quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Nova teoria explica o que gerou a inteligência humana: bebês incapazes[1] [2]


 
Denis Russo Burgierman – 17/06/2016
 

Bebês indefesos demandam pais espertinhos, que por sua vez geram filhos de cabeça grande, portanto indefesos.
Um dos maiores mistérios que desafiam a inteligência humana é ela própria. Como explicar que nós, homo sapiens, tenhamos cérebros capazes de teoremas, teorias científicas e seriados de TV, num mundo em que nenhuma outra espécie foi muito além dos grunhidos e das ferramentas de pau e pedra? O mistério é entender por que diabos temos tão mais desse negócio do que os outros. A evolução costuma ser pão-dura: ela dá às espécies apenas o que elas precisam para sobreviver - nem 1 miligrama a mais. Afinal, evoluir é caro. Ganhar novos equipamentos no nosso corpo custa o preço de precisar encontrar mais comida para manter esse equipamento funcionando. Este cérebro gigante entre as suas orelhas consome 25% do oxigênio e 20% da energia do seu corpo - por que diabos estamos gastando tanto com um equipamento tão mais potente que o de qualquer outro? Não deveria bastar ser só um tiquinho mais inteligente que a competição?
Dois pesquisadores da Universidade de Rochester, no estado de Nova York, encontraram uma resposta elegante para esse antigo mistério. Num artigo que eles acabam de publicar na revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, eles concluíram que a grande razão para sermos tão espertinhos é o tanto que nossos bebês são indefesos. Afinal, para manter um bebê humano vivo, é preciso saber juntar lé com cré. Por mais de 9 meses, o bichinho é incapaz de basicamente qualquer coisa: não consegue nem se virar sozinho, quanto mais se proteger de uma ameaça. Se quiserem legar seus genes à próxima geração, os pais têm que ser capazes de planejar o futuro, prever ameaças, calcular probabilidades, ou seja, precisam de uma inteligência extraordinária. "É muito difícil imaginar que adultos de qualquer outra espécie consigam fazer vingar uma criança humana", diz a pesquisa. Nenhuma outra espécie tem bebês tão incapazes: uma girafa recém-nascida leva minutos para sair andando depois que sai do útero da mãe.
Acontece que, para sermos mais inteligentes, precisamos de cabeças maiores, capazes de acomodar o cerebrão. E o cabeção resultante acaba tornando os bebês ainda mais indefesos: um pimpolho humano leva três meses para ser capaz de simplesmente sustentar o crânio sobre o pescoço. Demoramos tanto para aprender a andar porque não é mole sustentar aquele coco no nosso corpinho mirrado. A consequência é um ciclo de feedback positivo, que é como os cientistas da complexidade chamam um processo no qual o aumento de uma coisa faz com que essa mesma coisa aumente, por sua vez causando mais aumento ainda. Bebês indefesos exigem pais inteligentes, que por sua vez geram bebês mais cabeçudos, demandando pais ainda mais inteligentes, que, portanto geram bebês ainda mais cabeçudos, e, portanto mais indefesos - e assim por diante. Feedbacks positivos geralmente são a explicação para situações nos quais uma espécie tem muito mais de algo do que qualquer outra (o tamanho do pescoço da girafa, as especificidades do nariz do elefante, a capacidade de cálculo, abstração e narrativa dos humanos).
A bela teoria, elaborada pelos neurocientistas Steven Piantadosi e Celeste Kidd, não é muito fácil de provar, já que não há jeito de reproduzir em laboratório o processo evolutivo que aconteceu ao longo de dezenas de milhares de anos. Mas Piantadosi e Kidd tiveram uma boa ideia: programaram num computador o modelo matemático dessa dinâmica evolutiva - e o resultado que encontraram é consistente com a teoria. Aí, para confirmar, usaram o mesmo modelo para investigar outras espécies de mamíferos, e perceberam que realmente existe uma correlação entre incapacidade dos bebês e inteligência da espécie.
Não significa, é claro, que essa seja a única explicação para a inteligência humana. A evolução é um processo complexo e geralmente as causas de qualquer coisa são múltiplas e interconectadas. Alguns pesquisadores acreditam que a inteligência humana seja em parte algo semelhante à cauda de um pavão: um instrumento exageradamente exuberante de atração sexual, que serve para sinalizar aos parceiros que o indivíduo é tão saudável que está podendo desperdiçar energia e oxigênio com um equipamento muito mais potente do que o necessário. Mas a teoria do cabeção sexy tinha buracos - que parecem ter sido preenchidos com a nova pesquisa.
 
