quarta-feira, 1 de março de 2017

Drayton Thomas - (A forma como os espíritos “veem” ou percebem as coisas no mundo terreno)



Sandro Fontana
 

Charles Drayton Thomas nasceu em 1868 e veio a falecer somente em 1953, aos 85 anos. Iniciou no meio religioso seguindo os passos de seu pai, John Wesley Thomas, também reverendo da igreja metodista da Inglaterra.
Embora Drayton atuasse no meio religioso, acabou se vinculando ao Colégio de Teologia onde pôde se aprimorar ao longo do tempo. Sentiu-se motivado a continuar as pregações dentro da igreja, mesmo voltando-se para as pesquisas psíquicas, estas que lhe apontaram um possível rumo que vinha a demonstrar a sobrevivência da alma após a morte do corpo físico.
Tempos depois ele tornou-se membro pesquisador da Society of Psychical Research (SPR) de Londres, onde avançou com as pesquisas e teve por base o acesso a uma das médiuns mais notáveis de sua história: Gladys Osborne Leonard.
Ele teve a oportunidade de fazer mais de 500 experimentos com Osborne o que lhe deu mais convicção sobre a real possiblidade da sobrevivência da alma.
Thomas chegou a fazer alguns dos experimentos mais notáveis possíveis para se testar a fundo a real comunicação com os mortos, e isso incluía a leitura de livros fechados, deslocamentos do espirito para verificações em salas fechadas e a intermediação com outros espíritos.
No início Drayton optava pela hipótese PSI como a que melhor explicava o fenômeno, isto é, de que a médium lia sua mente e que muitos dos dados fornecidos vinham por meio de clarividência.
Mas isso começou a mudar quando seu falecido pai, supostamente, vinha a se comunicar por meio da mentora de Osborne. Em várias passagens o falecido pai lhe apontava e demonstrava que viera a se comunicar como uma missão de ajuda e que os métodos científicos utilizados eram elaborados por espíritos de um grau mais elevado.
Em uma das sessões com Osborne, Feda, o espirito de uma menina que “incorporava” na médium, tentava transmitir as mensagens do espirito do pai de Charles. Numa das mensagens o pai tenta demonstrar a capacidade de leitura por meio/condição espiritual, pedindo ao filho para ir até sua casa e procurar por um livro, numa posição específica da estante e verificar que lá constavam as “palavras”: “Na página 149, três quartos abaixo, ele encontrava uma palavra transmitindo o significado de cair ou tropeçar”.
Ao chegar em casa, Drayton foi verificar e encontrou: “... a quem um Messias crucificado era um obstáculo insuperável”.
Embora o caso tenha sido interessante, Drayton não se convenceu, pois pensou na hipótese de que sua mente poderia ter guardado aquela informação de forma inconsciente e que essa teria vindo a tona, pois ele já havia lido o livro em algum momento da vida.
As coisas passam a mudar quando Drayton Thomas resolveu impor um desafio, pedindo para o suposto espirito do pai para ir até a casa de um amigo e “acessar” um dos livros, dessa forma ele teria certeza de que não fora alguma informação pertinente de sua mente.
Gladys Osborne intermedia a conversa e o suposto espirito aceita o desafio, indo até o referido endereço e acessando o livro na posição específica da prateleira.
Em uma das experiências, o espírito controle da médium (a menina Feda) diz algo como: “Seu pai está dizendo que na página 2, do segundo livro à direita, em uma prateleira particular ele iria encontrar algo como ‘mar ou oceano’”. Ela acrescenta que ele, infelizmente não conseguia passar as palavras, mas apenas a ideia do que estava escrito.
Ao chegar na casa do amigo, Drayton pega o livro e vai até a página específica, encontrando a seguinte frase: “Um marinheiro de primeira classe, envelhecido entre o céu e o oceano”. Aqueles resultados começaram a mudar o pensamento de Thomas, pois as perguntas mais simples não estavam mais sendo supridas pela simples hipótese do poder da mente.
Drayton Thomas teve uma postura científica invejável ao longo de sua vida, se tornando referência a muitos pesquisadores. Ele conseguia conciliar e separar sua crença dos estudos científicos, demonstrando assim uma elevada capacidade de ação imparcial sobre a temática. Com isso, um breve experimento não seria o suficiente para decidir por uma conclusão, então ele prosseguiu com uma série de testes, onde em outro experimento, o espirito do pai replica a condição, algo como: “Vá até o livro que está na posição X e verifique na pagina 9, você vai encontrar alguma referência a cores lá”.
Drayton repete o processo e ao pegar o livro e ir até a referida página, encontra a frase: “Ao longo do horizonte do norte, o céu muda de azul claro para uma cor de chumbo escuro”.
Por cerca de 2 anos Drayton Thomas efetuou 348 experimentos com o suposto espírito de seu pai, sendo que considerou 242 deles como bons, 46 indefinidos e 60 fracassos.
Depois de findar testes voltados para a “visão espiritual”, o pai de Drayton sugere outros experimentos, mas agora focados para a clarividência.
Nesses testes os resultados positivos foram impressionantes, mesmo havendo alguns fracassos inexplicáveis. O suposto espírito do pai conseguia prever detalhes em jornais que ainda nem haviam sido impressos (publicados) e atribuía isso a uma característica do mundo espiritual para com o mundo terreno.
De um modo geral, mesmo Drayton não sendo um adepto ou seguidor da linha de pensamento espirita francês, os estudos do velho professor vieram a contribuir de forma considerável para o conhecimento espírita sobre a forma como os espíritos “veem” ou percebem as coisas no mundo terreno.
É sabido que na Codificação, o mestre Rivail detém certo foco para a questão da visão dos espíritos, estes explicados de forma figurada, onde as respostas demonstram claramente que um espírito não vê as coisas exatamente como as vemos (mundo tridimensional), mas sim as percebe como um todo e não de um único ponto de captação, como os olhos por exemplo. (veja questão 429 de O Livro dos Espíritos)
Infelizmente as obras de Drayton Thomas são pouco conhecidas e exploradas pelos espiritas brasileiros e em geral, deixando de lado todo um conhecimento adquirido que veio a contribuir fortemente para o avanço de um aprimorado conhecimento espírita. Drayton Thomas concluiu que a visão espiritual não existe de fato, mas que sim, faz parte de um conjunto de percepções. Se a visão ocorresse de fato os espíritos conseguiriam fazer leituras simples, mas isso não ocorre.
Com a ajuda do falecido pai, Thomas reconheceu que a percepção se dá pelas impressões deixadas previamente por encarnados que já haviam lido ou deixaram alguma percepção prévia sobre o material físico.
Os postulados de Thomas são utilizados até hoje para se tentar entender até onde vai o limite da percepção espiritual (vidência) e os limites mediúnicos pelo estado em que um espírito se encontra.
Além do tema sobre a visão/percepção espiritual, se avançou muito na compreensão da clarividência, onde poderia se comparar que determinados acessos pelos espíritos refletiam como uma espécie de “sombra” que indica ou antecede uma ação na realidade de encarnados. A explicação exata inexiste ainda, mas já conseguimos entender um pouco como ela ocorre, desse modo se cogita que tal conhecimento explora a evidência de não existir um livre-arbítrio de fato na condição de encarnado.

 

Referências:

LIFE BEYOND DEATH WITH EVIDENCE - Thomas, Charles Drayton






[1] Revista Ciência Espírita – Edição 10 – Dezembro/2016

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