Senhorita Désirée Godu, de
Hennebon (Morbihan)
Pedimos aos nossos leitores que se reportem ao artigo do mês passado sobre os Médiuns Especiais [publicado neste blog em 16/05/2017]; melhor compreenderão os ensinamentos que vamos dar sobre a Srta. Désirée Godu, cuja faculdade oferece um caráter da mais notável especialidade. Há cerca de oito anos, ela passou sucessivamente por todas as fases da mediunidade; a princípio, médium de efeitos físicos muito poderosa, tornou-se, sucessivamente, médium vidente, audiente, falante, escrevente e, finalmente, todas as suas faculdades se concentraram na cura de doentes, que parece ser a sua missão, missão que desempenha com um devotamento e uma abnegação sem limites. Deixemos falar a testemunha ocular, o Sr. Pierre, professor em Lorient, que nos transmite esses detalhes em resposta às perguntas que lhe dirigimos:
Pedimos aos nossos leitores que se reportem ao artigo do mês passado sobre os Médiuns Especiais [publicado neste blog em 16/05/2017]; melhor compreenderão os ensinamentos que vamos dar sobre a Srta. Désirée Godu, cuja faculdade oferece um caráter da mais notável especialidade. Há cerca de oito anos, ela passou sucessivamente por todas as fases da mediunidade; a princípio, médium de efeitos físicos muito poderosa, tornou-se, sucessivamente, médium vidente, audiente, falante, escrevente e, finalmente, todas as suas faculdades se concentraram na cura de doentes, que parece ser a sua missão, missão que desempenha com um devotamento e uma abnegação sem limites. Deixemos falar a testemunha ocular, o Sr. Pierre, professor em Lorient, que nos transmite esses detalhes em resposta às perguntas que lhe dirigimos:
A Srta. Désirée Godu, jovem
de vinte e cinco anos, pertence a uma família muito distinta, respeitável e
respeitada de Lorient; seu pai é um antigo militar, cavaleiro da Legião de
Honra, e sua mãe, mulher paciente e laboriosa, ajuda a filha o quanto pode em
sua penosa, mas sublime missão. Há mais ou menos seis anos que essa família
patriarcal dá esmolas de remédios prescritos e, frequentemente, daquilo que é
necessário aos curativos, tanto aos ricos quanto aos pobres que a procuram.
Suas relações com os Espíritos começaram no tempo das mesas girantes; então ela
residia em Lorient e, durante meses, não se falava senão das maravilhas
operadas pela Srta. Godu com as mesas sempre complacentes e dóceis sob suas
mãos. Era um privilégio ser admitido às sessões de mesa em sua casa e lá não
entrava quem quisesse. Simples e modesta, não buscava pôr-se em evidência.
Entretanto, como bem podeis
imaginar, a maledicência não a poupou.
O próprio Cristo foi
injuriado, embora só fizesse e ensinasse o bem. É de admirar que ainda se
encontrem fariseus, quando ainda há homens que em nada creem? É a sina de todos
quantos mostram uma superioridade qualquer serem alvo dos ataques da
mediocridade invejosa e ciumenta. Nada lhes custa para derrubar aquele que
ergue a cabeça acima do vulgo, nem mesmo o veneno da calúnia; o hipócrita
desmascarado jamais perdoa. Mas Deus é justo e quanto mais maltratado for o
homem de bem, tanto mais gloriosa será a sua reabilitação e mais humilhante a
vergonha de seus inimigos: a posteridade o vingará.
Aguardando sua verdadeira
missão que, conforme se diz, deve começar dentro de dois anos, o Espírito que a
guia propôs-lhe a de curar todos os tipos de doenças, o que ela aceitou.
Para comunicar-se, ele
agora se serve de seus órgãos, muitas vezes à sua revelia, em vez das batidas
insípidas das mesas. Quando é o Espírito que fala, o timbre de sua voz já não é
o mesmo e os seus lábios não se movem.
A Srta. Godu recebeu apenas
uma instrução comum, mas a parte principal de sua educação não devia ser obra
dos homens. Quando consentiu em ser médium curador, o Espírito procedeu
metodicamente para a sua instrução, sem que ela não visse outra coisa além de
mãos. Uma misteriosa personagem lhe punha sob os olhos livros, gravuras ou
desenhos, e lhe explicava todo o funcionamento dos órgãos do corpo humano, as propriedades
das plantas, os efeitos da eletricidade etc.. Ela não é sonâmbula; ninguém a
adormece. É completamente desperta que penetra os doentes com o olhar. O
Espírito lhe indica os remédios, que ela geralmente prepara e aplica, cuidando
e pensando as mais repugnantes feridas com a dedicação de uma irmã de caridade.
