Henry Slade
(1835–1905)
Célebre médium das escritas nas
lousas foi exibido publicamente na América durante 15 anos. Em 1876 ele foi à
Inglaterra, passando antes pela Rússia, a pedido da Mme. Helena Blavatsky e do
Coronel Henry S. Olcott, escolhido que fora como médium notável, para fazer
experiências sobre a veracidade dos fenômenos mediúnicos. Slade foi submetido a
testes durante várias semanas por uma comissão de céticos que em seu relatório
terminou por concluir:
“Eram escritas mensagens nas
faces internas de duas lousas, por vezes amarradas e seladas juntas, quando
postas sobre uma mesa, à vista de todos; acima das cabeças de membros da
comissão; presas à parte inferior do tampo da mesa; ou, ainda, nas mãos de um
membro da comissão, sem que o médium tocasse”.
Logo após a sua chegada a
Londres, Slade começou a fazer sessões com imediato sucesso. Não só a escrita
era obtida de modo evidente, sob fiscalização e com lousas dos próprios
assistentes, mas a levitação de objetos e a materialização de mãos foram observadas
sob intensa luz do dia. O redator do “The Spiritual Magazine” escreveu:
“Não hesitamos em dizer que o
Mr. Slade é o mais notável médium dos tempos modernos”.
Tais sessões ocorriam durante o
dia, a qualquer hora, em seus aposentos de pensão. Em certas ocasiões cobrava
uma pequena quantia por sessão e preferia que apenas uma pessoa a assistisse.
Assim que o visitante sentava começavam os incidentes e terminava em cerca de
15 minutos. Com Slade não havia preocupação com as condições ambientais e a
observação dos fenômenos satisfazia inteiramente aos assistentes. Com ele tudo
era rápido e preciso, pois os operadores invisíveis sabiam exatamente o que iam
fazer em cada ocasião e o faziam com presteza e precisão.
A primeira sessão de Slade na
Inglaterra foi realizada a 15 de julho de 1876. Em plena luz do dia o médium e
os dois assistentes ocuparam os 3 lados de uma mesa comum de cerca de 3 pés de
lado. Slade pôs um pedacinho de lápis, mais ou menos do tamanho de um grão de
trigo, sobre uma ardósia e segurou esta por um canto com uma das mãos,
encostando-a no tampo por baixo da mesa. Ouvia-se a escrita na lousa e,
examinada, verificou-se que uma curta mensagem fora escrita. Enquanto isso
acontecia, as 4 mãos dos assistentes e a mão livre de Slade eram agarradas no
centro da mesa.
A cadeira vazia no quarto lado
da mesa uma vez pulou no ar, batendo o assento na borda inferior da mesma. Duas
vezes uma mão com a aparência de vida passou em frente a Mr. Blackburn
(eminente espiritista), enquanto ambas as mãos de Slade eram observadas. O
médium segurou um acordeom de baixo da mesa e, enquanto se via claramente a
outra mão sobre a mesa, foi tocada a “Home sweet home“. Finalmente os presentes
levantaram as mãos cerca de 30 centímetros acima da mesa e esta ergueu-se até,
tocar as suas mãos. Em uma outra sessão no mesmo dia uma cadeira ergueu-se
cerca de um metro e vinte, quando ninguém a tocava e, quando Slade tinha uma
mão no espaldar da cadeira de Blackburn, a mesma elevou-se cerca de meio metro
acima do solo. Durante 6 semanas Slade deixou Londres curiosa e agitada, até
que um fato lamentável viria a interromper suas sessões.
No começo de setembro de 1876 o
professor Ray Lankester, com o Dr. Donkin tiveram duas sessões com Slade e, na
segunda, tomando uma lousa, encontraram-na escrita, quando se pensava que nada
tivesse sido produzido. Ele era absolutamente inexperiente em pesquisas
psíquicas, do contrário saberia que é impossível dizer o momento exato em que
se dá a escrita nessas sessões. Ocasionalmente uma folha inteira parecia
precipitada num instante, enquanto de outras vezes o autor ouvia claramente o
ruído do lápis, linha por linha.
Para Ray Lankester, entretanto,
pareceu um caso típico de fraude e ele escreveu uma carta ao Jornal The Times
denunciando Slade e o perseguiu por tomar dinheiro de modo fraudulento. Foram
publicadas cartas em resposta a Lankester pelo Naturalista Alfred Russel
Wallace, pelo Prof. William Barrett e outros. O Sr. Wallace chamou atenção para
o fato de que o relato do Dr. Lankester daquilo que acontecera era extremamente
diferente do que lhe ocorreu durante a sua visita ao médium, bem como o
registro das experiências de Serjeant Cox, do Dr. Carter Blake e muitos outros,
de modo que o podia considerar como um notável exemplo da teoria do Dr. Carpenter,
sobre as ideias preconcebidas. Disse ele:
“O professor Lankester foi com a
firme convicção de que tudo que ia assistir era impostura e, assim, pensa que
viu imposturas”.
