Dra. Marlene Rossi Severino
Nobre[2]
Para o grande público, estresse
é uma situação psicologicamente agressiva que repercute no corpo. Este, porém,
é apenas um dos aspectos do estresse, a sua versão psicossomática, há outros,
porém, a serem considerados. Na verdade, o ser humano vive em estado de
estresse permanente, bombardeado por fatores estressantes diversos - físicos, psicoemocionais,
e espirituais - que lhe exigem constante adaptação ao mundo que o cerca.
Os fatores estressantes
emocionais tanto podem ser tristes, como a morte de um ente querido, o
desemprego, quanto felizes, como o sucesso do atleta ou as alegrias do
reencontro - todos desencadeiam, do mesmo modo, os mecanismos e as consequências
do estresse. O mesmo acontece em relação aos abalos nervosos, como no estado de
cólera, medo etc., assim como frente aos fenômenos físicos nocivos - frio,
calor, fadiga, agentes tóxicos ou infecciosos, jejum, exercícios físicos
exagerados etc..
Na verdade, o estresse é a
resposta não específica que o corpo dá a toda demanda que lhe é feita. Ele
corresponde à interação entre uma força e a resistência do organismo a esta
força. É o complexo agressão-reação.
Se a agressão é ocasionada por
uma grande diversidade de fatores, a reação comporta uma parte idêntica, comum
a todos os indivíduos, e uma parte própria de cada um, denominada
"coping" ou aspecto específico da reação não específica.
A medicina hoje considera a
doença como sendo a resultante da agressão mais a reação não específica, mais
reação específica. Isto pode ser resumido em estresse mais coping. Desse modo,
considera-se a originalidade própria das reações específicas ao agente
estressor, superpostas às reações não específicas do estresse, criando a
diversidade dos aspectos clínicos.
Em 1936, Hans Selye, descobridor
do estresse, publicou os seus primeiros trabalhos sobre o assunto. Em 1950,
descreveu a Síndrome Geral de Adaptação - Reação de Alarme, estágio de
Resistência e de Exaustão - com seus aspectos bioquímicos e endócrinos,
mostrando qual a reação não específica do organismo às agressões do mundo
exterior. Para ele, a intensidade da demanda, a duração e a repetição
determinam a resposta. E condiciona o bom ou o mau estresse à eficiência ou não
da fase de adaptação. Para Selye, todo indivíduo tem um capital de energia
biológica diferente e pode consumir suas reservas conforme tenha maus
estresses.
Na reação de alarme, a primeira
resposta do organismo ao estresse, entra em ação o sistema
hipotálamo-simpático-adrenérgico que prepara o organismo para a luta ou fuga.
Entram em jogo a adrenalina e a noradrenalina, com isso, há muita produção de
glicogênio, taquicardia, respiração acelerada, concentração do sangue nos vasos
principais e nos músculos estriados, inibição dos sistemas digestivo, sexual e
imunológico.
Depois disso, outro sistema vai entrar em
jogo, o hipotálamo - hipófiso-suprarrenal com produção de ACTH e corticóides.
Esses sistemas entram em funcionamento na fase
de reação e o organismo pode sofrer esgotamento ou entrar na fase de exaustão,
tendo como resultado final doença e morte. São inúmeras as doenças de
adaptação, entre elas, hipertensão, úlcera, hemorroidas, ataques cardíacos,
acidente vascular cerebral, diabetes, enxaqueca etc..
Hoje, como avanço dos estudos,
considera-se o sistema limbo-hipotálamo-hipófiso-suprarrenaliano (LHHS).
Através do hipotálamo na zona parvocelular mediana do núcleo paraventricular
(NPV), são liberados o CRF, o Fator de liberação corticotrófico (Corticotrophin
Releasing Factor) e a Argenina Vasopressina (AVP) - que determinam a liberação
de ACTH pela hipófise e esta o cortisol pela suprarrenal.
Com vemos, o estresse está ligado ao centro
das emoções no hipotálamo, assim é importante o estudo de fatores como o medo,
a raiva etc., nos seus mecanismos e reações. Assim, quando o indivíduo sente raiva,
por exemplo, é como se ele estivesse diante de um predador, de um perigo
iminente e isto desencadeia a reação.
Como vimos, cada indivíduo tem
uma reação específica frente ao estresse. Ele coloca suas estratégias de ajuste
cognitivas e comportamentais, o "coping", para fazer face aos agentes
estressores.
As pesquisas têm demonstrado que
doenças como depressão estão absolutamente ligadas ao estresse. Investigação
ampla, realizada em 52 países, da qual participou o Dr. Alvaro Avezum, do
Brasil, acerca dos fatores de risco da doença cardíaca, demonstrou que os
psico-sociais entram em mais de 30% dos casos.
O estresse é o campo da medicina
que reunifica corpo e alma. O seu estudo está, portanto, intimamente ligado à
espiritualidade.
Segundo as lições espirituais dadas em 1947,
no livro “No Mundo Maior” [3],
o nosso cérebro tem três áreas distintas: a inicial, onde habita o automatismo
e que está no plano subconsciente, a do córtex motor que engloba as conquistas
do hoje e está na área do consciente e a dos lobos frontais que representam o
ideal e a meta superiores e estão vinculados ao superconsciente. Esta
classificação encontra respaldo no livro de Paul Maclean, de 1968, The Triune
Brain in Evolution, que nos fala acerca dessas três regiões, afirmando que vemos
o mundo através de três cérebros distintos.
Aprendemos também com os
Instrutores Espirituais que somos seres em evolução. Quanto mais perto nos
encontramos da animalidade mais agimos com instintos e sensações. Com o passar
do tempo, e a evolução espiritual consequente, passamos a ter sentimentos,
sendo o amor, o mais sublimado deles.
Se estamos escravizados aos instintos, a
maneira pela qual fazemos face aos fatores estressantes é muito primitiva e
resulta quase sempre em um mau estresse.
Aprendemos também que é preciso
humildade para vencer a animalidade inferior. Infelizmente, porém, em nossas
relações em sociedade e no lar estamos muito longe desse sentimento sublime que
está intimamente ligado ao amor.
Assim, a fé é importante porque
abre as portas do coração para sentir e viver o amor divino em nossas vidas.
Através da oração, da meditação, da compreensão do valor da dor, temos a
possibilidade de conhecermo-nos a nós mesmos e a reagirmos de forma mais
equilibrada às tensões da existência humana. Compreendemos, igualmente, que é
preciso treino para o perdão e para eliminação da raiva, da inveja, da mágoa e
de outros sentimentos negativos.
A nossa busca da paz para viver
no lar, no ambiente de trabalho, dentro da sociedade tem de ser centralizada em
Jesus, o Médico da Almas, que afirmou ter a paz verdadeira para nos oferecer.
Chico Xavier disse com muita sabedoria: "A paz em nós não resulta de
circunstâncias externas e sim da nossa tranquilidade de consciência no dever
cumprido." Para vencer positivamente o estresse é preciso guardar a paz,
tê-la como patrimônio. E esta pacificação interior que é responsável pelo
sucesso do "Coping", só será uma conquista definitiva quando houver
harmonia entre os três cérebros. Para isso, no entanto, é imprescindível não
esquecer que é preciso fé em Deus e obediência às Suas Leis.
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