Jorge Hessen[3] comenta
O cálculo do biólogo Ernst Mayr, da Universidade Harvard, sobre a possibilidade de a natureza produzir seres inteligentes pelos processos evolutivos conhecidos é quase uma sugestão de que os seres humanos são mesmo produtos “sobrenaturais”. De 30 milhões de espécies vivas atualmente e de cerca de 50 bilhões de outras espécies vivas ou que já viveram e desapareceram, somente o homo sapiens desenvolveu inteligência superior.
Sabe-se que o homo sapiens surgiu na África Oriental entre 190.000 e 160.000 anos atrás, depois se espalhou para o leste do Mediterrâneo em torno de 100.000 a 60.000 anos atrás, e pode ter chegado na China há 80.000 anos passados. Atualmente os seres humanos estão distribuídos em toda a Terra. O homo erectus, uma pré-espécie crucial na evolução do ser humano atual (homo sapiens), que parece ter evoluído em solo africano há cerca de 1,8 milhões de anos, migrando posteriormente para a Ásia e depois para a Europa. Porém, foi há apenas 6.000 ou 8.000 anos a.C. que alguns homens abandonaram por fim a vida selvagem e deram-se à árdua agricultura que tornou possível o aparecimento das primeiras aldeias sedentárias no Oriente Médio. Os primórdios de nossa civilização urbana remontam aos mais primitivos sítios neolíticos, em Jericó, cerca de 6.000 a.C., e em Jarmo, no Iraque, cerca de 4.500 a.C.
Hoje, como explicar que nós, homo “erectus/sapiens”, tenhamos cérebros capazes de teoremas, teorias científicas e seriados de TV, num mundo em que nenhuma outra espécie foi muito além dos grunhidos e das ferramentas de pau e pedra. Analistas materialistas argumentam que o fator causador da inteligência humana se restringe à incapacidade dos bebês. Para os acadêmicos devaneadores os nenéns indefesos motivaram evolução da inteligência, afinal, não há nenhuma outra espécie de bebês tão “incapazes” como os humanos. Dizem!
Em verdade, a Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período da humanização começa, geralmente, em mundos ainda inferiores à Terra. Isto, entretanto, não constitui regra absoluta, pois pode suceder que um Espírito, desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. Não é frequente o caso; constitui antes uma exceção. Nos seres inferiores, cuja totalidade estamos longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos.
“Em verdade, o princípio inteligente consumiu, desde os vírus e as bactérias das primeiras horas do protoplasma na Terra, mais ou menos quinze milhões de séculos [1 bilhão e meio de anos], a fim de que pudesse, como ser pensante, embora em fase embrionária da razão, lançar as suas primeiras emissões de pensamento contínuo (inteligência humana) para os Espaços Cósmicos [4]”. Diz-se que a força anímica no mineral é atração, no vegetal é sensação, no animal é instinto, no homem é razão e no anjo é divindade. Nessa direção caminha Léon Denis quando propõe a sua versão romântica e da evolução proferindo: que o princípio inteligente dorme na pedra, sonha na planta, agita-se no animal e desperta no homem. Ou seja: Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente.
A inteligência é o atributo essencial do Espírito, em razão do qual toma ele conhecimento de sua própria existência e exerce atividades voluntárias e livres. Quando o Espírito atinge o grau de humanização, sua inteligência adquire desenvolvimento superior, como o surgimento da razão e do senso moral, que lhe facultam a capacidade de conceber e reconhecer a existência de Deus. Sendo a inteligência, em sua plenitude, a faculdade de pensar e agir racional e deliberadamente, os atos inteligentes são conscientes, voluntários, livres e calculados. São, além disso, suscetíveis de variações, porque a inteligência, variável e individual por excelência, é suscetível de progresso.
É bem verdade que o patinho logo que rompe a casca do ovo que o mantinha encerrado, se vê próximo de um córrego ou um lago, por instinto corre alegremente para ele e lança-se na água, nadando imediatamente com perfeição. Onde aprendeu o pato a nadar? São igualmente instintivos o ato do castor, que constrói sua casa com terra, água e galhos de árvores; o ato dos pássaros, que constroem com perfeição seus ninhos; o ato da aranha, que tece com precisão sua teia. Veem-se já aí alguns dos caracteres do instinto: é algo inato, perfeito e específico, ou seja, surge espontaneamente, sem prévia aprendizagem, em todos os indivíduos de uma mesma espécie e leva a atos completos, acabados, perfeitos, desde a primeira vez que são realizados.
Descrevem os Espíritos que a inteligência humana se comparada entre alguns homens e certos animais, percebe-se, muitas vezes, que é notória os animais terem a “inteligência” superior. Por isso, é difícil estabelecer uma linha de demarcação em alguns casos. Porém, ainda assim, o homem é um Ser à parte, que desce, às vezes, muito baixo [irracionalidade] ou pode elevar-se muito alto. “É bem verdade que o instinto domina a maioria dos animais; mas há os que agem por uma vontade determinada, ou seja, percebemos que há uma certa inteligência animal, ainda que limitada [5]”.
Na questão 593 de O Livro dos Espíritos, os benfeitores espirituais esclarecem que nos animais há mais do que simplesmente instintos. Há neles certa inteligência incipiente ou limitada. E para não deixar dúvidas, na pergunta 597, informam que esta inteligência capaz de, em pequeno grau, atenuar o determinismo biológico, dando-lhes um pouco de liberdade de ação e expressão de vontade íntima, sobrevive ao corpo físico. Não é, ainda, propriamente, um Espírito, alma humana encarnada, mas o princípio inteligente que faz parte da cadeia evolutiva referida na questão 540 [6].
A inteligência é uma propriedade comum, um ponto de contato entre a alma dos animais e a do homem. Porém os animais só possuem a inteligência da vida material. No homem, a inteligência proporciona a vida moral. O princípio inteligente que constitui a Alma de natureza especial de que são dotados provém do elemento inteligente universal. Emanam de um único princípio a inteligência do homem e a dos animais. Porém, no homem, passou por uma elaboração que a coloca acima da que existe no animal.
Somente com a cooperação do Espiritismo poderá a ciência definir a sede da inteligência humana, não nos complexos nervosos ou glandulares do corpo perecível, mas no espírito imortal. Os valores intelectivos representam a soma de muitas experiências, em várias vidas do Espírito, no plano material e espiritual. Uma inteligência profunda significa um imenso acervo de lutas planetárias e extrafísicas. Atingida essa posição, se o homem guarda consigo uma expressão idêntica de progresso espiritual, pelo sentimento, então estará apto a elevar-se a novas esferas do Infinito, para a conquista de sua perfeição.




[2] Matéria publicada na Revista Superinteressante, em 30 de maio de 2016.
[3] Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.
[4] Xavier, Francisco Cândido. Evolução em Dois Mundos, ditado pelo Espírito André Luiz, cap. VI , Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2012.
[5] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, perg. 592.
[6] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, pergs. 593, 597, 540.

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