The New York Times - John Markoff
- 26/10/2015 - Tradutor: Eloise De Vylder
A
descoberta é mais um golpe para um dos princípios fundamentais da física
clássica conhecido como "localidade", que afirma que um objeto é
influenciado diretamente apenas pelo seu entorno imediato.
O
estudo de Delft, publicado na quarta-feira (21) na revista Nature, dá mais credibilidade a uma ideia que Albert Einstein
rejeitou notoriamente. Ele dizia que a teoria quântica exigia uma "ação
fantasmagórica à distância", e ele se recusava a aceitar a noção de que o
universo podia se comportar de uma forma tão estranha e aparentemente
aleatória.
O
novo experimento, realizado por um grupo liderado por Ronald Hanson, um físico
do Instituto Kavli de Nanociência da universidade holandesa, em conjunto com
cientistas da Espanha e Inglaterra, é a evidência mais forte para apoiar as
asserções mais fundamentais da teoria da mecânica quântica sobre a existência
de um mundo estranho formado por um tecido de partículas subatômicas em que a
matéria só toma forma depois que é observada e que o tempo corre para trás ou
para frente.
Os
pesquisadores descreveram sua experiência como um "teste livre de falhas
do teorema de Bell" em referência a um experimento proposto em 1964 pelo
físico John Stewart Bell como forma de provar que a "ação fantasmagórica à
distância" é real.
"Estes
testes vêm sendo feitos desde o final dos anos 70, mas sempre de uma forma que
exige pressupostos adicionais", disse Hanson. "Agora confirmamos que
a ação fantasmagórica à distância existe."
Os
cientistas dizem que já descartaram todas as chamadas variáveis ocultas
possíveis que ofereceriam explicações para esse "emaranhamento" de
longa distância com base nas leis da física clássica.
Os
pesquisadores de Delft conseguiram emaranhar dois elétrons separados por uma
distância de 1,3 km e, em seguida, compartilhar informações entre eles. Os
físicos usam o termo "emaranhamento" para se referir a pares de
partículas que são gerados de tal maneira que elas não podem ser descritas
separadamente. Os cientistas colocaram dois diamantes em extremos opostos do
campus da Universidade de Delft, a 1,3 km de distância um do outro.
Cada
diamante continha uma pequena armadilha para elétrons isolados, que têm uma
propriedade magnética chamada "spin". Pulsos de laser e micro-ondas
foram utilizados então para emaranhar os elétrons e medir seu "spin".
A
distância – com detectores instalados em lados opostos do campus – assegurou
que a informação não poderia ser trocada por meios convencionais dentro do
tempo necessário para fazer a medição.
"Acho
que esta é uma experiência bela e simples e vai ajudar todo o campo a
avançar", disse David Kaiser, físico do MIT (Instituto de Tecnologia de
Massachusetts), que não esteve envolvido no estudo. No entanto, Kaiser, que faz
parte de outro grupo de físicos que está se preparando para realizar um
experimento ainda mais ambicioso no ano que vem, medindo a luz capturada nos
confins do universo, também acha que nem toda centelha de dúvida foi eliminada
pelo experimento holandês.
Os
testes acontecem num mundo peculiar que desafia a compreensão. De acordo com a
mecânica quântica, as partículas só assumem as propriedades da forma quando são
medidas ou observadas de alguma maneira. Até então, elas podem existir
simultaneamente em dois ou mais lugares. Uma vez medidas, no entanto, elas se
encaixam numa realidade mais clássica, que existe num só lugar.
De
fato, o experimento não é apenas uma defesa da teoria exótica da mecânica
quântica, é um passo em direção a uma aplicação prática conhecida como
"internet quântica". Atualmente, a segurança da internet e a
infraestrutura do comércio eletrônico estão se fragilizando diante de
computadores poderosos que representam um problema para as tecnologias de
criptografia baseadas na capacidade de fatorar números grandes e outras
estratégias semelhantes.
Pesquisadores
como Hanson imaginam uma rede de comunicação quântica formada a partir de uma
cadeia de partículas emaranhadas circundando todo o globo. Essa rede permitiria
compartilhar chaves criptográficas de forma segura, e saber sobre as tentativas
de espionagem com certeza absoluta.
Para
alguns físicos, embora o novo experimento afirme ser "livre de
falhas", a questão ainda não está totalmente resolvida.
"O
experimento eliminou duas das três principais falhas, mas duas em cada três não
são três", disse Kaiser. "Acredito plenamente que a mecânica quântica
é a descrição correta da natureza. Mas afirmar isso de forma categórica,
francamente, ainda não chegamos lá."
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