Os ensinos que dos Espíritos
recebemos a respeito de suas condições depois da morte fazem-nos melhor
compreender as regras segundo as quais se transforma e progride o perispírito
ou corpo fluídico.
Assim, como já em outra parte
indicamos, a mesma força que leva o ser, em sua evolução através dos séculos, a
criar, para as suas necessidades e tendências, os órgãos precisos ao seu
desenvolvimento; por uma ação análoga e paralela, também o Incita a aperfeiçoar
suas faculdades, a criar para si novos meios de manifestar-se, apropriados a
seu estado fluídico, intelectual e moral.
O Invólucro fluídico do ser
depura-se, ilumina-se ou obscurece-se, segundo a natureza elevada ou grosseira
dos pensamentos em si refletidos. Qualquer ato, qualquer pensamento repercute e
grava-se no perispírito. Dai as consequências Inevitáveis para a situação da
própria alma, embora esta seja sempre senhora de modificar o seu estado pela
ação continua que exerce sobre seu invólucro.
A vontade é a faculdade soberana
da alma, a força espiritual por excelência, e pode mesmo dizer-se que é a
essência da sua personalidade. Seu poder sobre os fluídos é acrescido com a
elevação do Espírito. No meio terrestre, seus efeitos sobre a matéria são
limitados, porque o homem se ignora e não sabe utilizar-se das forças que estão
em si; porém, nos mundos mais adiantados, o ser humano, que já tem aprendido a
querer, impera sobre a natureza Inteira, dirige facilmente os fluídos, produz
fenômenos, metamorfoses que vão até ao prodígio. No espaço e nesses mundos, a
matéria apresenta-se sob estados fluídicos de que apenas podemos ter uma ideia
vaga. Assim como na Terra certas combinações químicas se produzem unicamente
sob a Influência da luz, assim também, nesses meios, os fluídos não se unem nem
se ligam senão por um ato da vontade dos seres superiores.
Entretanto, a ação da vontade
sobre a matéria entrou no domínio da experiência científica, graças ao estudo
dos fenômenos magnéticos, feito por numerosos fisiologistas sob as denominações
de hipnotismo e de sugestão mental. Já se têm visto experimentadores, por um
ato direto da vontade, fazerem aparecer chagas e estigmas sobre o corpo de
certos indivíduos, fazerem daí correr sangue ou humores e, em seguida, operarem
o curativo por uma volição contrária. Assim, a vontade humana destrói e repara
a bel-prazer os tecidos vivos; pode também modificar as substâncias materiais a
ponto de comunicar-lhes propriedades novas, provocando a ebriedade com água simples,
etc. Atua mesmo sobre os fluídos e cria objetos, corpos, que os hipnotizados veem,
sentem, tocam, e que, para eles, têm uma existência positiva e obedecem a todas
as leis da óptica. É isso o que resulta das pesquisas e dos trabalhos dos Drs.
Charcot, Dumontpeilier, Liébault, Bernheim, dos professores Liégeois, Delbffiuf
etc., cujas demonstrações podem ser lidas em todas as revistas médicas.
Ora, se a vontade exerce tal
influência sobre a matéria bruta e sobre os fluídos rudimentares, tanto melhor
se compreenderá seu império sobre o perispírito e os progressos ou as desordens
que nele determina, segundo a natureza de sua ação, tanto no curso da vida como
após a desencarnação.
Todo ato da vontade, já o
dissemos, reveste uma forma, uma aparência fluídica, que se grava no invólucro
perispirítico. Torna-se evidente que, se esses atos fossem inspirados por
paixões materiais, sua forma seria material e grosseira. As moléculas
perispirituais, impregnadas, saturadas dessas formas, dessas imagens, materializam-se
a seu contato, espessam-se cada vez mais, aproximam-se, condensam-se. Desde que
as mesmas causas se reproduzam, os mesmos efeitos acumulam-se, a condensação
acelera-se, os sentidos enfraquecem-se e atrofiam-se, as vibrações diminuem de
força e reduzem-se. Por ocasião da morte acha-se o Espírito envolvido por
fluídos opacos e pesados que não mais deixam passar as impressões do mundo
exterior e tornam-se para a alma uma prisão e um túmulo. Esse é o castigo
preparado pelo próprio Espírito; essa situação é obra sua e somente cessa
quando aspirações mais elevadas, o arrependimento, a vontade de melhorar, vêm romper
a cadeia material que o enjaula.
