terça-feira, 8 de dezembro de 2015

DESCALABROS MORAIS[1]



Joanna de Ângelis[2]

 
Sucedem-se, em volúpia surpreendente, os escândalos na sociedade contemporânea, que se sente aturdida sob o clamor das decepções e dos desencantos em escala crescente. Causando grande impacto a princípio, alcançam nível de acontecimento comum e trivial, quando o mais recente, sempre mais escabroso, diminui ou apaga as impressões perturbadoras do anterior.
São de todo jaez, tendo as suas raízes no egoísmo e na prepotência humana, decorrente do atavismo animal.
Conhecidos em todas as épocas da História, na civilização atual atingem um clímax alarmante e sem precedentes.
Cidadãos masculinos e femininos de alto coturno social, que se apresentam como verdadeiros modelos de triunfo, de repente são arrolados como criminosos vulgares, em razão dos seus torpes compromissos morais, que revelam a lama sobre a qual edificam as aparências brilhantes.
Desvios sexuais, que se tornam comportamentos aplaudidos, infidelidade conjugal e adultério, suborno e tráfico de influência, de drogas, de contratos multimilionários, de criaturas humanas crucificadas na escravidão, corrupção de todos os matizes, são-lhes as feridas purulentas ocultas em tecidos caros, em roupas luxuosas, sob adereços caríssimos e em ambientes de alto poder de consumo...
Sem o pudor nem a dignidade que fingem defender e vivenciar, utilizam-se dos expedientes sórdidos do crime para acumular fortunas incalculáveis, emparedadas em cofres de aço de segurança máxima em paraísos fiscais e bancos internacionais.
Os recursos que reúnem com doentia avidez, se aplicados na educação das novas gerações e no trabalho que fomenta o progresso, conseguiriam afugentar os devastadores fantasmas da fome, das doenças e a cruel violência que semeia o terror em toda parte, culminando em guerras terríveis, algumas não declaradas...
Indiciados, após acusações vergonhosas dos seus comparsas, não dispõem da mínima compostura, lutando para provar inocência irônica e mentirosa.
Utilizam-se, os seus defensores, das brechas das leis benignas, algumas por eles mesmos elaboradas para o retorno ao convívio social, sem a mínima demonstração de honorabilidade.
Tendo anestesiada a consciência que adaptaram às circunstâncias da corrupção, deixam transparecer que a sua é a conduta correta, com os descalabros morais de que se revestem.
Felizmente, a facilidade de comunicação desmascara-os e embora nem sempre sejam punidos conforme são merecedores, vivem asfixiados nos pântanos em que se atiraram.
Cada dia são desmontadas novas quadrilhas de luxo nos altos escalões da sociedade.
Essas vítimas do materialismo enlouquecido, que acreditam somente no poder do dinheiro, das posições relevantes, não podem fugir da própria consumpção, do passar do tempo, das doenças e da morte.
Creem-se inteligentes pela habilidade de burlar as leis, de enganar aos demais, quando, em realidade, são apenas astutos de breve trânsito no corpo.
Infelizmente, o triste espetáculo mascara a cultura de desregramentos a caminho do caos.
*
Nem todos os indivíduos terrestres encontram-se malsinados com o sinete da desonra. Esses, os desonestos, chamam a atenção e parecem, constituir a grande mole humana.
Embora desconhecidos, existem em todos os segmentos sociais indivíduos honoráveis e dignos.
São eles os pilotis, sobre os quais se constroem a civilização, a ética e a cultura sadia.
Este é um momento de transição espiritual que alcança todos os programas da evolução terrestre.
Enfrentam-se as duas sociedades: a decadente, que está acostumada ao mal e aqueloutra, a digna, que labora no bem.
A vitória, sem dúvida, inevitável, é da seriedade, do comportamento sadio, porque o crime é desvio de conduta, não é o comportamento correto.
Não se deve, portanto, permanecer em dúvida íntima em face do triunfo enganoso dos criminosos bem-vestidos e invejados.
Ignoras os conflitos que os aturdem, porque ninguém consegue viver irregularmente e em paz. Eles afogam os tormentos, ou pelo menos tentam, nas libações alcoólicas, nos excessos sexuais, nas drogas ilícitas, a fim de permanecerem no palco do prazer, desconfiados e temerosos.
Não os invejes, não os antipatizes. Eles já estão sobrecarregados de preocupações, insatisfeitos com a própria existência, que perdeu o sentido psicológico e fundamental da vida.
São triunfadores, sim, mas algozes de si mesmos.
O comportamento correto é o único a propiciar harmonia íntima.
Confia em Deus e na Sua paternal misericórdia.
Reflexiona em torno dos sofredores que também rebolcam em dores terríveis ao teu lado. Estão ressarcindo o comportamento alucinado de existências pretéritas.
O mesmo acontecerá aos fantoches aplaudidos de hoje pelos seus aficionados.
Quanto a ti, age sempre com retidão, cultivando o bem em todas as circunstâncias.
*
Quem visse Aquele Homem sob o peso da cruz e Pilatos, o Seu crucificador, acreditaria que o representante de César era o triunfador.
Logo depois, Pilatos foi mandado para o exílio e suicidou-se, enquanto o Homem condenado morreu e ressuscitou, em triunfo de imortalidade.
Pensa, desse modo, na glória terrestre e na espiritual, e faze a tua escolha.



[2] Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 1º de junho de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

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