Pallab Ghosh - Repórter de
ciência da BBC News - 17 outubro 2015
A equipe de pesquisadores holandeses
que conseguiu sintetizar o primeiro hambúrguer de laboratório afirma que espera
começar a vender o produto dentro de cinco anos.
Os cientistas da Universidade de
Maastricht, na Holanda, montaram uma nova companhia para transformar a carne
artificial em um hambúrguer que seja, segundo eles, mais saboroso e barato.
Dois anos atrás, a equipe de
pesquisadores mostrou um protótipo em Londres. Mas o custo para a produção
desse hambúrguer era altíssimo: cerca de 215 mil libras (mais de R$ 1,2
milhão).
"Estou confiante que,
quando for oferecido como uma alternativa à carne, um número cada vez maior de
pessoas vai achar difícil não comprar nosso produto por razões éticas",
disse à BBC o diretor da nova empresa, Peter Verstrate.
"Acredito que vamos colocar
(o produto) no mercado em cinco anos", disse o professor Mark Post, que
desenvolveu a carne artificial nos laboratórios da Universidade de Maastricht.
Post acrescentou que,
inicialmente, o produto estaria disponível apenas sob encomenda, mas, quando a
demanda pela carne artificial se estabelecer e o preço cair, deve chegar às
prateleiras de supermercados.
Células-tronco
O hambúrguer artificial é feito
a partir de células-tronco, aquelas que podem se desenvolver em tecidos em
diversas formas, tais como nervos e pele.
A maioria dos pesquisadores que
trabalham com células-tronco tenta cultivar tecido humano para transplantes ou
para substituir tecido muscular doente, células nervosas ou cartilagem.
Mark Post, no entanto, usa essas
células para cultivar músculo e gordura para a fabricação dos hambúrgueres
artificiais.
O processo começa com
células-tronco retiradas do músculo de uma vaca. No laboratório, essas células
são colocadas em uma cultura – uma solução – com nutrientes e elementos
químicos que promovem seu aumento para ajudá-las a crescerem e se
multiplicarem.
Três semanas depois os
cientistas já estão com mais de um milhão de células-tronco, que são divididas
e colocadas em recipientes menores. As células já crescidas se transformam em
pequenas tiras de músculo de aproximadamente um centímetro de comprimento e
apenas alguns milímetros de espessura.
As pequenas tiras são então
coletadas e juntadas em pequenos montes, coloridas e misturadas com gordura.
O hambúrguer resultante deste
processo foi preparado e provado em uma entrevista coletiva em Londres, há dois
anos.
Um especialista gastronômico que
provou a iguaria disse que o gosto estava "próximo da carne, mas não era
tão suculento", mas outro disse que tinha gosto de um hambúrguer de
verdade.
Provando um princípio
Peter Verstrate disse à BBC que
o hambúrguer servido em 2013 ainda não era o produto finalizado.
"Era proteína, fibra
muscular. Mas carne é muito mais que isso – é sangue, é gordura, tecido de
ligação, e tudo isso soma ao gosto e à textura."
"Se você quer imitar a
carne, precisa fazer todas estas coisas também – e você pode usar tecnologias de
engenharia de tecido –, mas ainda não tínhamos feito isso naquele
momento", acrescentou.
Mosa Meat, a empresa que
Verstrate estabeleceu com Post e a Universidade de Maastricht, quer sintetizar
carne moída no laboratório de forma que ela seja tão saborosa quanto a carne
real e a um custo igual ao da carne moída vendida hoje.
Nos últimos dois anos, Post e
sua equipe progrediram nas pesquisas, mas o cientista percebeu que, para
colocar o produto no mercado em um prazo de cinco anos, terá que acelerar os
estudos.
A Mosa Meat vai empregar 25
cientistas, técnicos de laboratórios e gerentes. Um dos objetivos principais é
descobrir como iniciar a produção em massa dessa carne.
Os pesquisadores também vão
analisar formas de fazer costeletas usando impressoras 3D. Mas vai demorar um
pouco mais para comercializar esses produtos.
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