Apesar do testemunho de muitos
admiradores e também de cientistas já conhecedores da problemática mediúnica, o
julgamento de Slade se deu na Corte de Polícia de Bow Street. A acusação esteve
a cargo de Mr. George Lewis e a defesa foi feita por Mr. Munton. As provas
sobre a autenticidade da mediunidade de Slade foram dadas pelo Sr. Alfred
Wallace, por Serjeant Cox, pelo Dr. George Wild e outros, mas só 4 testemunhas
foram permitidas.
O magistrado classificou a prova
testemunhal como “esmagadora” dada a evidência dos fenômenos, mas no julgamento
excluiu tudo, exceto a acusação de Lankester e de seu amigo Dr. Donkin, dizendo
que era obrigado a basear a sua decisão em “interferências deduzidas dos
conhecidos fatos naturais”. Uma declaração feita pelo conhecido mágico
Maskelyne de que a mesa usada por Slade era preparada para truques, foi desmascarada
pelo testemunho do carpinteiro que a tinha feito.
Apesar disso, Slade foi
condenado nos termos da lei contra a vagabundagem a três meses de prisão com
trabalhos forçados. Os espíritas e espiritualistas em geral mostraram muita
energia na defesa de Slade. Protestos, memoriais a ministros, Fundos de Defesa,
solicitação à Câmara dos Comuns e até cópias de protesto foram enviadas à
rainha. Houve apelo e ele foi solto sob fiança. Slade, cuja saúde ficou
seriamente afetada com a prisão, deixou a Inglaterra dois dias depois.
Passado o episódio, após sessões
de êxito em Haya, Slade foi a Berlim onde despertou o mais vivo interesse.
Dizia-se que ele não sabia alemão, mas apareceram mensagens nessa língua sobre
as lousas e escritas em caracteres do século XV. O Jornal Berliner Fremdenblatt
publicou o seguinte:
“Desde a chegada de Mr. Slade ao
Hotel Kronprinz, uma grande parte do mundo culto de Berlim vem sofrendo de uma
epidemia que podemos chamar de febre espírita”. Slade começou por converter o
proprietário do hotel, usando suas próprias lousas e mesas. O chefe de Polícia
e muitas pessoas eminentes de Berlim testemunharam a veracidade dos fenômenos
espíritas, persuadidas da ausência de fraudes.
Seguiu-se uma visita à Dinamarca
e em dezembro começaram as históricas sessões com o professor Zollner, em
Leipzig. Um relato completo encontra-se na obra de Zollner, “Física
Transcendental”. Nessas experiências estiveram outros homens de ciência,
inclusive William Edward Weber, professor de Física; o prof. Scheibner, ilustre
matemático; Gustave Theodore Fechner, professor de Física e eminente filósofo
naturalista, todos perfeitamente convencidos da realidade dos fatos observados,
inclusive de que não havia impostura ou prestidigitação.
Entre os fenômenos contavam-se os
nós dados em uma corda sem fim, o rompimento das cortinas do leito do prof.
Zollner, o desaparecimento e imediato aparecimento de uma pequena mesa,
descendo do teto em plena luz, notando-se a aparente imobilidade de Slade
durante essas ocorrências.
Na Rússia, depois de uma série
de êxitos nas sessões de São Petersburgo, Slade retornou a Londres por alguns
dias e então dirigiu-se à Austrália. Um interessante relato do seu trabalho
nesse último país foi o livro de James Curtis “The Rustlings in the Golden City“.
Então voltou à América.
Em 1885 compareceu perante a
Comissão Seybert, em Filadélfia, e em 1887 visitou novamente a Inglaterra sob o
nome de Dr. Wilson. Na maioria de suas sessões Slade demonstrou possuir
clarividência e as mãos materializadas eram coisa familiar. Na Austrália, onde
as condições psíquicas eram boas, obteve materializações mais amplas.
Slade foi um médium perseguido
pelos detratores do Espiritismo. Com tantos testemunhos memoráveis, com o
excesso de provas materiais de sua honestidade, mesmo com a ostensividade
exagerada dos componentes invisíveis, demonstrando inequívocas provas de suas
existências e atuações, muitos por pura inveja, despeito ou mesmo maldade, o
atacavam em sua honra. Mas, preconceito e ignorância são armas usuais no cotidiano
dos fanáticos, dos acomodados e dos presunçosos. Armas frágeis, pois a ciência
com o seu avanço contínuo as derreterão no ardente fogo da comprovação dos
fatos mediúnicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário