Michelangelo: O Pecado Original e a Expulsão do Paraíso
J.Herculano Pires[2]
Este termo não deve ser
utilizado dentro do Espiritismo, por não se encontrar em nenhuma das Obras de
Allan Kardec. A palavra carma foi “introduzida” recentemente no Espiritismo
através das chamadas obras subsidiárias, ou seja, os livros psicografados “escritos
por espíritos através de um médium”, mas não é utilizado em nenhum momento nas
obras de Kardec. A palavra carma (em sânscrito karma ou karman e em pali kamma)
utilizada na Índia e por muitas correntes filosóficas religiosas, significa em
primeira instância “ação”, “trabalho” ou “efeito”. No sentido secundário, o
efeito de uma ação, ou se preferirmos, a soma dos efeitos de ações (vidas)
passadas se refletindo no presente.
Na concepção hindu, carma quer
dizer “destino” (canga) determinado ou fixo, ou seja, aqueles cujos atos foram
corretos, depois de mortos renascerão através de uma mulher brâmane (virtuosa),
ao passo que aqueles cujos atos foram maus, renascerão de uma mulher pária
(castas inferiores) e sofrerão muitas desgraças, acabando como simples
escravos. Inclusive uma pessoa nascida numa casta impura (um varredor de ruas,
um auxiliar de crematório, por exemplo) deve permanecer na profissão herdada.
Cumprindo o melhor possível e de maneira ordenada a sua função, tornar-se-á um
perfeito e virtuoso membro da sociedade. Por outro lado, ao interferir nas
tarefas de outras pessoas, ele será culpado de perturbar a ordem sagrada.
(...), mesmo a prostituta, que dentro da hierarquia da sociedade está aquém da
virtuosa dona de casa, pode participar – caso cumpra com perfeição o código de
sua desprezível profissão – do supra-humano e transindividual Poder Sagrado que
se manifesta no cosmo. Ela pode até fazer milagres que desconsertam reis e
santos.
Sabemos, por orientação dos
Espíritos, que quando reencarnamos não escolhemos um destino e sim um gênero de
prova que cabe a cada um enfrentar ou recuar. Desta forma, não devemos usar a
palavra Carma dentro do Espiritismo e sim Causa e Efeito, porque os detalhes
dos acontecimentos da vida estão na dependência das circunstâncias que o homem
provoca, com os seus atos. Se encararmos o carma como um fim total e
irredutível, teremos um problema sério quando falamos de existência e
sofrimento.
O carma foi “inventado” pelos
arianos, quando estes invadiram a Índia pelo rio Indo, trazendo consigo sua
religiosidade e “criando” as castas para se diferenciarem dos párias e
rebaixá-los a posições subalternas. Se pensarmos no carma como um fim último
estagnamos o homem, da mesma forma quando aprovamos ou aceitamos a salvação
apenas pela justificação da fé ou através da predestinação. O carma na época
surgiu para os indianos como uma possibilidade de explicar e entender o mundo,
o homem e sua existência. Se realmente existe os deuses ou um Deus bom, por que
algumas pessoas nascem gênios e outras idiotas? Como os deuses julgarão em um
suposto juízo final os homens que não tiveram oportunidade de conhecê-los? Se
Deus é onisciente e onipresente, então não possuímos livre-arbítrio, estamos
encurralados em uma predestinação ou carma. Se não utiliza sua onisciência não
pode ser Deus. Estas são perguntas simples que qualquer senso laico já se fez,
ou ainda faz, de sua existência.
Foram estas e muitas outras
perguntas muito mais elaboradas que o sistema carma veio “resolver” ou tentar
explicar. Explicar o mal e encontrar o meio de fazer que os homens o aceitem,
se não com alegria, pelo menos com paz de espírito, têm sido a tarefa da maior
parte das religiões. Para os ocidentais a palavra carma não deve ser levada ao
pé da letra, mas de forma a entender que o indivíduo passa por situações
difíceis e seu futuro é de sua responsabilidade. No Brasil poucas correntes
filosóficas ou religiosas utilizam a palavra carma como os indianos, ou seja,
um fim em si mesmo. Os esotéricos e os místicos, neste ponto, não se enquadram
nos pensamentos esotéricos e místicos judeus, cristãos ou islâmicos, apesar de
alguns filósofos destes pensamentos aceitarem ou discutirem a possibilidade da
reencarnação. Os pensamentos cármicos estão mais próximos dos ensinos
esotéricos e místicos por seguirem e utilizarem boa parte dos ensinos e da
filosofia indiana, como é o caso do Shankya, do Vedanta, do Yoga e alguns
outros, ou similares como é o caso dos pensamentos de Blavatsky que possui
grande influência no meio esotérico e teosófico.
[2] O Verbo e a
Carne – J. Herculano Pires
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