quarta-feira, 22 de julho de 2015

Por que existem crianças prodígios no mundo da música?[1]




Recentemente, tive o prazer de entrevistar Alma Deutscher. Compositora de sonatas para piano e violino, peças para quarteto de cordas e até uma ópera completa, ela toca violino e piano maravilhosamente. E acaba de completar dez anos de idade.
Apelidada de Little Miss Mozart (pequena senhorita Mozart) pela imprensa, a menina britânica cita, como suas fontes de inspiração, "Mozart, Schubert e Tchaikovsky - compositores das melodias mais lindas já escritas".
Como compositora, Deutscher está cheia de melodias charmosas, que com frequência chegam prontas, inteiras. "Mesmo quando tento fazer outra coisa, quando as pessoas estão falando comigo sobre algo totalmente diferente, ouço essas lindas melodias tocando dentro da minha cabeça", disse Deutscher. "Às vezes pode ser uma voz cantando, ou um piano, às vezes um violino."
Há dois anos, no meio da noite, uma série completa de variações para o piano em Mi bemol surgiu em seu subconsciente. "Acordei e não queria perder as melodias, então peguei meu caderno e escrevi tudo - o que demorou quase três horas. Meus pais não entenderam por que eu estava tão cansada de manhã e não queria me levantar!"
Em tempos modernos, crianças prodígios às vezes são recebidas com cinismo. "Uma coisa é certa, música arte, séria, não pode jamais ser escrita por uma criança", disse o crítico e romancista Philip Hensher em 2007, após ouvir a Sinfonia número 5 de Jay Greenberg, um prodígio educado na Juilliard School, em Nova York, que tinha, na época, 15 anos.
É verdade que a maioria das crianças com dez anos de idade provavelmente não vai expandir as fronteiras da tonalidade e da forma. Quanto mais tempo passarem imersas em música, mais sua sensibilidade se refinará. Mas a ideia de que crianças, por definição, não são maduras o suficiente para compreender a complexidade de obras eruditas, e muito menos para criá-las, subestima a propensão humana para música, algo que trazemos do berço, ou ainda antes dele.
O naturalista inglês Charles Darwin, criador da teoria da Evolução das Espécies, explorou em seus livros a possibilidade de que tenha existido uma protolíngua baseada inteiramente em música. Segundo Darwin, o homem primitivo, ou talvez um de seus ancestrais, teria, provavelmente, usado sua voz primeiro para produzir verdadeiras cadências musicais - ou seja, para cantar.
Segundo o naturalista, essa língua musical teria expressado várias emoções, como amor, ciúme e triunfo. "Portanto, é provável que a imitação de gritos musicais por sons articulados tenha dado origem às palavras", escreveu Darwin.
Em palestras na Harvard University, nos Estados Unidos, em 1973, o maestro americano Leonard Bernstein descreveu tonalidade musical como "aquela terra universal" de onde tudo brota, ecoando a teoria do linguista americano Noam Chomsky de uma "gramática universal" para defender o argumento de que música tonal é uma linguagem natural na qual a melodia funciona como o substantivo, a harmonia como o adjetivo e o ritmo como o verbo.
Qualquer que seja sua opinião sobre a música de Deutscher, é evidente que ela tem fluência instintiva nesses fundamentos desde que era muito pequena - seu pai, Guy, disse que ela já cantava antes de começar a falar. E para alguém tão jovem, sua musicalidade e imaginação são algo a ser celebrado, especialmente nos dias de hoje, em que a música erudita é tida como algo sem relevância.
No canal de Alma Deutscher no YouTube há comentários como "Você vai mudar o mundo" e "Minha vida inteira foi transformada (por sua música), toda a minha visão do universo". Veja, na lista a seguir, os nomes de cinco compositores prodígios cuja música de fato mudou o mundo.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
O mais famoso de todos, Mozart já tocava melodias ao piano aos dois anos de idade e começou a compor aos quatro. Sua primeira peça publicada foi escrita em 1761, quando ele tinha cinco anos.
Aos 12 anos, já havia composto dez importantes sinfonias e se apresentava nas cortes europeias. Morto aos 35 anos, Mozart nos deixou algumas das obras artísticas mais gloriosas já criadas pelo homem.

Franz Schubert (1797-1828)
Schubert começou a compor canções artísticas e sofisticadas na adolescência. Aos 17 anos, já havia composto Gretchen am Spinnrade (Margarida à Roda de Fiar), considerada uma obra-prima na tradição do Lied Romântico (a canção romântica alemã).
"Como pôde um rapaz de 17 anos, criado no conforto da classe média vienense, sentir tanta empatia por uma jovem apaixonada, dolorosamente consciente de que ela estava prestes a ser traída?", maravilha-se o crítico Stephen Johnson.
Quando morreu, de sífilis, com apenas 31 anos de idade, Schubert já tinha produzido, nas palavras de Johnson, "duas das mais cintilantes joias da música orquestral do século 19 (as sinfonias Inacabada e Grande em Dó Maior), quatro (peças para) quarteto de cordas profundamente originais e uma ainda mais bela (peça para) quinteto de cordas, várias gloriosas composições para piano, algumas das mais originais obras para coral da era romântica e um assombroso legado de mais de 600 canções".

Felix Mendelssohn (1809-1847)
O escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe foi a primeira pessoa a defender a ideia de que Mendelssohn, e não Mozart, foi a verdadeira criança prodígio. Comparar suas produções na mesma idade era como comparar "o barulho de uma criança" à "conversa culta de um adulto".
Antes de alcançar os 18 anos, Mendelssohn já havia composto 13 sinfonias para cordas, quatro óperas, uma sinfonia completa, vários concertos instrumentais, música de câmara, peças corais, importantes sonatas para piano e outras composições menores, também para piano.
Ele estava no auge da puberdade quando, aos 16 anos, compôs seu inovador Octeto em Mi Bemol Maior. Ela continua sendo uma das maiores obras de música de câmara já compostas.

Camille Saint-Saëns (1835-1921)
Saint-Saëns tinha ouvido perfeito. Ele escreveu sua primeira composição aos três anos e meio de idade. Hoje, a partitura original faz parte do acervo da Bibliothèque Nationale, na França.
Ele fez sua estreia nos palcos aos cinco anos, tocando, no piano, o acompanhamento de uma sonata para violino composta por Beethoven. Mais tarde, ganhou os principais prêmios no Paris Conservatoire.
Sua carreira foi longa e prolífica. Um virtuoso do órgão, foi um dos primeiros pianistas a fazer uma gravação e o primeiro compositor importante a compor para o cinema, em 1908.
Sua primeira sinfonia foi publicada quando ele tinha 16 anos. Saint-Saëns escreveu outras quatro, assim como cinco concertos para piano, três concertos para violino, dois concertos para violoncelo e dezenas de obras para solista e orquestra.

Erich Wolfgang Korngold (1897-1957)
Mahler e Richard Strauss disseram que o adolescente Korngold era um "gênio", Sibelius o descreveu como uma "jovem águia" e Puccini teria declarado que "ele tem tanto talento que poderia doar metade e ainda sobraria o suficiente".
A primeira ópera de Korngold, O Boneco de Neve, foi composta quando ele tinha 12 anos. Ele escreveu sua primeira abertura orquestral aos 14 e revolucionou a música para filmes em Hollywood. Seu legado está presente hoje em salas de cinema em todo o mundo.

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