Começaram por lhe dar a
composição de certos unguentos que curavam em poucos dias os panarícios e as
feridas de pequena gravidade, a fim de lentamente habituá-la a ver, sem muita
repulsa, todas as horrendas e repugnantes misérias que deviam aparecer aos seus
olhos, pondo a finura e a delicadeza de seus sentidos às mais rudes provas. Não
imaginemos nela encontrar um ser sofredor, doentio e fraco; desfruta do mens sana in corpore sano em toda a sua plenitude;
longe de cuidar dos doentes por meio de um auxiliar, em tudo ela põe a própria
mão, dando conta de tudo, graças à sua robusta constituição. Sabe inspirar aos
doentes uma confiança sem limites, acha no coração consolações para todas as
dores, tendo à mão remédios para todos os males. É de um caráter naturalmente alegre
e jovial. Sua alegria é contagiante como a fé que a anima e atua
instantaneamente sobre os doentes. Vi muitos se retirarem com os olhos cheios
de lágrimas, doces lágrimas de admiração, de reconhecimento e de alegria. Todas
as quintas-feiras, dia de feira, e domingos, das seis horas da manhã até cinco
ou seis horas da tarde, a casa não se esvazia. Para ela, trabalhar é orar, e
disso se desincumbe com consciência. Antes de ter de tratar os doentes passava
dias inteiros confeccionando roupas para os pobres e enxovais para os
recém-nascidos, empregando os meios mais engenhosos para que os presentes
chegassem ao destino anonimamente, de sorte que a mão esquerda sempre ignorasse
o que dava a direita. Possui grande número de certificados autênticos, concedidos
por eclesiásticos, autoridades e pessoas notáveis, atestando curas que, em
outros tempos, teriam sido consideradas miraculosas.”
Sabemos, por pessoas dignas de
fé, que não há o menor exagero no relato que acabamos de transcrever e temos a
satisfação de poder assinalar o digno emprego que a Srta. Godu faz da excepcional
faculdade de que foi dotada. Esperamos que estes elogios, que temos o prazer de
reproduzir no interesse da Humanidade, não alterem sua modéstia, que dobra o
valor do bem, e que ela não escute as sugestões do espírito do orgulho. O
orgulho é o escolho de um grande número de médiuns e vimos muitos cujas faculdades
transcendentes se aniquilaram ou perverteram, desde que deram ouvidos a este
demônio tentador. As melhores intenções não dão garantia contra os embustes e é
precisamente contra os bons que dirige as suas baterias, pois se satisfaz em
fazê-los sucumbir e mostrar que ele é o mais forte; insinua-se no coração com
tanta habilidade que muitas vezes o enche sem que o suspeite.
Assim, o orgulho é o último
defeito que confessamos a nós mesmos, semelhante a essas moléstias mortais que
se tem em estado latente e sobre cuja gravidade o doente se ilude até o último momento.
Eis por que é tão difícil erradicá-lo.
A partir do momento que um
médium desfrute de uma faculdade, por menos notável que seja, é procurado,
elogiado, adulado. Para ele isso é uma terrível pedra de toque, pois acaba se julgando
indispensável, se não for essencialmente simples e modesto. Infeliz dele,
sobretudo se julgar que somente ele poderá entrar em contato com os Espíritos
bons. Custa-lhe reconhecer que foi enganado e, muitas vezes, escreve ou ouve
sua própria condenação, sua própria censura, sem acreditar que a ele seja dirigida.
Ora, é precisamente essa cegueira que o aprisiona. Os Espíritos enganadores se
aproveitam para o fascinar, o dominar, o subjugar cada vez mais, a ponto de lhe
fazerem tomar por verdades as coisas mais falsas; é assim que nele se perde o
dom precioso, que não havia recebido de Deus senão para se tornar útil aos semelhantes,
já que os Espíritos bons sempre se afastam daqueles que preferem escutar os
maus. Aquele a quem a Providência destina a ser posto em evidência o será pela
força das coisas, e os Espíritos bem saberão tirá-lo da obscuridade, se isso
for útil, ao passo que, muitas vezes, quanta decepção para quem é atormentado
pela necessidade de fazer falar de si! O que sabemos do caráter da Srta. Godu
dá-nos a firme confiança de que ela se encontra acima dessas pequenas fraquezas
e, assim, jamais comprometerá, como tantos outros, a nobre missão que recebeu.
[1]
Revista Espírita – Março/1860 – Allan Kardec
Todas as atividades e trabalhos numa casa espírita são importantes e valiosos. E realizá-los com humildade é mais importante ainda. O orgulho é o nosso grande inimigo, é verdade.
ResponderExcluirMaria