Maria Dolores veio ao mundo como
Maria de Carvalho Leite, na cidade sertaneja de Bonfim de Feira (BA), no dia 10
de setembro de 1900, filha de Hermenegildo Leite, escrivão da Prefeitura, e da
doméstica Balbina de Carvalho Leite. Em Bonfim passou a infância. Do casal
Hermenegildo e Balbina nasceram, com Dolores, três homens e duas mulheres. Os biógrafos,
sem exceção, desconheceram o fato de que a grande poetisa baiana possuía dotes
mediúnicos.
Em 1916, diplomou-se professora
pelo Educandário dos Perdões, considerada pelas colegas e professores como
adolescente prodígio, graças à rara inteligência.
A poesia, Dolores começou a
senti-la na cidade natal, ainda quase criança, a transformar-se, mais tarde, na
poetisa de bons versos que todos conhecemos.
Lecionou no Educandário dos
Perdões e no Ginásio Carneiro Ribeiro, em Salvador. Além disso, também
ministrava aulas particulares. Daí por que entendemos seu modo todo especial de
ensinar, por meio dos versos, às almas aflitas.
Seu Espírito não se limitou somente
aos versos. Ela tocava piano, pintava, gostava da costura e da arte culinária.
Humana por excelência, viveu desenvolvendo em si qualidades inatas.
Sua vida não poderia, porém, ser
somente flores: estava-lhe reservada uma prova de sofrimentos morais.
Casada com o médico Odilon
Machado, suportou o infeliz consórcio durante alguns anos, o qual se
interrompeu finalmente pela solução do desquite. Não houve filhos dessa união,
como nunca os teria Maria Dolores.
Em sua peregrinação, morou em
várias cidades da Bahia e foi em Itabuna que conheceu Carlos Carmine Larocca,
italiano radicado no Brasil, de quem se tornou companheira ajudando-o, ombro a
ombro, em suas atividades. Proprietário do Café Baiano e de uma tipografia
denominada A Época. Por ocasião da II Guerra Mundial, o Sr. Larocca foi
prisioneiro político devido à sua nacionalidade. Em 1947, mudou-se para
Salvador, onde Maria Dolores continuou com suas sessões mediúnicas.
Notamos em seus versos o quanto
sofrera, buscando algo que não encontrava: a sua complementação afetiva, tal
como fora planejado pela Providência, para que buscasse o Amor Maior, que ela
soube encontrar um dia: Jesus! Tanto sofrimento, contudo, não foi capaz de
torná-la indiferente ao sofrimento humano.
Na imprensa, falava dos direitos
humanos e do sofrimento dos menos felizes. Não foi compreendida: taxaram-na de
"comunista", pelo que teve de responder às acusações que lhe faziam,
pois fora a isso intimada.
Em menina, fora católica; em
adulta, o sofrimento fizera-lhe conhecer a Doutrina de Allan Kardec e veio a
consolação, a aceitação do sofrimento.
A dor que suportou a fez
conhecer o então combatido Espiritismo. De alma caridosa integrou-se à Legião
da Boa Vontade, fundada pelo saudoso Alziro Zarur. Era frequente ver-se Maria
Dolores dedicando-se aos sofredores dos bairros pobres da cidade de Salvador.
Afastando-se das lides literárias, Maria Dolores dedica-se, então, à caridade
infatigável, criando meninas, sonhando edificar o Lar das Meninas sem Lar.
Receando a apreciação da crítica
especializada, guardou para si sua obra poética durante muito tempo, segundo
confessa no prefácio do livro Ciranda da Vida, cuja renda possibilitou a
realização de seu antigo desejo. Com isso, Maria Dolores, que não fora mãe
biológica, tornava-se mãe espiritual de várias meninas, abrigando em seu
próprio lar crianças desvalidas, orientando e assistindo-as.
Sendo reconhecida na Capital
pela sua arte, passou a escrever nos jornais Diário de Notícias e O Imparcial sendo,
neste último, redatora-chefe da Página Feminina. Durante 13 anos, escreveu nos
jornais citados, mostrando o mundo de ternura que trazia dentro de si, com o
pseudônimo de Maria Dolores.
Apelidada pelos amigos e
familiares de Madô e Mariinha, era reconhecida pela simpatia e bondade com que
a todos cativava.
Fazia campanhas, prendas para os
bazares realizados em sua própria casa. Fundou um grupo que se reunia em sua
residência todas as semanas, quando saíam para distribuir, nos bairros carentes
escolhidos, farnéis, roupas, remédios... Chamavam-se As Mensageiras do Bem. No Natal, faziam campanhas e distribuíam
donativos assim como no Dia das Mães.
