Andrei Moreira[2]
O HIV é um retrovírus
transmitido por via sexual, transfusões sanguíneas, compartilhamento de
seringas ou de mãe contaminada para o feto, no parto ou amamentação. Ele se
multiplica no organismo destruindo as células de defesa, os glóbulos brancos,
mais especificamente os linfócitos T CD4. Quando esse exército natural do corpo
humano está bastante diminuído, estabelece-se a imunodeficiência, ou AIDS, que
abre as portas para infecções oportunistas que debilitam e causam sofrimento ao
indivíduo nessa condição. Atualmente, existem cerca de 40 milhões de portadores
do vírus HIV em todo mundo, concentrando-se a maioria na África subsaariana.
Existem potentes coquetéis antirretrovirais que impedem a multiplicação viral,
auxiliando a evitar a AIDS, diminuindo doenças oportunistas e aumentando a
longevidade e qualidade de vida do portador do vírus.
Na visão espírita, o ser humano
é entendido sob o prisma da imortalidade da alma, como um ser eterno, filho de
Deus, que marcha rumo ao progresso e à felicidade exercendo a liberdade
relativa dada por Deus aos seus filhos. Nesse processo, passa pelas múltiplas
vidas sucessivas, ou reencarnação, guiado pelas leis de justiça e misericórdia,
ambas derivações da Lei do Amor, que regulam o equilíbrio da criação.
Toda vez que o exercício da
liberdade humana fere a Lei do Amor, o ser entra em desequilíbrio consigo mesmo
e com o universo, e quando insiste em seu comportamento, confirmando tendências
e hábitos, e muitas vezes construindo vícios na alma, aciona mecanismos
automáticos e naturais de reequilíbrio e re-harmonização perante a lei divina,
que está inscrita na sua consciência. Guiado pelo amor, o ser evolui
construindo o seu percurso da maneira que lhe apraz, determinando ações que
geram reações, dentro da Lei de Progresso inexorável. Dessa forma, atrai para
si as circunstâncias a que faz jus e que necessita, com vistas ao crescimento,
bem como constrói circunstâncias que não seriam exatamente necessárias para seu
progresso, mas que expressam seu momento evolutivo e suas dificuldades morais.
O corpo humano, guardando
sabedoria inata a serviço do espírito imortal que o habita e conduz, obedece à
consciência profunda manifestando saúde ou doença conforme esteja o ser
equilibrado ou desequilibrado perante a Lei do Amor, seja consigo mesmo ou com
o próximo. Nessa visão, as doenças se manifestam como resultado do
posicionamento do ser no mundo, de acordo com seu pensar, falar e agir,
posicionamento este reafirmado ao longo do tempo, das vidas sucessivas, e
muitas vezes cristalizado em atitudes de desamor e desconsideração aos
sentimentos superiores do amor, respeito, consideração etc. A doença se
apresenta como um convite, um chamado da alma, manifestando seu momento
evolutivo, seus conflitos, seu estado mental e emocional, bem como suas
necessidades espirituais.
Ao reencarnar, o espírito
escolhe o gênero de suas provas e, por meio da análise do seu presente estado,
derivado de seu passado espiritual, sabe de suas tendências e predisposições,
escolhendo as provas que lhe sirvam como fonte de progresso e expiação das
faltas cometidas, visando pacificar a consciência e manifestar saúde total, do
corpo e da alma.
André Luiz nos orienta que as
doenças infectocontagiosas se estabelecem sobre zonas de predisposição mórbida
que existam no psiquismo e no corpo espiritual, como consequência natural da
ressonância magnética e da necessidade de reequilíbrio do ser imortal. A
infecção pelo HIV é uma circunstância atraída pelo indivíduo para sua vida por
variados motivos, que devem sempre ser individualizados, mas que, em linha
gerais, podemos dizer que oportuniza o desenvolvimento do auto-amor, do
autocuidado, da individuação, o estabelecimento de limites e, sobretudo, a
reeducação sexual e afetiva profundas, quando este aproveita a condição para seu
despertamento espiritual.
André Luiz nos esclarece que
“muito raramente não estão as doenças diretamente relacionadas ao psiquismo.
Todos os órgãos são subordinados à ascendência moral.” O padrão mental e
emocional do portador do vírus, bem como as mudanças que faça para tornar-se
mais amoroso consigo mesmo e com o próximo, mais cuidadoso com as relações
afetivas e com os compromissos assumidos com outros corações, atuarão
diretamente na intimidade das células e do sistema imunológico, ativando as
defesas naturais do corpo e inibindo a replicação viral. Dessa forma, o HIV
pode se tornar uma doença crônica controlável, assim como o diabetes ou a
hipertensão arterial, não acarretando sofrimentos dispensáveis visto que o amor
cumpriu seu papel educativo na vida do indivíduo. A mensagem do Cristo,
expressa na sabedoria do evangelho, convida a todos a refletir na sua posição
como filhos de Deus, no seu papel co-criador e no desenvolvimento dos dons
divinos que haja em si. Ela representa a fórmula de saúde por excelência,
conduzindo o homem de volta a Deus.
