Antônio Carlos Navarro
Há alguns anos, conversando com
uma senhora de nossas relações de amizade, ouvimos o seu relato acerca das
inúmeras vezes em que ela via, pela vidência mediúnica, o seu marido, em
espírito, visitando o lar enquanto se encontrava a quilômetros em viagem profissional.
As visões aconteciam durante as
madrugadas, quando acordada ela via o espírito do marido circulando pela casa,
porém sem travar conversação, e sem ele ter consciência do fato quando
questionado a respeito.
A Doutrina Espírita explica, detalhadamente,
a ocorrência, já que é um acontecimento muito comum entre os encarnados, como
nos ensinam os Espíritos Superiores:
O Espírito encarnado permanece
espontaneamente no corpo?
– É como perguntar se o prisioneiro se alegra com a prisão. O Espírito
encarnado aspira sem cessar à libertação, e quanto mais o corpo for grosseiro,
mais deseja desembaraçar-se dele[2].
Durante o sono, a alma repousa
como o corpo?
– Não, o Espírito nunca fica inativo. Durante o sono, os laços que o
prendem ao corpo se relaxam e, como o corpo não precisa do Espírito, ele
percorre o espaço e entra em relação mais direta com outros Espíritos[3].
Mas é no capítulo oito da
segunda parte de O Livro dos Espíritos,
sob o título “Da Emancipação da Alma”, que encontramos as explicações
detalhadas sobre o assunto[4].
Na oportunidade Allan Kardec
questiona a Espiritualidade Superior se é caso de “dupla existência simultânea:
a do corpo, que nos dá a vida de relação exterior, e a da alma, que nos dá a
vida de relação oculta”, obtendo como resposta que “no estado de liberdade, a
vida do corpo cede lugar à vida da alma. Porém, não são, propriamente falando,
duas existências; são, antes, duas fases da mesma existência, uma vez que o
homem não vive duplamente”.
Esclarecem os Espíritos que
“duas pessoas que se conhecem podem se visitar durante o sono, e muitas outras
que acreditam não se conhecerem também se reúnem e conversam.
Podeis ter, sem dúvida, amigos
num outro país. O fato de ir se encontrar, durante o sono, com amigos,
parentes, conhecidos, pessoas que podem ser úteis, é tão frequente que o fazeis
todas as noites”, e a “utilidade dessas visitas noturnas, uma vez que não fica
lembrança de nada, é muito comum disso ficar uma intuição, ao despertar, e é
frequentemente a origem de certas ideias que surgem espontaneamente”.
Sobre a possibilidade de o homem
poder provocar essas visitas espirituais por sua vontade dizendo ao dormir:
“esta noite quero me encontrar em Espírito com tal pessoa, falar com ela e
dizer-lhe alguma coisa”, o esclarecimento que se segue é que “o homem dorme, o
Espírito se liberta e o que o homem tinha programado, o Espírito está bem longe
de seguir, porque os desejos e vontades do homem nem sempre são os mesmos do
Espírito, quando desligado da matéria. Isso acontece com os homens
espiritualmente bastante elevados. Há os que passam de outra forma essa sua
existência espiritual: entregam-se às suas paixões ou permanecem na
inatividade. Pode acontecer que, considerando a razão da visita, o Espírito vá
mesmo visitar as pessoas que deseja; mas a simples vontade do homem, acordado,
não é razão para que o faça”.
Outra possibilidade que se
apresenta é que vários “espíritos encarnados podem se reunir” porque “os laços
de amizade, antigos ou novos, fazem com que se reúnam, frequentemente, diversos
Espíritos, felizes de estarem juntos”.
A questão se volta para a necessidade
de dominarmos nossas paixões e vícios, trabalhando para eliminá-los, e também
de revermos quais são nossos interesses, mundanos ou espirituais, para podermos
aproveitar ao máximo as oportunidades dos momentos de liberdade que o nosso
espírito tem durante o sono físico, preparando-nos, paulatinamente, para o
retorno definitivo à Pátria Maior, que é de onde viemos e mais uma vez para
onde retornaremos após o término desta vida física.
Pensemos nisso.
[2] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 400.
[3] Idem, item 401.
[4] Idem, itens 413 a 418.
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