Demonstrada a prova das vidas
sucessivas, o caminho da existência acha-se desimpedido e traçado com firmeza e
segurança. A alma vê claramente seu destino, que é a ascensão para a mais alta
sabedoria, para a luz mais viva. A equidade governa o mundo; nossa felicidade
está em nossas mãos; deixa de haver falhas no universo, sendo seu alvo a
beleza, seus meios a justiça e o amor. Dissipa-se, portanto, todo o temor
quimérico, todo o terror do Além. Em vez de recear o futuro, o homem saboreia a
alegria das certezas eternas. Confiado no dia seguinte, multiplicam-se lhe as
forças; seu esforço para o bem será centuplicado.
Entretanto, levanta-se outra
pergunta: quais são as molas secretas por cuja via se exerce a ação da justiça
no encadeamento de nossas existências?
Notemos, primeiramente, que o
funcionamento da justiça humana nada nos oferece que se possa comparar com a
lei divina dos destinos. Esta se executa por si mesma, sem intervenção alheia,
tanto para os indivíduos como para as coletividades. O que chamamos mal,
ofensa, traição, homicídio, determina nos culpados um estado de alma que os
entrega aos golpes da sorte na medida proporcionada à gravidade de seus atos.
Essa lei imutável é, antes de
tudo, uma lei de equilíbrio. Estabelece a ordem no mundo moral, da mesma forma
que as leis de gravitação e da gravidade asseguram a ordem e o equilíbrio no
mundo físico. Seu mecanismo é, ao mesmo tempo, simples e grande. Todo mal se
resgata pela dor. O que o homem faz de acordo com a lei do bem lhe proporciona tranquilidade
e contribui para sua elevação; toda violação provoca sofrimento.Este prossegue
a sua obra interior; cava as profundidades do ser; traz para a luz os tesouros
de sabedoria e beleza que ele contém e, ao mesmo tempo, elimina os germens
malsãos. Prolongará sua ação e voltará à carga por tanto tempo quanto for
necessário até que ele se expanda no bem e vibre uníssono com as forças divinas;
mas, na persecução dessa ordem grandiosa, compensações estarão reservadas à
alma. Alegrias, afeições, períodos de descanso e felicidade alternarão, no
rosário das vidas, com as existências de luta, resgate e reparação. Assim, tudo
é regulado, disposto com uma arte, uma ciência, uma bondade infinita na obra
providencial.
No princípio de sua carreira, em
sua ignorância e fraqueza, o homem desconhece e transgride muitas vezes a lei.
Daí as provações, as enfermidades, as servidões materiais; mas, desde que se
instrui, desde que aprende a pôr os atos de sua vida em harmonia com a regra
universal, torna-se, com efeito, cada vez menos presa da adversidade.
Os nossos atos e pensamentos
traduzem-se em movimentos vibratórios e seu foco de emissão, pela repetição frequente
dos mesmos atos e pensamentos, transforma-se, pouco a pouco, em poderoso
gerador do bem ou do mal.
O ser classifica-se, assim, a si
mesmo pela natureza das energias de que se torna o centro irradiador, mas, ao
passo que as forças do bem se multiplicam por si mesmas e aumentam incessantemente,
as forças do mal se destroem por seus próprios efeitos, porque estes voltam
para sua causa, para seu centro de emissão e traduzem-se sempre em consequências
dolorosas. Estando o mau, como todos os seres, sujeito à impulsão evolutiva, vê
por isso aumentar-se forçosamente sua sensibilidade.
As vibrações de seus atos, de
seus pensamentos maus, depois de haverem efetuado sua trajetória, volvem a ele,
mais cedo ou mais tarde, oprimem-no e apertam-no na necessidade de reformar-se.
Esse fenômeno pode explicar-se
cientificamente pela correlação das forças, pela espécie de sincronismo
vibratório que faz voltar sempre o efeito à sua causa. Temos demonstração disso
no fato bem conhecido de, em tempo de epidemia, de contágio, serem atacadas
principalmente as pessoas cujas forças vitais se harmonizam com as causas
mórbidas em ação, ao passo que os indivíduos dotados de vontade firme e isentos
de receio ficam geralmente indenes.
Sucede o mesmo na ordem moral.
Os pensamentos de ódio e vingança, os desejos de prejudicar, provenientes do
exterior, só podem agir sobre nós e influenciar-nos caso encontrem elementos
que vibrem uníssonos com eles. Se nada existir em nós de similar, essas forças
ruins resvalam sem nos penetrarem, volvem para aquele que as projetou para, por
sua vez, o ferirem, seja no presente ou no futuro, quando circunstâncias
particulares as fizerem entrar na corrente do seu destino.
Há, pois, na lei de repercussão
dos atos, alguma coisa mecânica, automática na aparência. Entretanto, quando
implica acerbas expiações, reparações dolorosas, grandes Espíritos intervêm
para regular-lhe o exercício e acelerar a marcha das almas em via de evolução.
Sua influência faz-se principalmente sentir na hora da reencarnação, a fim de
guiar essas almas em suas escolhas, determinando as condições e os meios
favoráveis à cura de suas enfermidades morais e ao resgate das faltas anteriores.
Sabemos que não há educação
completa sem a dor. Colocando-nos nesse ponto de vista, é necessário
livrarmo-nos de ver, nas provações e dores da humanidade, a consequência exclusiva
de faltas passadas. Todos aqueles que sofrem não são forçosamente culpados em
via de expiação. Muitos são simplesmente Espíritos ávidos de progresso, que
escolheram vidas penosas e de labor para colherem o benefício moral que anda
ligado a toda pena sofrida.
