sábado, 3 de outubro de 2015

Restabelecendo o equilíbrio nas relações corpo-espírito[1]




Entre duas formas de exagero, a compreensão espírita – Charlatanismo e superstições no passado e no presente – Desenvolvimento cíclico da mente humana.

A natureza humana é um conjunto de ações e reações espirituais e materiais. Interpretá-la apenas através de um dos seus aspectos é cair fatalmente no erro. De um lado, temos a alma, o espírito encarnado, que é o senhor e o diretor do corpo. De outro lado, o organismo físico, na plenitude da sua vitalidade animal.
Na antiguidade, e particularmente na Idade Média, a mentalidade popular, apegada ao sentimento do maravilhoso, atribuía tudo ao espírito, subestimando a ação do corpo. Vieram daí os exageros de toda espécie, criando superstições e temores, de que se originaram muitas crenças, rituais e dogmas religiosos.
A partir do Renascimento, o problema foi praticamente invertido nos seus termos. O acurado racionalismo medieval explodiu no Renascimento em novas formas de interpretação da vida. A filosofia deixou de ser a antiga serva da teologia, e a revolta intelectual contra a tradição e a autoridade abalou profundamente a mentalidade popular. Os homens passaram a desconfiar das explicações místicas, a repelir superstições, e chegaram, no mundo moderno, ao exagero oposto, dando supremacia ao corpo e negando ou subestimando a ação do espírito.
Foi exatamente quando mais se acentuava essa nova forma de exagero, de parcialidade, que o Espiritismo surgiu no mundo, dando pleno cumprimento à promessa do Consolador, formulada por Jesus. A função do Espiritismo é restabelecer o equilíbrio, conduzindo o homem à verdade. Sua advertência pode ser interpretada assim: “Nem tanto à terra, nem tanto ao mar”. O Espiritismo demonstrou, cientificamente, servindo-se das mesmas armas do materialismo – como disse Kardec – que a existência da alma não era uma superstição. E provou, de maneira insofismável, que a ação dos espíritos desencarnados sobre os homens é tão real, como a ação dos raios e emanações invisíveis da natureza.
No seu maravilhoso livro A Gênese - os Milagres e as Predições, segundo o Espiritismo, Kardec analisa a razão por que o Espiritismo só podia aparecer em meados do século passado, e conclui: “O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos dois elementos constitutivos do universo, toca forçosamente na maioria das ciências, e não podia surgir senão depois da elaboração delas. Surgiu, pois, pela própria força das coisas, diante da impossibilidade de tudo se explicar somente com a ajuda das leis da matéria”.
Dessa maneira, podemos apresentar a evolução da mente humana como um perfeito processo cíclico: partindo da aceitação intuitiva da ação do mundo invisível sobre o homem, a mente passa a negar esse fato num estágio superior do seu desenvolvimento para, afinal, voltar a admitir a verdade primitivamente intuída, mas já agora através da razão amadurecida e das provas experimentais.
O charlatanismo e a superstição figuram em larga escala no processo de formação das religiões antigas e modernas. São explorações da credulidade, devidas à imperfeição das criaturas humanas. Hoje, existe também o charlatanismo na ciência, e existem formas de superstição nascidas de teorias científicas.
Uma dessas formas, e das mais nefastas, é a que considera os desequilíbrios psíquicos como simples manifestações de desordens orgânicas.
Essa superstição se origina da negação do elemento espiritual, considerado como produto ou secreção da matéria, e conduz à destruição de todo e qualquer sentimento religioso. Contra essa forma moderna de superstição, que é o inverso das superstições do passado, só um remédio se mostra realmente eficaz: a demonstração científica da realidade do espírito. Essa demonstração é feita pelo Espiritismo e pelas teorias científicas dele decorrentes: a metapsíquica, a chamada ciência psíquica inglesa, e a parapsicologia.
As ciências biológicas atuais, resultantes da revolta intelectual do Renascimento, mostram-se impregnadas da superstição materialista. Mas a contribuição espírita vem ganhando terreno nos meios culturais do presente, como se vê no crescente interesse pela parapsicologia em todo o mundo, e mesmo nos meios religiosos mais adiantados, onde já se compreende que o Espiritismo traz uma nova mensagem para o mundo moderno.


[1] O Mistério do Bem e do Mal – J. Herculano Pires

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