelizmente não houve, pois o erro estava na crença de que
isso era possível de ocorrer, gerando uma péssima imagem para o espiritismo e principalmente
para o potencial do passe, algo que não tem nada a ver com uma crença
descabida.
Emily foi condecorada pela
iniciativa e o espiritismo/misticismo, de modo geral, ridicularizado no meio
cientifico, acadêmico e social, exatamente porque a crença e fé cega não
limitaram ou compreendiam o fenômeno. No exemplo citado não temos caso de
fraude mas sim de ignorância absoluta por parte dos praticantes.
Em outras pesquisas com médiuns,
por exemplo, em eventos de cartas psicografadas publicamente ou “cartas
consoladoras”, um estudo ainda não publicado[2] revela
que a grande dificuldade dos pesquisadores na atualidade é o fácil acesso a
internet, buscamos investigar alguns médiuns e verificar como ocorrem as
fraudes e, por outro lado, onde se fixam os detalhes do verdadeiro médium.
Primeiramente é importante
compreender que, devido ao fácil acesso à internet, é praticamente impossível
garantir que um médium não fraude, até porque é muito fácil de se obter dados
de pessoas já falecidas, principalmente com o uso das redes sociais e banco de
dados. Em casos raros é possível se ter maiores garantias da genuinidade mediúnica
quando surge uma informação relevante e muito particular (esse foi o caso
citado no artigo que passa por revisão por pares).
Contudo, na atualidade, não há outro caminho senão um teste controlado
com o médium, onde ele basicamente faria uma sessão dentro do seu modus operandi, ou seja, atuaria da
mesma forma só que as famílias envolvidas na sessão seriam escolhidas por
pesquisadores ou um grupo a parte.
Como ocorrem as
fraudes?
As fraudes podem ocorrer
basicamente de duas formas: a primeira é com entrevistas às famílias.
Geralmente, sem perceber, as famílias acabam fornecendo dados e detalhes que
posteriormente vem a surgir nas cartas psicografadas. Os médiuns que aplicam
essa técnica, normalmente não psicografam a carta na mesma sessão, a fim de não
ficar tão evidente, esperando que os pais retornem em outros momentos. Como
fator colaborador, o médium entrevista outras famílias e não é incomum surgirem
casos onde grupos de famílias vão até o evento mediúnico devido a um acidente
coletivo ou que possuam ralação parental.
Dessa forma já é possível se
obter dados suficientes para “construir” uma carta; some a isso uma
“pitada" de informações genéricas lógicas, algo que pareça pessoal mas é
redundante, por exemplo: “mamãezinha, por vezes fico aqui sofrendo ao ver você
olhando para aquela foto onde estamos abraçados”, em qual caso isso não ocorre?
Se uma carta é fraudulenta, uma
informação desse nível não possui limite de maldade, onde o fraudador usa do
sofrimento alheio para obter algum tipo de benefício e facilidade pela ânsia e dor
do familiar.
A segunda, que pode ou não ser
associada à primeira, é a que mais impressiona. Como uma espécie de show, o
médium (sem pegar qualquer nome ou pedido das pessoas presentes), começa a
escrever uma carta atrás da outra, então depois do “momento mediúnico” o médium
começa a ler, uma a uma, e as pessoas que se identificam com o texto aparecem
aos prantos. São famílias desesperadas, mães prestes a suicídios por terem
perdido seus filhos que estão lá e nem percebem do novo golpe que sofrem, só
que dessa vez, da mentira. Esse tipo de fraude ocorre de maneira discreta.
Sem perceber várias famílias
ficam focadas em receber noticias e daí compartilham ou participam de momentos
(ou movimentos) sociais na internet demonstrando seu interesse. Elas acabam sendo
alvos desses oportunistas que acompanham na mídia social suas futuras vítimas.
Além dessas pessoas
“indefesas" ocorre a técnica do “caso aleatório”, ou seja, o fraudador
procura por eventos trágicos na região onde irá fazer a sessão e elabora uma
carta, a única diferença é que tal mensagem fica “ao chute”, isto é, a carta
surge na sessão, se por um acaso a pessoa não compareceu, então foi o espirito
(dentre as centenas de mães sofredoras) que veio a deixar uma mensagem para ser
entregue em outro momento à família desinteressada. Se, por outro lado, a
família está presente, o poder de convencimento é maior ainda, uma vez que não
tinham avisado ninguém ou comentado que iriam ao evento. Isto surte um poder
fenomenal incrível, dando maior credibilidade aparente ao médium.
Geralmente tal fraude está
associada a detalhes muito convincentes, parecendo que o espirito quer
efetivamente demonstrar quem ele é e usa de todo o “poder” do médium para
garantir isso. Informações tais como CPF, RG, telefone, endereço ou datas muito
específicas surgem aos montes, pena que o público leigo não imagina que tais
dados são extremamente raros de ocorrer e geralmente aparecem em médiuns mecânicos
(então a letra teria que ser a mesma) ou em médiuns com uma vidência muito
rara.
Nesse "segundo caso",
os médiuns acabam sendo desmascarados quando ocorre conflito de dados ou quando
eles acidentalmente se enganam ou erram. Nomes ou apelidos desconhecidos, endereços
errados na internet, ligação parental incorreta são os pontos chaves que podem
alertar os pesquisadores (e familiares) a detectar uma possível fraude.
É oportuno comentar que, tudo isso necessariamente deve estar
associado a (no mínimo) um dos 3 itens “pilares" das fraudes, ou seja,
ganho financeiro, ego e crença exacerbada. Em geral médiuns envolvidos com as
fraudes vendem seus livros nas sessões, algo que lhes rende ganhos financeiros
(chegando a mais de R$5.000,00 por evento), nesses casos geralmente eles não
possuem custos uma vez que grupos de familiares organizam tudo e pagam-lhes as
passagem e estadia durante o “show”.
E os médiuns
verdadeiros?
Infelizmente esses se tornam
vítimas também, mas dessa vez da sua imagem e seu trabalho honesto.
É um tanto difícil de separar os
resultados de ambos, pois um médium verdadeiro vai reproduzir exatamente o
mesmo “material" (cartas) que os fraudadores, sendo praticamente impossível
de distinguir entre um e outro. A única forma para se ter certeza são os
experimentos controlados, ficando assim o verdadeiro médium “certificado" de
sua honestidade.
É triste termos de chegar a esse
ponto, mas por “maus médiuns” os bons acabam tendo que pagar o preço de provar
sua honestidade.
Algum se propõe ao teste?
[1] Revista
Ciência Espírita - Dezembro/2016
[2] O estudo está passando por uma revisão por pares e será
publicado em edição futura da Revista Ciência Espirita.
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