Nascido em Leiria, Portugal, a
16 de novembro de 1873, e desencarnado a 8 de novembro de 1950. O Coronel José
Augusto Faure da Rosa foi um dos mais notáveis espíritas de Portugal.
Cursou a Escola do Exército e
foi promovido a Alferes em 1897. Além das suas atividades militares, foi
professor do Liceu, primeiramente em Leiria e depois em Lisboa. Nessa última
cidade assumiu numerosos compromissos, tendo-se dedicado ao jornalismo e ao teatro.
Traduziu do inglês, em parceria com Henrique Garland, duas peças intituladas
"Bebê e Totó" e "A Doença da Mama", ambas representadas no
teatro do Ginásio, em 1905.
Nessa época, já com cinco
filhas, deparando-se com a necessidade de ampliar os seus recursos econômicos,
acedeu ao convite de embarcar para a Índia, onde prestou relevantes serviços durante
18 anos. Ali desempenhou vários cargos, dentre eles o de Governador de Damão,
Chefe do Estado-Maior do Quartel General do Governo Geral da Índia, Administrador
das matas de Goa, de Praganã e de Nagar-Avely e, nesses últimos territórios,
Comandante Militar e Administrador Civil, atividades que exerceu com raro
descortino e elevado senso de responsabilidade.
Efetuou, com muito êxito,
ensaios da cultura da borracha e outros importantes estudos que legou à
posteridade através das monografias: "Memória da Cultura da Borracha em
Goa" (1908) e "Memória da Ensilagem do Capim, em Goa" (1909).
Na campanha do Timor, em 1912,
comandou a coluna de operação de Oeste. No desempenho de ação nessa campanha, foi
elogiado pelo Comandante Geral Filomeno de Câmara, no seu
"Relatório", pois Faure da Rosa, contrariando ordens superiores se
recusou a separar, entre os prisioneiros, as mulheres e filhos do seu chefe de
família, revelando assim elevado espírito humanista.
Terminou a sua carreira no
Estado da Índia em 1920, quando regressou a Portugal. Em 1922 é nomeado
Secretário-Geral do Governo de Manica e Sofala e encarregado do governo do
mesmo território, após o que, em 1925, regressou definitivamente à Metrópole.
Como publicista, as suas
qualidades de estudioso invulgar revelaram-se no decorrer dos dois anos
seguintes, publicando numerosos artigos sobre Cooperativismo, principalmente no
jornal "O Povo".
Possuía as medalhas de prata do
Valor Militar (com palma), de ouro de Comportamento Exemplar e outra da
Campanha. Posteriormente a 1926 foi convidado para o cargo de Governador-Geral
de Angola, que recusou.
A desencarnação de uma de suas
filhas, em 1927, levou-o ao desespero, tendo abandonado toda a sua atividade
criadora no campo do Cooperativismo, passando a dedicar-se exclusivamente ao
estudo do Espiritismo, ao serviço do qual colocou toda a sua inteligência e
dedicação excepcional.
Proferiu grande número de
conferências sobre a Doutrina dos Espíritos, uma das quais em réplica a um
conferencista belga que fez uma palestra no Teatro São Luís. Essa conferência
de Faure da Rosa foi nomeada "Em Defesa do Espiritismo" e redundou numa
apoteose, tendo sido realizada no Cinema Condes, com a casa completamente
lotada de ilustres nomes da época, médicos, advogados, engenheiros,
industriais, comerciantes, artistas e outras pessoas de renome.
Sobre a personalidade do Coronel
Faure da Rosa, escreveu Francisco de Melo e Noronha uma carta lida por ocasião da
realização da homenagem póstuma que lhe foi prestada no transcurso do primeiro
aniversário de sua desencarnação.
Justificadíssima é a
homenagem rendida neste Centro, prestimoso e radiante, comemorando o primeiro
aniversário da data em que desencarnou do corpo material o Espírito lúcido do nosso
distinto confrade Coronel Faure da Rosa.
Tenho a consciência
de poder defini-lo perfilhando as expressões de Pirro acerca de um romano
exemplo: "Ille est Fabricius, qui dificilius ab honestate, quam sob a
curou suo, avert potest". De fato, digna assistência, mais facilmente o
sol se desviaria do seu curso do que ele do caminho da honra. Abraçou a
carreira militar, serviu a Pátria na metrópole e no além-ultramarino, e,
imácula, envergou sempre a farda, sem quebranto respeitou sempre o seu
juramento de soldado.
E assim exalou o
derradeiro alento em sua existência contemporânea. Assim a sua alma, depurada,
transpondo o véu, terá agora no mundo inefável o galardão de bem merecida glória.
Onde, porém, Faure
da Rosa atingiu proporções peregrinas e vinculou o nome com prestígio
indelével, foi entre nós, neste meio de estudo e ascese, nesta atmosfera de
razão, experiência e fraternidade.
Em suas linhas
fisiológicas transparecia a bondade que o seu trato não desmentia e neste
revelava-se uma educação fina e esmerada, que logo no início de nossas relações
pessoais me despertou aberta simpatia.
E quando, um dia, a
empolgante convite de Sua Exa., então presidindo à Federação Espírita
Portuguesa, ali realizei uma conferência, o saudoso Coronel informara-me, em
carta prévia, que, para me evitar o relento da noite na travessia do Tejo, na
margem esquerda do qual resido, marcara para mais cedo a hora habitual,
fazendo, nestes termos, uma alteração de delicada gentileza, que registro muito
grato.
Apóstolo preeminente
do Espiritismo, que versava com desassombro, vasta erudição, lógica impecável e
hermenêutica resistente, é incontestável que prestou à causa serviços de
autêntica invulgaridade, sendo os seus discursos, alocuções e conferências, preciosas
lições e os seus labores impressos magníficas fontes de consulta.
Pode-se dizer,
peremptoriamente, que Faure da Rosa nunca escreveu sobre o joelho ou falou em
ciência e consciência.
Chegou a ser
exaustivo até aos mínimos pormenores, e também não foi omisso de elegância no
verbo de grafia e oral.
Em certa maneira
participou da índole e estrutura psíquica de Allan Kardec, sem se diminuir
aliás no brilho anímico e no valor intrínseco de sua própria personalidade.
Faure da Rosa foi presidente da
Federação Espírita Portuguesa, cargo que soube desempenhar com dignidade e de
modo assaz eficiente.
[1] Personagens do
Espiritismo - Antônio de Souza Lucena
e Paulo Alves Godoy
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