Entre duas formas de exagero, a compreensão espírita – Charlatanismo e
superstições no passado e no presente – Desenvolvimento cíclico da mente
humana.
A natureza humana é um conjunto
de ações e reações espirituais e materiais. Interpretá-la apenas através de um
dos seus aspectos é cair fatalmente no erro. De um lado, temos a alma, o espírito
encarnado, que é o senhor e o diretor do corpo. De outro lado, o organismo
físico, na plenitude da sua vitalidade animal.
Na antiguidade, e
particularmente na Idade Média, a mentalidade popular, apegada ao sentimento do
maravilhoso, atribuía tudo ao espírito, subestimando a ação do corpo. Vieram
daí os exageros de toda espécie, criando superstições e temores, de que se
originaram muitas crenças, rituais e dogmas religiosos.
A partir do Renascimento, o
problema foi praticamente invertido nos seus termos. O acurado racionalismo medieval
explodiu no Renascimento em novas formas de interpretação da vida. A filosofia
deixou de ser a antiga serva da teologia, e a revolta intelectual contra a
tradição e a autoridade abalou profundamente a mentalidade popular. Os homens
passaram a desconfiar das explicações místicas, a repelir superstições, e
chegaram, no mundo moderno, ao exagero oposto, dando supremacia ao corpo e
negando ou subestimando a ação do espírito.
Foi exatamente quando mais se
acentuava essa nova forma de exagero, de parcialidade, que o Espiritismo surgiu
no mundo, dando pleno cumprimento à promessa do Consolador, formulada por
Jesus. A função do Espiritismo é restabelecer o equilíbrio, conduzindo o homem
à verdade. Sua advertência pode ser interpretada assim: “Nem tanto à terra, nem
tanto ao mar”. O Espiritismo demonstrou, cientificamente, servindo-se das
mesmas armas do materialismo – como disse Kardec – que a existência da alma não
era uma superstição. E provou, de maneira insofismável, que a ação dos
espíritos desencarnados sobre os homens é tão real, como a ação dos raios e
emanações invisíveis da natureza.
No seu maravilhoso livro A
Gênese - os Milagres e as Predições, segundo o Espiritismo, Kardec analisa a
razão por que o Espiritismo só podia aparecer em meados do século passado, e conclui:
“O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos dois elementos
constitutivos do universo, toca forçosamente na maioria das ciências, e não
podia surgir senão depois da elaboração delas. Surgiu, pois, pela própria força
das coisas, diante da impossibilidade de tudo se explicar somente com a ajuda
das leis da matéria”.
Dessa maneira, podemos
apresentar a evolução da mente humana como um perfeito processo cíclico: partindo
da aceitação intuitiva da ação do mundo invisível sobre o homem, a mente passa
a negar esse fato num estágio superior do seu desenvolvimento para, afinal,
voltar a admitir a verdade primitivamente intuída, mas já agora através da
razão amadurecida e das provas experimentais.
O charlatanismo e a superstição
figuram em larga escala no processo de formação das religiões antigas e
modernas. São explorações da credulidade, devidas à imperfeição das criaturas humanas.
Hoje, existe também o charlatanismo na ciência, e existem formas de superstição
nascidas de teorias científicas.
Uma dessas formas, e das mais
nefastas, é a que considera os desequilíbrios psíquicos como simples
manifestações de desordens orgânicas.
Essa superstição se origina da
negação do elemento espiritual, considerado como produto ou secreção da
matéria, e conduz à destruição de todo e qualquer sentimento religioso. Contra
essa forma moderna de superstição, que é o inverso das superstições do passado,
só um remédio se mostra realmente eficaz: a demonstração científica da
realidade do espírito. Essa demonstração é feita pelo Espiritismo e pelas
teorias científicas dele decorrentes: a metapsíquica, a chamada ciência
psíquica inglesa, e a parapsicologia.
As ciências biológicas atuais,
resultantes da revolta intelectual do Renascimento, mostram-se impregnadas da
superstição materialista. Mas a contribuição espírita vem ganhando terreno nos
meios culturais do presente, como se vê no crescente interesse pela
parapsicologia em todo o mundo, e mesmo nos meios religiosos mais adiantados,
onde já se compreende que o Espiritismo traz uma nova mensagem para o mundo
moderno.
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