Dolores costurava enxovais,
vendia o que era seu ou os empenhava e, às vezes, contraía dívidas para desse
modo ajudar alguém. Uma de suas filhas adotivas relatou certa vez que, quando
ela desencarnou, alguém viera com joias que lhe pertenceram, as quais foram
dadas por ela para que se tornasse viável uma das campanhas que então se fazia.
No trabalho do Senhor, na
dedicação à causa evangélica, foi desenvolvendo diversas faculdades mediúnicas.
Isso a ajudou a suportar injúrias, como quando fora acusada de
"comunista", e outros sofrimentos que, em vez de abaterem-na,
elevavam-na.
Perdoando sempre por cima de
suas lágrimas, qual ensinou Jesus, trazia em si um grande sentido maternal e,
como não lhe foi dado o direito da maternidade, adotou seis meninas.
Carlos (o esposo) estava na
Itália quando Dolores adoeceu. A pneumonia a atacara de forma violenta. Antonieta
Bastos foi visitá-la com José e Faustino e, vendo seu estado dispneico e de
real abatimento, providenciaram o internamento no Hospital Português. Inúteis
foram, porém, os esforços médicos. Poucos dias depois, quatro ou cinco dias, em
27 de agosto de 1959, partiu de volta à Pátria Espiritual. Era 1h40 min. E,
como disse Mara, em sua crônica, Partiu-se o Guizo de Cristal. Nilza foi
avisar, imediatamente, Antonieta e Maria Alice. Levaram o corpo para a Casa de
Tia Sara − sede da LBV − e de lá partiu, com grande acompanhamento, para o
Campo Santo.
Numa carta escrita a Maria
Alice, Francisco Cândido Xavier narra o seguinte: Maria Dolores lhe aparecera
no dia 29 de março de 1964, bela e remoçada. As lágrimas vieram-me aos olhos,
de vê-la tão claramente junto a mim. Que emoção!
Dolores era alva, de cabelos e
olhos pretos, alegre e brincalhona, de estatura mediana e robusta de físico.
Desencarnara aos 59 anos, mas a sua lira continuou vibrando em benefício do
amor, da caridade e do perdão, o seu hino ao Senhor, não diferente dos hinos
que tocava e cantava cheia da alegria de servir.
Perguntaram a Chico Xavier qual
o primeiro poema que Maria Dolores escreveu por seu intermédio, e ele disse ser
o belíssimo Anseio de Amor, inserido
nas páginas de “Antologia da Espiritualidade”.
Desde então, ela nos envia,
antes pelas mãos abençoadas do médium mineiro e ainda por intermédio de Divaldo
Franco, suas páginas normalmente em forma de poesia e rimas, sendo muito comum
enviar as tradicionais mensagens das mães e do Natal, por ocasião dessas
comemorações.
Maria Dolores, a poetisa que
ressurgiu pelas mãos abnegadas de Francisco Cândido Xavier, quando encarnada
quase sempre engavetava os seus poemas. Em seu livro Ciranda da Vida ela diz o
porquê: O pavor à crítica, cujos apupos são uma das formas mais comuns em que
se extravasa a vaidade humana, tem-me feito recuar ante a possibilidade de
publicar os meus versos simplórios e passadistas. E, por isso, foi-se a
mocidade, chegou a velhice, e eles continuam a entulhar o fundo de velha
gaveta. Nunca tive jeito para versejá-lo moderno, atualizado até por alguns
poetas da velha guarda. Nem mesmo cheguei a tentá-lo. Agora, porém, com a
reforma espiritual que traçou um novo caminho para este meu fim de vida,
sinto-me disposta e capaz de enfrentar a crítica, porque este livro se destina,
com sua venda, a oferecer pequena ajuda a algumas instituições de caridade.
Despretensiosa a minha atitude. Mas sincera. Bem intencionada.
Não tardou, porém, e a poetisa
reaparece com seu iniludível estilo depois de uma existência inteira consagrada
ao próximo, compondo, sobretudo para os leitores espíritas, os mais belos
poemas de encorajamento e reconhecimento da excelsitude de Jesus.
Maria Dolores, a poetisa, ao longo de 20 séculos, sempre foi o fermento do pão da caridade , do amor e da justiça; é mais um apóstolo do Rabi da Galiléia.
ResponderExcluirPedro G.de Abreu