Sandro Fontana
Charles Drayton Thomas nasceu em
1868 e veio a falecer somente em 1953, aos 85 anos. Iniciou no meio religioso
seguindo os passos de seu pai, John Wesley Thomas, também reverendo da igreja
metodista da Inglaterra.
Embora Drayton atuasse no meio
religioso, acabou se vinculando ao Colégio de Teologia onde pôde se aprimorar
ao longo do tempo. Sentiu-se motivado a continuar as pregações dentro da
igreja, mesmo voltando-se para as pesquisas psíquicas, estas que lhe apontaram
um possível rumo que vinha a demonstrar a sobrevivência da alma após a morte do
corpo físico.
Tempos depois ele tornou-se
membro pesquisador da Society of Psychical Research (SPR) de Londres, onde
avançou com as pesquisas e teve por base o acesso a uma das médiuns mais
notáveis de sua história: Gladys Osborne Leonard.
Ele teve a oportunidade de fazer
mais de 500 experimentos com Osborne o que lhe deu mais convicção sobre a real
possiblidade da sobrevivência da alma.
Thomas chegou a fazer alguns dos
experimentos mais notáveis possíveis para se testar a fundo a real comunicação
com os mortos, e isso incluía a leitura de livros fechados, deslocamentos do
espirito para verificações em salas fechadas e a intermediação com outros
espíritos.
No início Drayton optava pela
hipótese PSI como a que melhor explicava o fenômeno, isto é, de que a médium
lia sua mente e que muitos dos dados fornecidos vinham por meio de clarividência.
Mas isso começou a mudar quando
seu falecido pai, supostamente, vinha a se comunicar por meio da mentora de
Osborne. Em várias passagens o falecido pai lhe apontava e demonstrava que
viera a se comunicar como uma missão de ajuda e que os métodos científicos
utilizados eram elaborados por espíritos de um grau mais elevado.
Em uma das sessões com Osborne,
Feda, o espirito de uma menina que “incorporava” na médium, tentava transmitir
as mensagens do espirito do pai de Charles. Numa das mensagens o pai tenta
demonstrar a capacidade de leitura por meio/condição espiritual, pedindo ao
filho para ir até sua casa e procurar por um livro, numa posição específica da
estante e verificar que lá constavam as “palavras”: “Na página 149, três
quartos abaixo, ele encontrava uma palavra transmitindo o significado de cair
ou tropeçar”.
Ao chegar em casa, Drayton foi
verificar e encontrou: “... a quem um Messias crucificado era um obstáculo
insuperável”.
Embora o caso tenha sido
interessante, Drayton não se convenceu, pois pensou na hipótese de que sua
mente poderia ter guardado aquela informação de forma inconsciente e que essa
teria vindo a tona, pois ele já havia lido o livro em algum momento da vida.
As coisas passam a mudar quando
Drayton Thomas resolveu impor um desafio, pedindo para o suposto espirito do
pai para ir até a casa de um amigo e “acessar” um dos livros, dessa forma ele
teria certeza de que não fora alguma informação pertinente de sua mente.
Gladys Osborne intermedia a
conversa e o suposto espirito aceita o desafio, indo até o referido endereço e
acessando o livro na posição específica da prateleira.
Em uma das experiências, o
espírito controle da médium (a menina Feda) diz algo como: “Seu pai está
dizendo que na página 2, do segundo livro à direita, em uma prateleira
particular ele iria encontrar algo como ‘mar ou oceano’”. Ela acrescenta que
ele, infelizmente não conseguia passar as palavras, mas apenas a ideia do que
estava escrito.
Ao chegar na casa do amigo,
Drayton pega o livro e vai até a página específica, encontrando a seguinte
frase: “Um marinheiro de primeira classe, envelhecido entre o céu e o oceano”.
Aqueles resultados começaram a mudar o pensamento de Thomas, pois as perguntas
mais simples não estavam mais sendo supridas pela simples hipótese do poder da
mente.
Drayton Thomas teve uma postura
científica invejável ao longo de sua vida, se tornando referência a muitos
pesquisadores. Ele conseguia conciliar e separar sua crença dos estudos científicos,
demonstrando assim uma elevada capacidade de ação imparcial sobre a temática.
Com isso, um breve experimento não seria o suficiente para decidir por uma
conclusão, então ele prosseguiu com uma série de testes, onde em outro experimento,
o espirito do pai replica a condição, algo como: “Vá até o livro que está na
posição X e verifique na pagina 9, você vai encontrar alguma referência a cores
lá”.
Drayton repete o processo e ao
pegar o livro e ir até a referida página, encontra a frase: “Ao longo do
horizonte do norte, o céu muda de azul claro para uma cor de chumbo escuro”.
Por cerca de 2 anos Drayton
Thomas efetuou 348 experimentos com o suposto espírito de seu pai, sendo que
considerou 242 deles como bons, 46 indefinidos e 60 fracassos.
Depois de findar testes voltados
para a “visão espiritual”, o pai de Drayton sugere outros experimentos, mas
agora focados para a clarividência.
Nesses testes os resultados
positivos foram impressionantes, mesmo havendo alguns fracassos inexplicáveis. O
suposto espírito do pai conseguia prever detalhes em jornais que ainda nem haviam
sido impressos (publicados) e atribuía isso a uma característica do mundo
espiritual para com o mundo terreno.
De um modo geral, mesmo Drayton
não sendo um adepto ou seguidor da linha de pensamento espirita francês, os
estudos do velho professor vieram a contribuir de forma considerável para o conhecimento
espírita sobre a forma como os espíritos “veem” ou percebem as coisas no mundo terreno.
É sabido que na Codificação, o
mestre Rivail detém certo foco para a questão da visão dos espíritos, estes
explicados de forma figurada, onde as respostas demonstram claramente que um
espírito não vê as coisas exatamente como as vemos (mundo tridimensional), mas
sim as percebe como um todo e não de um único ponto de captação, como os olhos
por exemplo. (veja questão 429 de O Livro
dos Espíritos)
Infelizmente as obras de Drayton
Thomas são pouco conhecidas e exploradas pelos espiritas brasileiros e em
geral, deixando de lado todo um conhecimento adquirido que veio a contribuir fortemente
para o avanço de um aprimorado conhecimento espírita. Drayton Thomas concluiu que
a visão espiritual não existe de fato, mas que sim, faz parte de um conjunto de
percepções. Se a visão ocorresse de fato os espíritos conseguiriam fazer
leituras simples, mas isso não ocorre.
Com a ajuda do falecido pai,
Thomas reconheceu que a percepção se dá pelas impressões deixadas previamente
por encarnados que já haviam lido ou deixaram alguma percepção prévia sobre o
material físico.
Os postulados de Thomas são
utilizados até hoje para se tentar entender até onde vai o limite da percepção
espiritual (vidência) e os limites mediúnicos pelo estado em que um espírito se
encontra.
Além do tema sobre a
visão/percepção espiritual, se avançou muito na compreensão da clarividência, onde
poderia se comparar que determinados acessos pelos espíritos refletiam como uma
espécie de “sombra” que indica ou antecede uma ação na realidade de encarnados.
A explicação exata inexiste ainda, mas já conseguimos entender um pouco como
ela ocorre, desse modo se cogita que tal conhecimento explora a evidência de não existir um livre-arbítrio de fato na
condição de encarnado.
Referências:
LIFE BEYOND DEATH WITH EVIDENCE -
Thomas, Charles Drayton
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