Contudo, em tese geral, é do
choque, do conflito do ser inferior, que não se conhece ainda, com a lei da
harmonia, que nasce o mal, o sofrimento. É pelo regresso gradual e voluntário do
mesmo ser a essa harmonia que se restabelece o bem, isto é, o equilíbrio moral.
Em todo pensamento, em toda obra há ação e reação e esta é sempre proporcional
em intensidade à ação realizada. Por isso podemos dizer: o ser colhe exatamente
o que semeou.
Colhe-o efetivamente, pois que,
por sua ação contínua, modifica sua própria natureza, depura ou materializa o
seu invólucro fluídico, o veículo da alma, o instrumento que serve para todas
as suas manifestações e no qual é calcado, modelado o corpo físico em cada
renascimento.
Nossa situação no Além resulta,
como vimos precedentemente, das ações repetidas que nossos pensamentos e nossa
vontade exercem constantemente sobre o perispírito. Segundo sua natureza e
objetivo, vão-no transformando pouco a pouco num organismo sutil e radiante,
aberto às mais altas percepções, às sensações mais delicadas da vida do espaço,
capaz de vibrar harmonicamente com Espíritos elevados e de participar das
alegrias e impressões do infinito. No sentido inverso, farão dele uma forma
grosseira, opaca, acorrentada à Terra por sua própria materialidade e condenada
a ficar encerrada nas baixas regiões.
Essa ação contínua do pensamento
e da vontade, exercida no decorrer dos séculos e das existências sobre o perispírito,
faz-nos compreender como se criam e desenvolvem nossas aptidões físicas, assim
como as faculdades intelectuais e as qualidades morais.
Nossas aptidões para cada gênero
de trabalho, a habilidade, a destreza em todas as coisas é o resultado de inumeráveis
ações mecânicas acumuladas e registradas pelo corpo sutil, do mesmo modo que
todas as recordações e aquisições mentais estão gravadas na consciência
profunda. Ao renascer, essas aptidões são transmitidas, por uma nova educação,
da consciência externa aos órgãos materiais. Assim se explica a habilidade
consumada e quase nativa de certos músicos e, em geral, de todos aqueles que mostram,
em um domínio qualquer, uma superioridade de execução que surpreende à primeira
vista.
Sucede o mesmo com as faculdades
e virtudes, com todas as riquezas da alma adquiridas no decurso dos tempos. O
gênio é um longo e imenso esforço na ordem intelectual e a santidade foi conquistada
à custa de uma luta secular contra as paixões e as atrações inferiores.
Com alguma atenção poderíamos
estudar e seguir em nós o processo da evolução moral. De cada vez que
praticamos uma boa ação, um ato generoso, uma obra de caridade, de dedicação, a
cada sacrifício do “eu”, não sentimos uma espécie de dilatação interior? Alguma
coisa parece expandir-se em nós; uma chama acende-se ou aviva-se nas
profundezas do ser.
Essa sensação não é ilusória. O
Espírito ilumina-se a cada pensamento altruísta, a cada impulso de
solidariedade e de amor puro. Se esses pensamentos e atos se repetem, se
multiplicam, se acumulam, o homem acha-se como que transformado ao sair de sua
existência terrestre; a alma e seu invólucro fluídico terão adquirido um poder
de radiação mais intenso.
No sentido contrário, todo
pensamento ruim, todo ato criminoso, todo hábito pernicioso provoca um
estreitamento, uma contração do ser psíquico, cujos elementos se condensam, entenebrecem,
carregam de fluidos grosseiros.
Os atos violentos, a crueldade,
o homicídio e o suicídio produzem no culpado um abalo prolongado, que se
repercute, de renascimento em renascimento, no corpo material e traduz-se em doenças
nervosas, tiques, convulsões e até deformidades, enfermidades ou casos de
loucura, consoante a gravidade das causas e o poder das forças em ação. Toda
transgressão à lei implica diminuição, mal-estar, privação de liberdade.
As vidas impuras, a luxúria, a
embriaguez e a devassidão conduzem-nos a corpos débeis, sem vigor, sem saúde,
sem beleza. O ser humano que abusa de suas forças vitais, por si mesmo se
condena a um futuro miserável, a enfermidades mais ou menos cruéis.
Às vezes a reparação se efetua
numa longa vida de sofrimentos, necessária para destruir em nós as causas do
mal, ou então numa existência curta e difícil, terminada por morte trágica. Uma
atração misteriosa reúne às vezes os criminosos de lugares muito afastados num
dado ponto para feri-los em comum. Daí as catástrofes célebres, os naufrágios,
os grandes sinistros, as mortes coletivas, tais como o desastre de Saint-Gervais,
o incêndio do Bazar de Caridade, a explosão de Courrières, a do “Iena”, o
naufrágio do “Titanic”, do “Ireland” etc.
Explicam-se assim as existências
curtas; são o completamento de vidas precedentes, terminadas muito cedo, abreviadas
prematuramente por excessos, abusos ou por qualquer outra causa moral, e que,
normalmente, deveriam ter durado mais.
Não devem ser incluídas em tais
casos as mortes de crianças em tenra idade. A vida curta de uma criança pode
ser uma provação para os pais, assim como para o Espírito que quer encarnar. Em
geral, é simplesmente uma entrada falsa no teatro da vida, quer por causas
físicas, quer por falta de adaptação dos fluidos. Em tal caso, a tentativa de
encarnação renova-se, pouco depois, no mesmo meio; reproduz-se até completo
êxito, ou então, se as dificuldades são insuperáveis, se efetua num meio mais
favorável.
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