O espírito Joseph Gleber, médico
alemão do séc. XX, nos informa que “Saúde é a real conexão criatura-criador, e
a doença o contrário momentâneo de tal fato”. Útil, portanto, questionar,
diante da infecção pelo HIV os por quês e os para quês da experiência,
extraindo da dor o amadurecimento imprescindível para extingui-la com proveito.
Para tal se faz necessário uma postura permanente de auto-atenção e
autoconhecimento, bem como esforço pelo domínio de si mesmo, dentro da
perspectiva otimista e esperançosa que o evangelho propõe. Nessa visão não
cabem culpas, pensamentos ou ações depressivas e autopunitivas, e sim coragem e
ânimo renovado para vencer-se a cada dia, desenvolvendo o auto-amor que auxilie
a despertar o amor ao próximo, como medidas de cura efetiva da alma.
O espírito Franklim nos oferece
um testemunho de sua experiência de amadurecimento com o HIV, dizendo “No meu
caso em particular, a aids funcionou como o anjo da dor que me libertou das
garras da viciação e do desequilíbrio moral. Talvez alguns estranhem por eu
falar dessa forma, mas após a jornada triste e sombria que eu realizei, quando
encarnado, nas loucuras do desregramento, a doença realmente funcionou como um
freio, proporcionando-me a oportunidade de rever meus passos na vida moral, e,
graças à ajuda dos amigos espirituais, pude libertar a minha consciência do
pesadelo do mal e do desequilíbrio”
A doutrina espírita, ofertando
esclarecimentos e orientações sobre a natureza do ser e sua íntima relação com
a matéria, as consequências físicas e morais de seus atos, oferece amplo
caminho de aceitação de si mesmo e responsabilização espiritual perante as
circunstâncias do caminho. A fluidoterapia, por meio dos passes e água
magnetizada, bem como a renovação dos padrões da alma, são recursos
medicamentosos efetivos e profundos oferecidos gratuitamente, bastando a
aceitação do sujeito de suas responsabilidades e potencialidades espirituais e
a decisão por melhorar-se continuamente na marcha do progresso.
A casa espírita, enquanto local
sagrado de acolhimento e educação dos convidados de Jesus, deve ser o espaço de
fraternidade e instrução, que abra os passos para os portadores do vírus HIV e
das demais patologias, que desejem se entender sob a visão imortalista
espírita, sem críticas, preconceitos ou julgamentos. O trabalho espírita,
centrado no amor ao próximo orientado por Jesus, é o trabalho de compaixão e
misericórdia, ofertando àqueles que assim desejem campo abençoado de estudo e
trabalho, renovação e entendimento, para a conquista da saúde integral.
Finalmente, a casa espírita deve
cumprir seu papel de estimuladora e propiciadora das práticas no bem, nosso
maior e melhor advogado em todas as horas. Diz-nos Emmanuel que “quando a
justiça nos procure para acerto de contas, se nos encontra trabalhando em favor
do próximo, manda a misericórdia divina que ela retorne sobre seus passos sem
data prevista de retorno”. E complementa André Luiz: “o bem constante gera o
bem constante e, mantida a nossa movimentação infatigável no bem, todo o mal
por nós amontoado se atenua, gradativamente, desaparecendo ao impacto das
vibrações de auxilio, nascidas, a nosso favor, em todos aqueles aos quais
dirijamos a mensagem de entendimento e amor puro, sem necessidade expressa de
recorrermos ao concurso da enfermidade para eliminar os resquícios de treva
que, eventualmente, se nos incorporem, ainda, ao fundo mental. Amparo aos
outros cria amparo a nós próprios, motivo porque os princípios de Jesus,
desterrando de nós animalidade e orgulho, vaidade e cobiça, crueldade e
avareza, e exortando-nos à simplicidade e à humildade, à fraternidade sem
limites e ao perdão incondicional, estabelecem, quando observados, a imunologia
perfeita em nossa vida interior, fortalecendo-nos o poder da mente na
auto-defensiva contra todos os elementos destruidores e degradantes que nos
cercam e articulando-nos as possibilidades imprescindíveis à evolução para
Deus”.
[2] Médico de família e comunidade e Homeopata - Presidente
da Associação Médico-Espírita de MG – Brasil
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