Efetivamente, se as paixões
baixas e materiais perturbam, obscurecem o organismo fluídico, os pensamentos
generosos, em um sentido oposto, as ações nobres apuram e dilatam as moléculas
perispiríticas. Sabemos que as propriedades da matéria aumentam com seu grau de
pureza. As experiências de Wilhiam Crookes demonstraram que a rarefação dos
átomos produz o estado radiante. A matéria, sob este aspecto sutil, Inflama-se,
torna-se luminosa, Imponderável. O mesmo sucede com a substância perispiritual,
pois esta é ainda matéria, porém em grau mais quintessenciado. Rarefazendo-se,
ganha sutileza e sensibilidade; seu poder de irradiação e sua energia aumentam proporcionalmente
e permitem-lhe que escape às atrações terrestres. O Espírito adquire, então,
sentidos novos, com cujo auxílio poderá penetrar em meios mais puros,
comunicar-se com seres mais etéreos. Essas faculdades, esses sentidos, que
franqueiam o acesso das regiões felizes, podem ser conquistados e desenvolvidos
por qualquer alma humana, visto todas possuírem os seus germes imperecíveis. As
nossas vidas sucessivas, cheias de trabalhos e de esforços, têm por alvo fazer
desabrochar em nós essas faculdades. Já neste mundo as vemos despontar em
certos indivíduos que, por seu intermédio, entram em relações com o mundo
oculto. Os médiuns em geral estão neste caso. Sem dúvida, o seu número
aumentará com o progresso moral e a difusão da verdade. Pode-se prever que, um
dia, a grande maioria dos entes humanos será apta a receber diretamente os
ensinos desses seres Invisíveis cuja existência ainda ontem negava.
Essa evolução paralela entre a matéria
e o Espírito, pela qual o ser conquista seus órgãos, suas faculdades; pela qual
se constrói a si mesmo e se aperfeiçoa sem cessar, mostra-nos ainda a
solidariedade que liga as forças universais, o mundo das almas e o mundo dos
corpos. Mostra-nos principalmente riquezas, inesgotáveis recursos que o ser
pode criar por um uso metódico e perseverante da vontade, pois esta é a força
suprema, é a própria alma exercendo seu império sobre as potências inferiores.
Para regular o nosso
adiantamento, preparar o nosso futuro, fortificarmo-nos ou nos rebaixarmos, é
bastante fazer uso da vontade. Não há acaso nem fatalidade, mas, sim, forças e
leis. Utilizar, governar umas, observar outras, eis o segredo de toda a
grandeza e elevação. Os resultados produzidos entre nós pela vontade perturbam
a imaginação dos mundanos e provocam a admiração dos sábios[2]
(98). Tudo isso é, entretanto, pouca coisa ao lado dos efeitos obtidos nesses
meios superiores em que, por determinação do Espírito, todas as forças se
combinam e entram em ação. E se, nessa ordem de ideias, elevássemos ainda mais
o nosso pensamento, não chegaríamos, por analogia, a entrever como a vontade
divina, atuando sobre a matéria cósmica, pode formar sóis, traçar as órbitas do
mundo, criar os universos?
Sim, tudo pode a vontade
exercida no sentido do bem e de acordo com as leis naturais. Muito também pode
para o mal. Nossos maus pensamentos, nossos desejos impuros, nossos atos
culpáveis, corrompem, por neles se refletirem os fluídos que nos rodeiam, e o contato
destes produz mal-estar e impressões desagradáveis nas pessoas que de nós se
aproximam, pois todo organismo sofre a influência dos fluídos ambientes. Do
mesmo modo, sentimentos de ordem elevada, pensamentos de amor, exortações
calorosas vão penetrar os seres que nos cercam, sustentá-los e vivificá-los.
