sexta-feira, 10 de março de 2017

O Grande Aliado[1]



Ermance Dufaux

 
“Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho (...)”.

(S. Mateus, 5:25)

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – Cap. X, item 6
 

“Matar o homem velho”, “extinguir sombras”, “vencer o passado” – expressões que comumente são usadas para o processo da mudança interior.
Contudo, todos sabemos, à luz dos princípios universais das Leis Naturais, que não existe morte ou extinção, e sim transformação. Jamais matamos o “homem velho”, podemos sim conquista-lo, renová-lo, educa-lo.
Não eliminamos nada do que fomos um dia, transformamos para melhor.
Ao invés de ser contra o que fomos, precisamos aprender uma relação pacífica de aceitação sem conformismo a fim de fazer do “homem velho” um grande aliado no aperfeiçoamento.
Portanto, as expressões que melhor significado apresentam para a tarefa íntima de melhoria espiritual serão: “harmonia com a sombra” e “conquistar o passado”, que redundam em uma das mais belas e sublimes palavras dos dicionários humanos: educação.
Nossas imperfeições são balizas demarcatórias do que devemos evitar, um aprendizado que pode ser aproveitado para avançarmos. A postura de “ser contra” o passado é um processo de negação do que fomos, do qual a astúcia do orgulho aproveita para encobrir com ilusões acerca de nossa personalidade.
O ensino do Evangelho reconcilia-te depressa com teu adversário enquanto estás a caminho com ele é um roteiro claro. Essa reconciliação depende da nossa disposição de encarar a realidade sobre nós próprios, olhar para o desconhecido mundo interior, vencer as “camadas de orgulho do ego”, superar as defesas que criamos para esconder as “sombras” e partir para uma decidida e gradativa investigação sobre o mundo das reações pessoais, através da autoanálise, sem medo do que encontraremos.
Fazemos isso enquanto estamos no caminho carnal ou então as Leis Imutáveis da vida espiritual levar-nos-ão ao “espelho da verdade”, nos “camarins da morte”, no qual teremos que minar as imagens reais daquilo que somos, despidos das ilusões da matéria. Postergar essa tarefa é desamor e invigilância. A desencarnação nos aguarda a todos na condição do mecanismo divina que nos devolve à realidade.
Reformar é formar novamente, dar nova forma. Reforma íntima nada mais é que dar nova direção aos valores que já possuímos e corrigir deficiências cujas raízes ignoramos ou não temos motivação para mudar. É dar nova direção a qualidades que foram desenvolvidas na horizontalidade evolutiva, que conduziram o homem às conquistas do mundo transitório. Agora, sob a tutela da visão imortalista, compete-nos dirigir os valores que amealhamos na verticalidade para Deus, orientando as forças morais para as vitórias eternas nos rumos da elevação espiritual pelo sentimento.
Que dizer da sementeira atacada por pragas diversas? Será incinerada a pretexto de renovação e cura?
Assim é conosco. O passado – nosso plantio – está arquivado como experiência intransferível e eterna, não há como “matar” o passado, porém, podemos vitaliza-lo com novos e mais ricos potenciais do Espírito na busca do encontro com o ser Divino, cravado na intimidade profunda de nós próprios. Não há como extinguir o que aconteceu, todavia, podemos travar uma relação sadia e construtora de paz com o pretérito.
Reforma íntima não pode ser entendida como a destruição de algo para construção de algo novo, dentro de padrões preestabelecidos de fora para dentro, e sim como a aquisição da consciência de si para aprender a ser, a existir, a se realizar como criatura rica de sentidos e plena de utilidade perante a vida.
Carl Gustav Jung, o pai da psicologia analítica, asseverou: “Só aquilo que somos realmente tem o poder de curar-nos”.
É uma questão de aprender a ser. Somos um “projeto de existir” criados para a felicidade, compete-nos, pois, o dever individual de executar esse projeto, e isso só é possível quando escolhemos realizar e ser em plenitude através da conquista do “eu imaginário” em direção do “eu real”.
Existir, ser alguém, superar a “frustração do nada” é uma questão de sentimento e não de posses efêmeras ou estereótipos de puritanismo e vivência religiosa de fachada.
Imperfeições são nossos patrimônios. Serão transformadas, jamais exterminadas.
Interiorização é aprender a convivência pacífica e amorável com nossas mazelas. É aprender a conviver consigo mesmo através de incursões educativas a mundo íntimo, treinando o autoamor, aprendendo a gostar de si próprio para amar tudo o que existe em torno de nossos passos.
Enquanto usarmos de crueldade com nosso passado de erros não o conquistaremos em definitivo. A adoção de comportamentos radicais de violentação desenvolve o superficialismo dos estereótipos e a angustia da melhora – estados interiores improdutivos para a aquisição da consciência no autoconhecimento e no autotriunfo.
Interiorização é conquistar nossa “sombra”, elevando-se à condição de luz do bem para a qual fomos criados.
Portanto, esse adversário interior deve se tornar nosso grande aliado, sendo amavelmente “doutrinado” para servir ao luminoso ideal do homem lúcido e integral para o qual, inevitavelmente, todos caminhamos.

[1] Reforma Íntima sem Martírio – psicografado por Wanderley S. de Oliveira

2 comentários:

  1. "Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si mesmo; perdoar aos amigos é dar prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar que se melhora. Perdoai, pois, meus amigos, para que Deus vos perdoe. Porque, se fordes duros, exigentes, inflexíveis, se guardardes até mesmo uma ligeira ofensa, como quereis que Deus esqueça que todos os dias tendes grande necessidade de indulgência?" Evangelho Segundo o Espiritismo - Instruções dos espíritos - Perdão das ofensas.
    Sede indulgentes meus amigos, porque a indulgência acalma, corrige, enquanto o rigor desalenta, afasta e irrita.

    João

    Bispo de Bordeaux, 1862

    "Sede indulgentes meus amigos, porque a indulgência acalma, corrige, enquanto o rigor desalenta, afasta e irrita.

    João

    Bispo de Bordeaux, 1862

    "Sede indulgentes meus amigos, porque a indulgência acalma, corrige, enquanto o rigor desalenta, afasta e irrita."
    "Sede indulgentes para as faltas alheias, quaisquer que sejam; não julgueis com severidade senão as vossas próprias ações, e o Senhor usará de indulgência para convosco, como usastes para com os outros." Evangelho Segundo o Espiritismo - Instruções dos espíritos - A indulgência
    E o diálogo, conosco e com os outros, também ajuda na tarefa de transformar nossas imperfeições. Maria

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  2. não consegui enviar pelo email marialudo05@gmail.com

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