Ian Stevenson, M. D.[1]
O seguinte texto foi escrito num esforço de resposta a
um grande número de cartas que recebi de pessoas desejosas de serem levadas por
mim, via hipnose, a vidas anteriores, que gostariam que eu as recomendasse a um
hipnólogo ou que eu investigasse materiais que eventualmente tenham emergido de
tais experiências.
Muitas pessoas que não dão qualquer importância ao que
ocorrem em seus sonhos (imaginando não serem nada mais que imagens da mente
subconsciente, sem correspondência com qualquer outra realidade) acreditam
bastante que qualquer coisa que emerja durante uma sessão de hipnose pode ser
tomado em seu valor de face. De fato, o estado de uma pessoa durante uma hipnose
se assemelha bastante - embora não completamente - ao de uma pessoa enquanto
sonha. Partes subconscientes da mente são liberadas das inibições ordinárias e
podem se apresentar de forma dramática como uma nova "personalidade".
Se o paciente foi instruído pelo hipnotista - explicita ou implicitamente - a
"voltar para um outro lugar e tempo" ou coisa parecida, a nova
"personalidade" parecerá voltar a algum período da história. Tais
"personalidades evocadas" podem se mostrarem bastante plausíveis
tanto para a pessoa tendo a experiência com para aqueles que a assistem.
Experimentos feitos por Baker [1] e Nicholas Spanos et al [2] mostraram como é
fácil que sugestões diferentes do hipnotista influenciem as características da
"outra personalidade".
De fato, quase todas essas "personalidades
anteriores" são totalmente imaginárias, assim como o conteúdo da maioria
dos sonhos. Podem talvez retornar detalhes históricos precisos, mas esses são
derivados da informação que o sujeito tinha de suas leituras, de programas de
rádio e televisão, além de outras fontes. O sujeito pode não se lembrar onde
ele obteve aquela informação, mas, muitas vezes, isso pode ser conseguido em
outras sessões de hipnose feitas para buscar por tais fontes de informação.
Experimentos feito por E. Zolic [3], R. Kampman e R. Hirvenoja [4] demonstraram
esse fenômeno.
Uma experiência emocional marcante durante a regressão
hipnótica não garante que as memórias de vidas anteriores tenham sido
readquiridas. A impressão subjetiva de lembrança de uma existência anterior
pode ser marcante para a pessoa que a experimenta, e, mesmo assim, a "vida
anterior" uma fantasia, assim como muitos sonhos. Também, o benefício
(mesmo na forma de uma melhora dramática) em sintomas físicos e psicológicos não
é evidência que uma vida anterior tenha sido acessada.
Pessoas com sintomas psicossomáticos e psiconeuroses
podem se reabilitar ao seguir uma grande variedade de procedimentos
psicoterapêuticos. Há muitos efeitos relacionados a procedimentos
psicoterapêuticos. Melhoras podem ser decorrentes exclusivamente dessas medidas
e pouco se relacionarem com uma técnica específica, seja regressão hipnótica,
psicanálise ou qualquer outra aplicada pelo psicoterapeuta.
Vale a pena enfatizar que crianças muito novas que se
lembram de vidas anteriores frequentemente apresentam fobias, tais como medo de
água e se lembram do evento que parece ter gerado essa fobia, tal como morte
por afogamento. Mesmo assim, a simples lembrança da causa de uma fobia ou outro
sintoma não necessariamente irá removê-lo.
Pessoas que pretendem realizar regressão hipnótica
devem se perguntar: que benefícios irei colher ao tentar facear minhas
presentes dificuldades se eu me lembrasse de algo de alguma forma a ela
relacionado em uma vida anterior? Será que minha lembrança, ainda que real,
removeria essas dificuldades?
Após essa breve introdução, que não cobre
completamente todos os aspectos complexos da questão, eu gostaria de mencionar
que, muito raramente, algo de valor emerge de experimentos com regressão
hipnótica a "vidas anteriores". Exemplos são quando o indivíduo
mostra ser capaz de falar em uma língua estrangeira que ele não aprendeu.
O procedimento de regressão hipnótica a "vidas
anteriores" não acontece sem algum risco. Ocasiões houve em que a "personalidade
anterior" não "foi embora" quando assim instruída, e o indivíduo
permaneceu em um estado alterado de consciência por muitos dias ou mais antes
de voltar ao seu estado normal.