Assim se explica o império exercido sobre as multidões pelos grandes
missionários e pelas almas eminentes. Embora os maus também assim possam
exercer a sua influência funesta, podemos sempre conjurar esta última por volições
em sentido inverso e através de resistência enérgica da nossa vontade.
Um conhecimento mais completo
das potências da alma e da sua aplicação deverá modificar totalmente as nossas
tendências e os nossos atos. Sabendo que todos os fatos da nossa vida se
inscrevem conosco, testemunham pró ou contra nós, dirigiremos a cada um deles
uma atenção mais escrupulosa. Esforçar-nos-emos desde então por desenvolver os
nossos recursos latentes e por agir por nosso intermédio sobre os fluídos
espalhados no espaço, de modo a depurá-los, a transformá-los para o bem de
todos, a criar em torno de nós uma atmosfera límpida e pura, inacessível aos
fluídos viciados. O Espírito que não age, que se deixa levar pelas influências
materiais, fica débil e incapaz de perceber as sensações delicadas da vida
espiritual. Acha-se em uma inércia completa depois da morte; as perspectivas do
espaço não oferecem a seus sentidos velados senão a obscuridade e o vácuo. O
Espírito ativo, preocupado em exercer suas faculdades por um uso constante,
adquire forças novas; sua vista abrange horizontes mais vastos, e o círculo de
suas relações alarga-se gradualmente.
O pensamento, utilizado como
força magnética, poderia reparar inúmeras desordens, destruir muitas chagas
sociais. Projetando, resoluta e frequentemente, nossa vontade sobre os
perversos, sobre os desgarrados, poderíamos consolar, convencer, aliviar,
curar. Por esse exercício obter-se-iam não só resultados extraordinários para o
melhoramento da espécie, mas também se poderia dar ao pensamento uma acuidade,
uma força de penetração incalculáveis.
Graças a uma combinação íntima
dos bons fluídos, sorvidos no reservatório ilimitado da Natureza, consegue-se,
com a assistência dos Espíritos invisíveis, restabelecer a saúde comprometida,
restituir a esperança e a energia dos desesperados. Pode-se mesmo, por um
impulso regular e perseverante da vontade, agir a distância sobre os
incrédulos, sobre os cépticos e sobre os maus, abalar a sua obstinação, atenuar
seu ódio, fazer penetrar um raio de verdade no entendimento dos mais hostis.
Eis aí uma forma ignorada da sugestão mental, dessa potência invisível de que
se servem a torto e a direito, mas que, utilizada no sentido do bem,
transformaria o estado moral das sociedades.
A vontade, exercendo-se
fluidicamente, desafia toda vigilância e todas as opressões. Opera na sombra e
no silêncio, franqueia todos os obstáculos, penetra todos os meios. Mas, para
que produza efeitos totais, é mister uma ação enérgica, poderosos impulsos, uma
paciência que não esmoreça. Assim como uma gota d’água cava lentamente a mais
dura pedra, assim também um pensamento incessante e generoso acaba por se
insinuar no espírito mais refratário.
A vontade insulada pode muito
para o bem dos homens, mas que não seria de esperar de uma associação de
pensamentos elevados, de um agrupamento de todas as vontades livres? As forças
intelectuais, hoje divergentes, esterilizam-se e anulam-se reciprocamente. Daí
vêm a perturbação e a incoerência das ideias modernas; mas, desde que o
Espírito humano, reconhecendo sua força, agrupe as vontades esparsas em um
feixe comum a flui de convergi-las para o Bem, para o Belo, para o Verdadeiro,
nesse dia a Humanidade avançará ousadamente para as culminâncias eternas, e a
face do mundo será renovada!
[1] Depois da
Morte – Léon Denis
[2] A ordem de um magnetizador para que se realize um ato
qualquer em certo tempo dado grava-se na memória do sonâmbulo, e, no dia e hora
fixados, essa ordem executa-se fiel e automaticamente.
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