Antônio Carlos Navarro [2]
A expressão que dá título a este
ensaio é muito utilizada no cotidiano, para justificar acontecimentos que não
temos explicações plausíveis.
Deixa a impressão de que foi a
vontade de Deus, e que não temos alternativa senão a de nos acomodarmos aos
Seus desígnios, vivendo como marionetes, sem termos participação ativa nos
acontecimentos da vida.
A vida tem um propósito, que é o
de dar ao espírito condições de atingir a perfeição, conforme nos esclarece o
Consolador Prometido por Nosso Senhor Jesus Cristo [3]:
“Qual é o objetivo da encarnação
dos Espíritos? – A Lei de Deus lhes impõe a encarnação com o objetivo de
fazê-los chegar à perfeição. Para uns é uma expiação; para outros é uma missão.
Mas, para chegar a essa perfeição, devem sofrer todas as tribulações da
existência corporal: é a expiação. A encarnação tem também um outro objetivo:
dar ao Espírito condições de cumprir sua parte na obra da criação…” [4]
Para o ser consciente de suas
condições e possibilidades de progresso, condicionado ao merecimento, a
participação no planejamento de sua futura existência física é, segundo os
Benfeitores Espirituais, condição comum às criaturas:
“Na espiritualidade, antes de
começar uma nova existência corporal, o Espírito tem consciência e previsão das
coisas que acontecerão durante sua vida? – Ele mesmo escolhe o gênero de provas
que quer passar. Nisso consiste seu livre-arbítrio.” [5]
Porém, para que não restassem
dúvidas a respeito, ao estudar a Lei de Liberdade, Allan Kardec, o eminente
codificador da Doutrina Espírita, questionou:
“Haverá fatalidade nos
acontecimentos da vida, conforme o sentido que se dá a essa palavra, ou seja,
todos os acontecimentos são predeterminados? Nesse caso, como fica o
livre-arbítrio? – A fatalidade existe apenas na escolha que o Espírito fez ao
encarnar e suportar esta ou aquela prova. E da escolha resulta uma espécie de
destino, que é a própria consequência da posição que ele próprio escolheu e em
que se acha. Falo das provas de natureza física, porque, quanto às de natureza
moral e às tentações, o Espírito, ao conservar seu livre-arbítrio quanto ao bem
e ao mal, é sempre senhor para ceder ou resistir. Um bom Espírito, ao vê-lo
fraquejar, pode vir em sua ajuda, mas não pode influir de modo a dominar sua
vontade. Um Espírito mau, ao lhe mostrar de forma exagerada um perigo físico,
pode abalá-lo e assustá-lo. Porém, a vontade do Espírito encarnado está
constantemente livre para decidir.” 5
O esquecimento do que foi
proposto pelo próprio espírito é justificado:
“A cada nova existência o homem
tem mais inteligência e pode melhor distinguir o bem do mal. Onde estaria o
mérito, ao se lembrar de todo o passado? Quando o Espírito volta à sua vida
primitiva (a vida espírita), toda sua vida passada se desenrola diante dele; vê
as faltas que cometeu e que são a causa de seu sofrimento e o que poderia
impedi-lo de cometê-las. Compreende que a posição que lhe foi dada foi justa e
procura então uma nova existência em que poderia reparar aquela que acabou. Escolhe
provas parecidas com as que passou ou as lutas que acredita serem úteis para o
seu adiantamento, e pede a Espíritos Superiores para ajudá-lo nessa nova tarefa
que empreende, porque sabe que o Espírito que lhe será dado por guia nessa nova
existência procurará fazê-lo reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie de
intuição das que cometeu.” [6]
Não podemos negligenciar o uso
da inteligência para entendimento racional das circunstâncias. As prevenções,
cuidados e planejamentos são atribuições nossas na vida física, e se nos
deixarmos levar pela precipitação e ansiedade estaremos expostos a
acontecimentos decorrentes que nem sempre teríamos necessidades de vivenciar.
O Benfeitor Espiritual André
Luiz nos esclarece:
“Incorporando a
responsabilidade, a consciência vibra desperta e, pela consciência desperta, os
princípios de ação e reação funcionam, exatos, dentro do próprio ser,
assegurando-se a liberdade de escolha e impondo-lhe, mecanicamente os
resultados respectivos, tanto na esfera física quanto no Mundo Espiritual [7].
Alguns acontecimentos que estão
previstos são inevitáveis em função de necessidades espirituais maiores, outros
poderão ser evitados com o simples uso da reflexão, do bom senso e da oração,
conforme asseverou o Senhor Jesus, e sempre será infrutífero buscar identificar
uma e outra coisa na tentativa de melhor proveito das situações. O melhor é
vivermos confiantes na justiça divina, fazendo a nossa parte, porque, na Sua
perfeição, Deus está fazendo a Dele, afinal de contas “não cai uma folha de árvore
sem que Ele o saiba”.
Pensemos nisso.
[2] Antônio Carlos Navarro é membro da Rede Amigo Espírita,
estudioso e palestrante espírita. Trabalhador do Centro Espírita Francisco
Cândido Xavier em São José do Rio Preto – SP - e-mail: antoniocarlosnavarro@gmail.com
[3] João 14:26
[4] O Livro dos Espíritos, questão 132
[5] Idem, questão 258
[6] O Livro dos Espíritos, questão 393
[7] Evolução em Dois Mundos, cap. 11 – Existência da alma
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