sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Os desafios da Casa Espírita[1]


José Passini - jose.passini@gmail.com


Inegavelmente, o Espiritismo está na vanguarda do pensamento religioso do mundo. Um Centro Espírita é, na Terra, um posto avançado da Espiritualidade superior. E, como ainda estamos num mundo de provas e expiações, as investidas das trevas para desestruturá-lo são constantes.
Houve tempo em que os ataques provinham de fora, como um bombardeio, mas hoje as trevas procuram atuar no interior das casas espíritas, aplicando um processo de implosão. Os inimigos da Doutrina já se convenceram de que o bombardeio externo não produz os efeitos desejados. Pelo contrário, constituem até propaganda. O Espiritismo já venceu a batalha exterior, pois hoje é respeitado e as suas casas não mais são molestadas como o eram antigamente, até com ataques físicos. Hoje, o desafio maior é no interior delas, porque atualmente os inimigos do Bem procuram agir dentro da própria Casa Espírita, semeando a discórdia, o descontentamento, o estrelismo, entre os colaboradores.
Por isso, o “orai e vigiai para não cairdes em tentação” (Mateus, 26:41) é ensinamento para ser lembrado a toda hora. A manutenção do bom clima espiritual não deve ser deixada por conta somente dos trabalhadores espirituais.
Além das reuniões de trabalho rotineiro deverão haver outras, de simples convivência, entre os trabalhadores. Um cafezinho, um chá, tudo muito simples, sem oportunidade para concursos de iguarias.
Compromisso diário de todos os colaboradores: leitura de uma página de um bom livro, como estes: Pão Nosso, Vinha de luz, Fonte Viva, Caminho, Verdade e Vida, Ceifa de Luz, ou obra similar, e depois alguns minutos de reflexão e prece. Cultivo incessante da sinceridade, mas não da franqueza rude. Cultivo constante da boa vontade. Cuidado para não abrigar pensamentos negativos em relação aos companheiros. Prática constante da higiene mental.
Leitura frequente de livros como Nosso Lar, observando como se relacionam os trabalhadores no mundo espiritual, atentando-se para o cuidado com os comentários feitos, tanto orais quanto mentais.
O trabalhador deve sempre lembrar-se de que tem de orar, com unção, pensando no alcance do trabalho, valorizando-o, assim impedindo que se estabeleça um clima de simples rotina. O trabalhador deve cultivar um estado de espírito que retrate sempre o entusiasmo dos primeiros tempos em que foi admitido na tarefa. Deve, periodicamente, em clima de prece, avaliar, refletir, analisar seu próprio desempenho. Deve lembrar-se de que, durante o sono, pode continuar seus estudos, visando a um aprimoramento na sua capacidade de servir. (Missionários da luz, cap. 8.)
O trabalhador de qualquer setor de uma Casa Espírita, ao buscar servir com dedicação, tem a oportunidade de preparar-se adequadamente para a convivência e o serviço no mundo espiritual, aonde irá depois de desencarnar, para apenas continuar servindo. Para o trabalhador verdadeiramente integrado na tarefa espírita, a desencarnação significará somente a mudança do lugar de serviço. Nas reuniões abertas ao público, deve ser dada atenção especial à recepção das pessoas que chegam à Casa Espírita. O acolhimento fraternal é de valor inestimável, pois não raro coroa os esforços de um Espírito que para ali encaminhou seu protegido.
Deve merecer especial cuidado o material escrito que é passado ao público, seja na livraria ou na simples distribuição de jornais, revistas ou panfletos. Nada, que não tenha passado pelo exame rigoroso de pessoas responsáveis, deverá ser entregue ao público.
A tribuna só deverá ser franqueada a pessoas bem conhecidas dos responsáveis pela Casa, não só quanto ao conhecimento doutrinário e capacidade de comunicação, mas também quanto à sua conduta pessoal.
Muito importante é a divisão do acervo literário. A Casa Espírita deverá ter uma biblioteca para consulta e empréstimo, constituída de obras de base doutrinária indiscutível, devidamente examinadas pelos responsáveis. Qualquer obra nova só poderá ser posta ao alcance do público depois de criteriosamente avaliada, pois tudo o que o leigo adquirir no Centro será tomado como pensamento espírita.
Uma biblioteca interna – para estudo dos trabalhadores da Casa – poderá conter até livros que combatam o Espiritismo. Entretanto, se, por um lado, podemos “examinar tudo”, como disse o Apóstolo Paulo (I Tessalonicenses, 5:21), por outro, só devemos passar ao público, numa Casa Espírita, aquilo que se enquadre perfeitamente nos postulados espíritas.
Deve-se ter especial cuidado para que o Centro Espírita não se torne uma “casa de bênçãos”, onde não haja esclarecimento suficiente sobre o uso e a eficácia do passe, da água fluidificada e da mediunidade. O público deve ser informado periodicamente sobre a finalidade terapêutica do passe e da água fluidificada, a fim de que não sejam tomados como parte rotineira das práticas espíritas.
Cuidar para que as palestras não fiquem exclusivamente no campo científico, nem unicamente naquele do sentimento. Jesus sempre sensibilizou o coração falando igualmente à razão, o que levou Kardec a inserir, na folha de rosto de O Evangelho segundo o Espiritismo, este ensinamento lapidar: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão em todas as épocas da humanidade”.
A prática mediúnica deve ser dirigida prioritariamente ao socorro e encaminhamento de Espíritos desencarnados que se encontram em sofrimento, causando, por vezes, dificuldades a desencarnados e a encarnados, em fenômenos obsessivos.
Hoje, infelizmente, em muitas casas espíritas a introdução do estudo da mediunidade e da avaliação do trabalho mediúnico ainda constitui um sério desafio.
Atualmente, está se generalizando a prática da psicografia como correio do Além, produzindo até mensagens sob encomenda. Nesse particular, deve ser lembrada a sábia advertência de Chico Xavier: “O telefone toca de lá para cá”.
Outro desvio do uso da mediunidade refere-se à produção desenfreada de livros, sem que tenham passado pelo imprescindível controle doutrinário. Muitas obras comprometedoras são comercializadas sob a capa de obtenção de recursos para manutenção de creches, de abrigos para idosos, de auxílio aos pobres, como se o fim justificasse os meios.
Chás, lanches, almoços e jantares, visando a obtenção de recursos deverão ser levados a efeito com parcimônia, para não se tornarem prática constante, capaz de desviar os objetivos da Casa Espírita. O Centro Espírita deve ser, antes de tudo, uma escola de educação de almas.


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