terça-feira, 11 de outubro de 2016

ESTUPRO COLETIVO[1]



Hugo Lapa
 

Vimos recentemente na mídia um episódio triste onde 30 homens estupraram uma moça e colocaram as imagens dessa violência em vídeo nas redes sociais. Após o evento, várias pessoas vieram me perguntar qual o significado do estupro do ponto de vista espírita. Não abordarei a visão espírita do estupro, pois o Espiritismo é algo bem mais amplo e profundo do que nossa consciência pode alcançar. Acho um tanto quanto pretensioso quando vejo uma pessoa dizer que ela pode declarar qual é a “visão espírita” sobre determinado tema atual. Na verdade, essa visão nada mais é do que sua leitura sobre o espiritismo, sua interpretação do mesmo. Ninguém pode arrogar ser o “porta voz” do espiritismo e ninguém conhece o Espiritismo tão profundamente a ponto de dar esse testemunho. Por isso, podemos descrever apenas os fatos espirituais dentro de nossa visão, de acordo com nossos estudos, pesquisas e as verdades colhidas de nossas experiências.
Do ponto de vista humano, o estupro é encarado como uma grave violência contra a mulher. Ele viola sua integridade física e psíquica. É sem dúvida uma marca que poderá ficar com a pessoa por anos, ou mesmo décadas. Pessoas submetidas a uma violência desse gênero devem procurar abordagens psicoterapêuticas para melhor elaborar essa experiência. O estupro é, sem sombra de dúvida, algo lamentável, condenável, injustificável, realizado por pessoas que ainda estão aprisionadas nas trevas da consciência.
Ninguém deve estimular o pensamento machista de que “A mulher facilitou o estupro”. Ideias como “Se ela estivesse em casa lavando roupa, isso não teria acontecido”. Ou “Se a mulher não andasse de minissaia, isso não ocorreria” acabam alimentando novos estupros. Esse é um pensamento machista, que acaba por colocar na mulher a responsabilidade sobre o estupro. Declarações como essa são o produto de uma sociedade que ainda guarda resquícios do patriarcado, onde o homem é o soberano e a mulher deve ser submissa e não fazer nada para “provocar” o homem. Isso deve ficar bem claro para todos: a responsabilidade do estupro, do ponto de vista humano, não é da mulher, mas sim do estuprador.
Do ponto de vista espiritual, o estupro, assim como outras formas de violência sofrida pelas pessoas, como o homicídio, o roubo, o latrocínio, a tortura etc., nada mais são do que provas que o espírito deve passar. O espírito, antes de encarnar no plano material, faz uma escolha das provas mais importantes a serem experimentadas, e essas provações são os caminhos ou os meios que ele se utilizará para seu desenvolvimento espiritual. Essas provas podem ter duas origens principais:
1) O espírito pode ter um karma passado com o estupro. Ele pode ter estuprado uma ou mais pessoas em suas vidas passadas, e na vida atual, ele precisa sentir em si mesmo a violência que praticou. Experimentando em si mesmo ato semelhante ao praticado em vidas passadas, ele tem a oportunidade de viver o choque da experiência que ele mesmo gerou, e assim, o espírito passa a entender mais profundamente seus próprios atos. Como tudo no universo está interligado, o que fazemos a outros sempre retorna para nós. Quando agredimos alguém, estamos na realidade agredindo a nós mesmos; quando estupramos ocorre o mesmo: estamos estuprando a nós mesmos. Tudo o que é produzido no outro ecoa em nós, é realizado para nós, é nossa obra que nos será devolvida mais cedo ou mais tarde. Dentro da realidade kármica, quando vemos uma pessoa ser estuprada e a tomamos como vítima, ignoramos toda a caminhada ou a história daquela alma. Não sabemos o que aquele espírito fez em vidas passadas, qual foi a sua obra, que atos ele praticou ao longo de dezenas de vidas. Vamos supor que um estuprador de uma criança morresse hoje e reencarnasse como uma criança que foi abusada. Alguém diria que essa alma é uma vítima? Não… Essa alma plantou o estupro em vidas passadas e colheu o estupro na vida atual. Assim, Deus não dá a ninguém nada além do que ele precisa e merece.
2) Outra alternativa é o espírito ter escolhido essa prova, mesmo sem ter um karma diretamente relacionado. Nesse caso, o espírito sente que é importante vivenciar o teor de uma prova como o estupro para aprender diversas coisas, como por exemplo:
a) o melhor entendimento sobre a sexualidade;
b) entender e respeitar o corpo do outro;
c) não cometer qualquer violação à intimidade alheia;
d) compreender o corpo como nosso templo e nossa morada transitória, e
e) respeitar o espaço de cada um, dentre outros aprendizados.
O estupro, assim como qualquer prova da vida material, pode abrir as portas da percepção do espírito para toda uma consciência a respeito do outro e da valorização e respeito de sua vontade e intimidade. Uma mulher estuprada pode com o tempo despertar para uma consciência onde o respeito, o cuidado, o amor, e outras virtudes prevaleçam. A consciência espiritual que pode advir de uma prova de violência física são impossíveis de se descrever, pois essa consciência é de um domínio espiritual que ainda escapa de nossa visão humana limitada.
O valor da prova reside na necessidade de se avançar espiritualmente. Quando uma pessoa almeja um emprego público, ela precisa ser submetida a uma prova de concurso, que vai testar seus conhecimentos. O mesmo ocorre com o espírito: quando o espírito aspira a mais felicidade, mais harmonia com o cosmos, mais paz etc.… ele precisa se submeter às provas da vida material e são justamente essas provas que abrirão os portais da felicidade e tranquilidade interior.
Mas é importante entender que uma pessoa passa por um estupro por um motivo, um propósito, que sempre está ligado a evolução do seu espírito. Isso significa que alguém que precisa de uma determinada prova sempre encontrará alguém de temperamento e energia semelhante, que poderá lhe proporcionar aquela prova. Um se une ao outro por questões de afinidade e sintonia. Um precisa atravessar a prova e o outro anseia em proporcionar a prova. Tudo se une de forma harmônica e perfeita.
O estupro, assim como outras formas de violência, são provas para o espírito. Não há outra maneira do espírito evoluir a não ser atravessando as provações da existência material. Infelizmente o ser humano aprende muito mais pela dor do que pelo amor.




[1] https://hugolapa.wordpress.com/category/espiritismo/

2 comentários:

  1. Texto excelente Hugo...

    Muito obrigado por ampliar meus horizontes e me influenciar positivamente para vivenciar a humildade ao emitir um comentário sobre questões sobre a visão espírita, deixando bem claro minha ignorância e visão diminuta sobre essas questões, quando conversar com outras pessoas sobre o assunto.

    Abraço forte e muita paz a todos.

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  2. Texto excelente Hugo...

    Muito obrigado por ampliar meus horizontes e me influenciar positivamente para vivenciar a humildade ao emitir um comentário sobre questões sobre a visão espírita, deixando bem claro minha ignorância e visão diminuta sobre essas questões, quando conversar com outras pessoas sobre o assunto.

    Abraço forte e muita paz a todos.

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