Não estou presentemente engajado em experimentos de
regressão hipnótica a vidas anteriores. Não faço recomendação de hipnólogos a
pessoas que pretendem passar por tais experiências. Não aprovo a conduta de
hipnotistas que fazem promessas a seus clientes de que esses voltarão a vidas
anteriores reais sob tais procedimentos. Não aprovo quem quer que seja que
cobre e se faça passar por um hipnotista para realizar tais experimentos.
Não realizo verificações de detalhes que emerjam de
tais experiências, exceto em casos extremamente raros que me mostrem evidência
clara de um processo paranormal. Ocasiões de xenoglossia responsiva (falar uma
língua não aprendida) estão incluídos nesse pequeno número de casos que estou
interessado em investigar.
Embora me oponha à exploração comercial de
reivindicações sem garantias da regressão hipnótica, sou favorável à pesquisa
séria com regressão hipnótica.
As observações acima aplicam-se com algumas
modificações a experimentos amadores com pranchetas e escrita automática. Em
tais experiências, as pessoas envolvidas nada mais fazem do que tocar as
camadas subconscientes da mente de um ou mais participantes. A chance de engano
ou auto engano são talvez maiores do que com experimentos de hipnose,
especialmente quando as pessoas que fazem isso se convencem que estão sendo
guiadas por personalidades desencarnadas. Aqui, de novo, em alguns casos, um
processo paranormal está envolvido nos resultados e, raramente, produzem
evidência sugestiva de contato com personalidades desencarnadas. Mas, na
maioria dos casos, tais evidências estão ausentes.
Para mais informações e referências a artigos e livros
baseados em investigações científica em apoio a minha posição com relação a
tais casos, indico o meu livro "Children Who Remember Previous Lives"
[5]. Também
publiquei "A Case of the Psychotherapist's Fallacy: Hypnotic Regression to
'Previous Lives" [6]. Cópias desses
artigos estão disponíveis em várias publicações.
Se este texto não responder adequadamente as questões
do leitor, teremos prazer em responder cartas requisitando mais informação. Por
favor, as questões devem ser escritas de forma bem específica.
Referências
[1] Baker, R.A. "The
effect of suggestion on past-lives regression." American Journal of
Clinical Hypnosis, 25(1), 71-76, July 1982.
[2] Spanos, N.P., Menary, E.,
Gabora, N.J., DuBreuil, S.C., Dewhirst, B. "Secondary identity enactments
during hypnotic past-life regression: A sociocognitive perspective."
Journal of Personality and Social Psychology, 61(2), 308-320, 1991.
[3] Zolik, E. "Reincarnation' phenomena
in hypnotic states." International Journal of Parapsychology, 4(3), 66-78,
1962.
[4] Kampman, R. and Hirvenoja,
R. "Dynamic relation of the secondary personality induced by hypnosis to
the present personality" in Hypnosis at Its Bicentennial, edited by F.H.
Frankel & H.S. Zamansky. New York: Plenum Press. 1978
[5] Jefferson, North Carolina:
McFarland & Company, 2001.
[6] American Journal of
Clinical Hypnosis. Volume 36, pages
188-193, 1994
[1] O Dr. Ian Stevenson (1918-2007) foi um psiquiatra que
trabalhou para a School of Medicine da Universidade de Virgínia por 50 anos.
Ele foi chair do departamento de psiquiatria de 1957 a 1967, professor Carson
de psiquiatria de 1967 a 2001 e professor pesquisador em psiquiatria a partir
de 2002 até sua morte. Foi fundador e diretor da "Divisão de estudos de
percepção" da Universidade de Virgínia, que investiga fenômenos
paranormais tais como reencarnação, experiências de quase morte, experiências
fora do corpo, comunicações mediúnicas, visões de leito de morte, estados
alterados de consciência e psi. Tornou-se internacionalmente reconhecido por
sua pesquisa em reencarnação, ao descobrir evidências sugestivas de memórias e
marcas de nascença que podem ser transferidas de uma vida a outra. Viajou
bastante, por um período de 40 anos, investigando 3000 casos de crianças em
todo o mundo que se lembram de suas vidas anteriores. Sua pesquisa meticulosa
apresentou evidências que tais crianças
têm habilidades incomuns, doenças, fobias e gostos que não podem ser explicados
pelo ambiente ou pela hereditariedade. (fonte: Kevin Williams)
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