Recentemente, tive o prazer de
entrevistar Alma Deutscher. Compositora de sonatas para piano e violino, peças
para quarteto de cordas e até uma ópera completa, ela toca violino e piano
maravilhosamente. E acaba de completar dez
anos de idade.
Apelidada de Little Miss Mozart (pequena senhorita
Mozart) pela imprensa, a menina britânica cita, como suas fontes de inspiração,
"Mozart, Schubert e Tchaikovsky - compositores das melodias mais lindas já
escritas".
Como compositora, Deutscher está
cheia de melodias charmosas, que com frequência chegam prontas, inteiras.
"Mesmo quando tento fazer outra coisa, quando as pessoas estão falando
comigo sobre algo totalmente diferente, ouço essas lindas melodias tocando
dentro da minha cabeça", disse Deutscher. "Às vezes pode ser uma voz
cantando, ou um piano, às vezes um violino."
Há dois anos, no meio da noite,
uma série completa de variações para o piano em Mi bemol surgiu em seu
subconsciente. "Acordei e não queria perder as melodias, então peguei meu
caderno e escrevi tudo - o que demorou quase três horas. Meus pais não
entenderam por que eu estava tão cansada de manhã e não queria me
levantar!"
Em tempos modernos, crianças
prodígios às vezes são recebidas com cinismo. "Uma coisa é certa, música
arte, séria, não pode jamais ser escrita por uma criança", disse o crítico
e romancista Philip Hensher em 2007, após ouvir a Sinfonia número 5 de Jay
Greenberg, um prodígio educado na Juilliard School, em Nova York, que tinha, na
época, 15 anos.
É verdade que a maioria das
crianças com dez anos de idade provavelmente não vai expandir as fronteiras da
tonalidade e da forma. Quanto mais tempo passarem imersas em música, mais sua
sensibilidade se refinará. Mas a ideia de que crianças, por definição, não são
maduras o suficiente para compreender a complexidade de obras eruditas, e muito
menos para criá-las, subestima a propensão humana para música, algo que
trazemos do berço, ou ainda antes dele.
O naturalista inglês Charles
Darwin, criador da teoria da Evolução das Espécies, explorou em seus livros a
possibilidade de que tenha existido uma protolíngua baseada inteiramente em
música. Segundo Darwin, o homem primitivo, ou talvez um de seus ancestrais,
teria, provavelmente, usado sua voz primeiro para produzir verdadeiras
cadências musicais - ou seja, para cantar.
Segundo o naturalista, essa
língua musical teria expressado várias emoções, como amor, ciúme e triunfo.
"Portanto, é provável que a imitação de gritos musicais por sons
articulados tenha dado origem às palavras", escreveu Darwin.
Em palestras na Harvard
University, nos Estados Unidos, em 1973, o maestro americano Leonard Bernstein
descreveu tonalidade musical como "aquela terra universal" de onde
tudo brota, ecoando a teoria do linguista americano Noam Chomsky de uma "gramática
universal" para defender o argumento de que música tonal é uma linguagem
natural na qual a melodia funciona como o substantivo, a harmonia como o
adjetivo e o ritmo como o verbo.
Qualquer que seja sua opinião
sobre a música de Deutscher, é evidente que ela tem fluência instintiva nesses
fundamentos desde que era muito pequena - seu pai, Guy, disse que ela já
cantava antes de começar a falar. E para alguém tão jovem, sua musicalidade e
imaginação são algo a ser celebrado, especialmente nos dias de hoje, em que a
música erudita é tida como algo sem relevância.
No canal de Alma Deutscher no
YouTube há comentários como "Você vai mudar o mundo" e "Minha
vida inteira foi transformada (por sua música), toda a minha visão do
universo". Veja, na lista a seguir, os nomes de cinco compositores
prodígios cuja música de fato mudou o mundo.
Wolfgang Amadeus
Mozart (1756-1791)
O mais famoso de todos, Mozart
já tocava melodias ao piano aos dois anos de idade e começou a compor aos
quatro. Sua primeira peça publicada foi escrita em 1761, quando ele tinha cinco
anos.
Aos 12 anos, já havia composto
dez importantes sinfonias e se apresentava nas cortes europeias. Morto aos 35
anos, Mozart nos deixou algumas das obras artísticas mais gloriosas já criadas
pelo homem.
Franz Schubert (1797-1828)
Schubert começou a compor
canções artísticas e sofisticadas na adolescência. Aos 17 anos, já havia
composto Gretchen am Spinnrade (Margarida à Roda de Fiar), considerada uma
obra-prima na tradição do Lied Romântico (a canção romântica alemã).
"Como pôde um rapaz de 17
anos, criado no conforto da classe média vienense, sentir tanta empatia por uma
jovem apaixonada, dolorosamente consciente de que ela estava prestes a ser
traída?", maravilha-se o crítico Stephen Johnson.
Quando morreu, de sífilis, com
apenas 31 anos de idade, Schubert já tinha produzido, nas palavras de Johnson,
"duas das mais cintilantes joias da música orquestral do século 19 (as
sinfonias Inacabada e Grande em Dó Maior), quatro (peças para) quarteto de
cordas profundamente originais e uma ainda mais bela (peça para) quinteto de
cordas, várias gloriosas composições para piano, algumas das mais originais
obras para coral da era romântica e um assombroso legado de mais de 600
canções".
Felix Mendelssohn
(1809-1847)
O escritor alemão Johann
Wolfgang von Goethe foi a primeira pessoa a defender a ideia de que
Mendelssohn, e não Mozart, foi a verdadeira criança prodígio. Comparar suas
produções na mesma idade era como comparar "o barulho de uma criança"
à "conversa culta de um adulto".
Antes de alcançar os 18 anos,
Mendelssohn já havia composto 13 sinfonias para cordas, quatro óperas, uma
sinfonia completa, vários concertos instrumentais, música de câmara, peças
corais, importantes sonatas para piano e outras composições menores, também para
piano.
Ele estava no auge da puberdade
quando, aos 16 anos, compôs seu inovador Octeto em Mi Bemol Maior. Ela continua
sendo uma das maiores obras de música de câmara já compostas.
Camille Saint-Saëns
(1835-1921)
Saint-Saëns tinha ouvido
perfeito. Ele escreveu sua primeira composição aos três anos e meio de idade.
Hoje, a partitura original faz parte do acervo da Bibliothèque Nationale, na
França.
Ele fez sua estreia nos palcos
aos cinco anos, tocando, no piano, o acompanhamento de uma sonata para violino
composta por Beethoven. Mais tarde, ganhou os principais prêmios no Paris
Conservatoire.
Sua carreira foi longa e
prolífica. Um virtuoso do órgão, foi um dos primeiros pianistas a fazer uma
gravação e o primeiro compositor importante a compor para o cinema, em 1908.
Sua primeira sinfonia foi
publicada quando ele tinha 16 anos. Saint-Saëns escreveu outras quatro, assim
como cinco concertos para piano, três concertos para violino, dois concertos
para violoncelo e dezenas de obras para solista e orquestra.
Erich Wolfgang
Korngold (1897-1957)
Mahler e Richard Strauss
disseram que o adolescente Korngold era um "gênio", Sibelius o
descreveu como uma "jovem águia" e Puccini teria declarado que
"ele tem tanto talento que poderia doar metade e ainda sobraria o suficiente".
A primeira ópera de Korngold, O
Boneco de Neve, foi composta quando ele tinha 12 anos. Ele escreveu sua
primeira abertura orquestral aos 14 e revolucionou a música para filmes em
Hollywood. Seu legado está presente hoje em salas de cinema em todo o mundo.
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