sexta-feira, 7 de outubro de 2016

ORGULHO – a verdadeira importância[1]


 
Richard Simonetti
 

O orgulho e o egoísmo, estes dois sentimentos perniciosos, próprios do estágio evolutivo em que nos encontramos, ao inspirarem a tendência de analisarmos as situações pelo prisma de nossas satisfações e interesses pessoais, criam as desigualdades sociais.
O médico de vasta clientela rica olha com desprezo para o operário mal vestido, que o procura no luxuoso consultório; o juiz famoso recebe apressado e distraído o serviçal da limpeza pública, que vem pedir sua orientação para um problema pessoal; o rico empresário recusa-se a considerar a possibilidade de empréstimo para o comerciário, que deseja instalar uma banca de jornais e livros.
Os problemas que dificultam o relacionamento dos primeiros com os segundos, não são simplesmente de apresentação, tempo ou confiança, mas, essencialmente, de orgulho e egoísmo, que geram a falsa impressão de que alguém é mais importante que seus semelhantes, em face de sua posição social, sua cultura ou seu dinheiro.
Falsa, porque, observada a questão em seu aspecto prático, de contribuição em favor da sociedade, seria muito difícil considerar mais importante o médico do que o operário.
Se o médico sustenta a saúde da comunidade, o operário produz os bens de consumo que garantem a vida comunitária...
Será mais importante o juiz que dispensa justiça do que o servidor que faz a coleta do lixo? Ah! Abençoado funcionário da limpeza pública! Como conceber a vida urbana sem o seu concurso?
Será mais importante o empresário que o vendedor de livros e jornais? Se aquele promove o progresso material de uma coletividade, este lhe enriquece o espírito com os valores da cultura e da informação.
Num relógio, os ponteiros são importantes. Mostram as horas. Mas, serão mais importantes do que a máquina que os movimenta, escondida sob o mostrador? E neste delicado mecanismo, composto de centenas de minúsculas peças, qual a principal? Difícil responder, já que a falta de qualquer uma delas prejudicará o funcionamento do relógio.
Numa cidade, administradores, líderes e autoridades são os ponteiros...
Mas, o que faria o prefeito sem o funcionalismo público ou sem a força que movimenta a máquina administrativa, representada pela arrecadação de impostos, da qual participam direta ou indiretamente todos os munícipes?
Que faria o líder religioso sem a colaboração dos fiéis em seu trabalho social, sustentando até mesmo sua vocação de orientar, com os valores da aceitação?
Poderia o chefe de polícia garantir a ordem sem o apoio do soldado humilde que se coloca a seu serviço?
Por isso, em qualquer agrupamento social, todos são importantes, desde que exercendo atividade útil.
Houve tempo em que o Homem era considerado segundo seus títulos de nobreza. Desfrutava atenção e respeito, ainda que seu comportamento fosse irresponsável e vicioso, desde que possuísse brasões e tradição de família.
Hoje, isso não significa nada, mas o Homem ainda é medido pela posição social que consegue galgar, firmada em dinheiro e poder, mesmo que tripudiando sobre direitos alheios, transformando a sociedade numa autêntica selva, onde triunfam os mais duros e espertos.
Dia virá em que o Homem será considerado unicamente pelo seu empenho em honrar a atividade que escolheu com os valores da dedicação e da honestidade, dando o máximo de si mesmo em favor do progresso e do bem-estar da comunidade.
Então prevalecerá uma única desigualdade - a do merecimento - a determinar que receba maior soma de bênção da Vida aquele que mais a enriquecer, fazendo sempre o melhor, seja o governador de uma comunidade ou seu mais humilde serviçal da limpeza.




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