As pressões
constantes geradoras de medo, não raro extrapolam em forma de violência
propondo a liberdade.
Sentindo-se
coarctado nos movimentos, o animal reage à prisão e debate-se até à exaustão,
na tentativa de libertar-se. Da mesma forma, o homem, sofrendo limites, aspira
pela amplidão de horizontes e luta pela sua independência.
É
perfeitamente normal o empenho do cidadão em favor da sua libertação total,
passo esse valioso na conquista de si mesmo. Todavia, pouco esclarecido e
vitimado pelas compressões que o alucinam, utiliza-se dos instrumentos da
rebeldia, desencadeando lutas e violência para lograr o que aspira como
condição fundamental de felicidade.
A violência,
porém, jamais oferece a liberdade real.
Arranca o
indivíduo da opressão política, arrebenta-lhe as injunções caóticas impostas
pela sociedade injusta, favorece-o com terras e objetos, salários e haveres.
Isto, porém,
não é a liberdade, no seu sentido profundo.
São
conquistas de natureza diferente, nas áreas das necessidades dos grupos e
aglomerados humanos, longe de ser a meta de plenitude, talvez constituindo um
meio que faculte a realização do próximo passo, que é o do autodescobrimento.
A violência
retém, porém não doa, já que sempre abre perspectivas para futuros embates sob a
ação de maiores crueldades.
As guerras,
que se sucedem, apoiam-se nos tratados de paz mal formulados, quando a
violência selou, com sujeição, o destino da nação ou do povo submetido...
O instinto de rebeldia faz parte da psique
humana.
A criança que
se obstina usando a negativa, afirma a sua identidade, exteriorizando o anseio
inconsciente de ser livre. Porque carece de responsabilidade, não pode entender
o que tal significa.
Somente
mediante a responsabilidade, o homem se liberta, sem tornar-se libertino ou
insensato.
A sociedade,
que fala em nome das pessoas de sucesso, estabelece que a liberdade é o direito de fazer o que a cada qual
apraz, sem dar-se conta de que essa liberação da vontade, termina por
interditar o direito dos outros,
fomentando as lutas individuais, dos que se sentem impedidos, espocando nas
violências de grupos e classes, cujos direitos
se encontram dilapidados.
Se cada
indivíduo agir conforme achar melhor, considerando-se liberado, essa atitude
trabalha em favor da anarquia, responsável por desmandos sem limites.
Em nome da
liberdade, atuam desonestamente os vendedores das paixões ignóbeis, que
espalham o bafio criminoso das mercadorias do prazer e da loucura.
A denominada
liberação sexual, sem a correspondente maturidade emocional e dignidade
espiritual, rebaixou as fontes genésicas a pau venenoso, no qual, as expressões
aberrantes assumem cidadania, inspirando os comportamentos alienados e
favorecendo a contaminação das enfermidades degenerativas e destruidoras da
existência corporal. Ao mesmo tempo, faculta o aborto delituoso, a
promiscuidade moral, reconduzindo o homem a um estágio de primarismo dantes não
vivenciado.
A liberdade
de expressão, aos emocionalmente desajustados, tem permitido que a morbidez e o
choque se revelem com mais naturalidade do que a cultura e a educação, por
enxamearem mais os aventureiros, com as exceções compreensíveis, do que os
indivíduos conscientes e responsáveis.
A liberdade é
um direito que se consolida, na razão direta em que o homem se autodescobre e se
conscientiza, podendo identificar os próprios valores, que deve aplicar de
forma edificante, respeitando a natureza e tudo quanto nela existe.
A agressão
ecológica, em forma de violência cruel contra as forças mantenedoras da vida,
demonstra que o homem, em nome da sua liberdade, destrói, mutila, mata e
mata-se, por fim, por não saber usá-la conforme seria de desejar.
A liberdade
começa no pensamento, como forma de aspiração do bom, do belo, do ideal que são
tudo quanto fomenta a vida e a sustenta, dá vida e a mantém.
Qualquer
comportamento que coage, reprimes viola é adversário da liberdade.
Examinando o
magno problema da liberdade, Jesus sintetizou os meios de consegui-la, na busca da verdade, única opção para
tornar o homem realmente livre.
A verdade, em
síntese, que é Deus — e não a verdade conveniente de cada um, que é a forma
doentia de projetar a própria sombra, de impor a sua imagem, de submeter à sua,
a vontade alheia — constitui meta prioritária.
Deus, porém,
está dentro de todos nós, e é necessário imergir na Sua busca, de modo que O
exteriorizemos sobranceiro e tranquilizador.
As conquistas
externas atulham as casas e os cofres de coisas, sem torna-los lares nem
recipientes de luz, destituídos de significado, quando nos momentos magnos das
grandes dores, dos fortes dissabores, da morte, que chegam a todos...
A liberdade,
que se encerra no túmulo, é utópica, mentirosa.
Livre, é o
Espírito que se domina e se conquista. Movimentando-se com sabedoria por toda
parte, idealista e amoroso, superando as injunções pressionadoras e
amesquinhantes.
Gandhi fez-se
o protótipo da liberdade, mesmo quando nas várias vezes em que esteve
encarcerado, informando que “não tinha mensagem a dar. A minha mensagem é a
minha vida.”
Antes dele,
Sócrates permaneceu em liberdade, embora na prisão e na morte que lhe adveio
depois.
E Cristo,
cuja mensagem é o amor que liberta, prossegue ensinando a eficiente maneira de
conquistar a liberdade.
Nenhuma
pressão de fora pode levar à falta de liberdade, quando se conseguir ser lúcido
e responsável interiormente, portanto, livre.
Não se
justifica, deste modo, o medo da liberdade, como efeito dos fatores
extrínsecos, que as situações políticas, sociais e econômicas estabelecem como
forma espúria de fazer que sobrevivam as suas instituições, subjugando aqueles
que vencem. O homem que as edifica, dá-se conta, um dia, que dominando povos,
grupos, classes ou pessoas também não é livre, escravo, ele próprio, daqueles
que submete aos seus caprichos, mas lhe roubam a opção de viver em liberdade.
Não há
liberdade quando se mente, engana, impõe e atraiçoa.
A liberdade é
uma atitude perante a vida.
Assim, portanto, só há
liberdade quando se ama conscientemente.
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