Richard Simonetti
O orgulho e o egoísmo, estes
dois sentimentos perniciosos, próprios do estágio evolutivo em que nos
encontramos, ao inspirarem a tendência de analisarmos as situações pelo prisma
de nossas satisfações e interesses pessoais, criam as desigualdades sociais.
O médico de vasta clientela rica
olha com desprezo para o operário mal vestido, que o procura no luxuoso
consultório; o juiz famoso recebe apressado e distraído o serviçal da limpeza
pública, que vem pedir sua orientação para um problema pessoal; o rico
empresário recusa-se a considerar a possibilidade de empréstimo para o
comerciário, que deseja instalar uma banca de jornais e livros.
Os problemas que dificultam o
relacionamento dos primeiros com os segundos, não são simplesmente de
apresentação, tempo ou confiança, mas, essencialmente, de orgulho e egoísmo,
que geram a falsa impressão de que alguém é mais importante que seus
semelhantes, em face de sua posição social, sua cultura ou seu dinheiro.
Falsa, porque, observada a
questão em seu aspecto prático, de contribuição em favor da sociedade, seria
muito difícil considerar mais importante o médico do que o operário.
Se o médico sustenta a saúde da
comunidade, o operário produz os bens de consumo que garantem a vida
comunitária...
Será mais importante o juiz que
dispensa justiça do que o servidor que faz a coleta do lixo? Ah! Abençoado
funcionário da limpeza pública! Como conceber a vida urbana sem o seu concurso?
Será mais importante o empresário
que o vendedor de livros e jornais? Se aquele promove o progresso material de
uma coletividade, este lhe enriquece o espírito com os valores da cultura e da
informação.
Num relógio, os ponteiros são
importantes. Mostram as horas. Mas, serão mais importantes do que a máquina que
os movimenta, escondida sob o mostrador? E neste delicado mecanismo, composto
de centenas de minúsculas peças, qual a principal? Difícil responder, já que a
falta de qualquer uma delas prejudicará o funcionamento do relógio.
Numa cidade, administradores,
líderes e autoridades são os ponteiros...
Mas, o que faria o prefeito sem
o funcionalismo público ou sem a força que movimenta a máquina administrativa,
representada pela arrecadação de impostos, da qual participam direta ou indiretamente
todos os munícipes?
Que faria o líder religioso sem
a colaboração dos fiéis em seu trabalho social, sustentando até mesmo sua
vocação de orientar, com os valores da aceitação?
Poderia o chefe de polícia
garantir a ordem sem o apoio do soldado humilde que se coloca a seu serviço?
Por isso, em qualquer
agrupamento social, todos são importantes, desde que exercendo atividade útil.
Houve tempo em que o Homem era
considerado segundo seus títulos de nobreza. Desfrutava atenção e respeito,
ainda que seu comportamento fosse irresponsável e vicioso, desde que possuísse
brasões e tradição de família.
Hoje, isso não significa nada,
mas o Homem ainda é medido pela posição social que consegue galgar, firmada em
dinheiro e poder, mesmo que tripudiando sobre direitos alheios, transformando a
sociedade numa autêntica selva, onde triunfam os mais duros e espertos.
Dia virá em que o Homem será
considerado unicamente pelo seu empenho em honrar a atividade que escolheu com
os valores da dedicação e da honestidade, dando o máximo de si mesmo em favor
do progresso e do bem-estar da comunidade.
Então prevalecerá uma única
desigualdade - a do merecimento - a determinar que receba maior soma de bênção
da Vida aquele que mais a enriquecer, fazendo sempre o melhor, seja o governador
de uma comunidade ou seu mais humilde serviçal da limpeza.
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