segunda-feira, 10 de julho de 2017

CEL. JOSÉ AUGUSTO FAURE DA ROSA[1]


 

Nascido em Leiria, Portugal, a 16 de novembro de 1873, e desencarnado a 8 de novembro de 1950. O Coronel José Augusto Faure da Rosa foi um dos mais notáveis espíritas de Portugal.
Cursou a Escola do Exército e foi promovido a Alferes em 1897. Além das suas atividades militares, foi professor do Liceu, primeiramente em Leiria e depois em Lisboa. Nessa última cidade assumiu numerosos compromissos, tendo-se dedicado ao jornalismo e ao teatro. Traduziu do inglês, em parceria com Henrique Garland, duas peças intituladas "Bebê e Totó" e "A Doença da Mama", ambas representadas no teatro do Ginásio, em 1905.
Nessa época, já com cinco filhas, deparando-se com a necessidade de ampliar os seus recursos econômicos, acedeu ao convite de embarcar para a Índia, onde prestou relevantes serviços durante 18 anos. Ali desempenhou vários cargos, dentre eles o de Governador de Damão, Chefe do Estado-Maior do Quartel General do Governo Geral da Índia, Administrador das matas de Goa, de Praganã e de Nagar-Avely e, nesses últimos territórios, Comandante Militar e Administrador Civil, atividades que exerceu com raro descortino e elevado senso de responsabilidade.
Efetuou, com muito êxito, ensaios da cultura da borracha e outros importantes estudos que legou à posteridade através das monografias: "Memória da Cultura da Borracha em Goa" (1908) e "Memória da Ensilagem do Capim, em Goa" (1909).
Na campanha do Timor, em 1912, comandou a coluna de operação de Oeste. No desempenho de ação nessa campanha, foi elogiado pelo Comandante Geral Filomeno de Câmara, no seu "Relatório", pois Faure da Rosa, contrariando ordens superiores se recusou a separar, entre os prisioneiros, as mulheres e filhos do seu chefe de família, revelando assim elevado espírito humanista.
Terminou a sua carreira no Estado da Índia em 1920, quando regressou a Portugal. Em 1922 é nomeado Secretário-Geral do Governo de Manica e Sofala e encarregado do governo do mesmo território, após o que, em 1925, regressou definitivamente à Metrópole.
Como publicista, as suas qualidades de estudioso invulgar revelaram-se no decorrer dos dois anos seguintes, publicando numerosos artigos sobre Cooperativismo, principalmente no jornal "O Povo".
Possuía as medalhas de prata do Valor Militar (com palma), de ouro de Comportamento Exemplar e outra da Campanha. Posteriormente a 1926 foi convidado para o cargo de Governador-Geral de Angola, que recusou.
A desencarnação de uma de suas filhas, em 1927, levou-o ao desespero, tendo abandonado toda a sua atividade criadora no campo do Cooperativismo, passando a dedicar-se exclusivamente ao estudo do Espiritismo, ao serviço do qual colocou toda a sua inteligência e dedicação excepcional.
Proferiu grande número de conferências sobre a Doutrina dos Espíritos, uma das quais em réplica a um conferencista belga que fez uma palestra no Teatro São Luís. Essa conferência de Faure da Rosa foi nomeada "Em Defesa do Espiritismo" e redundou numa apoteose, tendo sido realizada no Cinema Condes, com a casa completamente lotada de ilustres nomes da época, médicos, advogados, engenheiros, industriais, comerciantes, artistas e outras pessoas de renome.
Sobre a personalidade do Coronel Faure da Rosa, escreveu Francisco de Melo e Noronha uma carta lida por ocasião da realização da homenagem póstuma que lhe foi prestada no transcurso do primeiro aniversário de sua desencarnação.
Justificadíssima é a homenagem rendida neste Centro, prestimoso e radiante, comemorando o primeiro aniversário da data em que desencarnou do corpo material o Espírito lúcido do nosso distinto confrade Coronel Faure da Rosa.
Tenho a consciência de poder defini-lo perfilhando as expressões de Pirro acerca de um romano exemplo: "Ille est Fabricius, qui dificilius ab honestate, quam sob a curou suo, avert potest". De fato, digna assistência, mais facilmente o sol se desviaria do seu curso do que ele do caminho da honra. Abraçou a carreira militar, serviu a Pátria na metrópole e no além-ultramarino, e, imácula, envergou sempre a farda, sem quebranto respeitou sempre o seu juramento de soldado.
E assim exalou o derradeiro alento em sua existência contemporânea. Assim a sua alma, depurada, transpondo o véu, terá agora no mundo inefável o galardão de bem merecida glória.
Onde, porém, Faure da Rosa atingiu proporções peregrinas e vinculou o nome com prestígio indelével, foi entre nós, neste meio de estudo e ascese, nesta atmosfera de razão, experiência e fraternidade.
Em suas linhas fisiológicas transparecia a bondade que o seu trato não desmentia e neste revelava-se uma educação fina e esmerada, que logo no início de nossas relações pessoais me despertou aberta simpatia.
E quando, um dia, a empolgante convite de Sua Exa., então presidindo à Federação Espírita Portuguesa, ali realizei uma conferência, o saudoso Coronel informara-me, em carta prévia, que, para me evitar o relento da noite na travessia do Tejo, na margem esquerda do qual resido, marcara para mais cedo a hora habitual, fazendo, nestes termos, uma alteração de delicada gentileza, que registro muito grato.
Apóstolo preeminente do Espiritismo, que versava com desassombro, vasta erudição, lógica impecável e hermenêutica resistente, é incontestável que prestou à causa serviços de autêntica invulgaridade, sendo os seus discursos, alocuções e conferências, preciosas lições e os seus labores impressos magníficas fontes de consulta.
Pode-se dizer, peremptoriamente, que Faure da Rosa nunca escreveu sobre o joelho ou falou em ciência e consciência.
Chegou a ser exaustivo até aos mínimos pormenores, e também não foi omisso de elegância no verbo de grafia e oral.
Em certa maneira participou da índole e estrutura psíquica de Allan Kardec, sem se diminuir aliás no brilho anímico e no valor intrínseco de sua própria personalidade.
Faure da Rosa foi presidente da Federação Espírita Portuguesa, cargo que soube desempenhar com dignidade e de modo assaz eficiente.




[1] Personagens do Espiritismo - Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy

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