As revelações de Shanti eram de tal
maneira precisas e seguras em seus detalhes, envolvendo nomes de lugares e
pessoas, que os seus pais resolveram pedir a dois amigos que fossem a Mathura,
a fim de deslindar o mistério. Os amigos foram e constataram a plena veracidade
das revelações. Encontraram o viúvo e o filho de Lugdi Devi, o templo a que a
menina se referia, o local em que dizia ter-se banhado no rio Jumna, a venda em
que fazia suas compras, e tudo o mais. Quando Shanti contava nove anos, seu
“ex-marido” e seu filho da encarnação anterior foram visitá-la. Ao vê-los, a
menina desmaiou. Depois, voltando a si, mostrou-se tomada da maior alegria,
abraçando a ambos com efusão e identificando-se perante o marido nas
conversações que mantiveram.
O caso de Shanti Devi envolve
particularidades curiosas, inclusive a coincidência de sobrenomes. Os Devi de
Delhi não têm parentesco com os de Mathura, pertencendo mesmo a uma casta
inferior, pois os de Mathura são brâmanes. A menina foi levada a Mathura, e não
só reconheceu todos os lugares em que vivera, como também as pessoas. Visitando
a casa que habitara na vida anterior, indicou várias particularidades da
residência e lembrou hábitos que o seu “ex-marido” confirmou, admirado, reconhecendo
que “Shanti possuía a mesma alma que pertencera à sua falecida mulher”, segundo
as palavras de Peter Forbes.
Durante muitos anos, o caso de Shanti
Devi foi comentado na Índia e no exterior, até que o escritor sueco Sture
Lonnestrand resolveu deslindá-lo. Entendia que tudo não passava de uma grande
fraude. Foi a Delhi e a Mathura, investigou tudo o que se referia ao caso,
conversou com numerosas pessoas, examinou os locais indicados, verificou os
relatórios dos investigadores anteriores, e chegou à seguinte conclusão:. “É
este o único caso de reencarnação completamente explicado e provado, jamais
verificado.” Depois disso, Lonnestrand tornou-se um propagandista do caso,
provocando intensa agitação na Europa, em torno do assunto. Como William
Crookes, César Lombroso, Crawford e tantos outros, que haviam estudado os
fenômenos espíritas com o fim de provar a sua falsidade, Lonnestrand
submeteu-se à realidade e modificou sua atitude.
Escrevendo a respeito deste caso, na
revista inglesa “Two Worlds”, o prof. Frederico H. Wood assinalou o exagero de
Lonnestrand, ao ter este declarado que se tratava do único caso de reencarnação
completamente explicado e provado. “Como todos os recém-convertidos, – disse
Wood, – Lonnestrand está excitado pela sua descoberta.” E realmente assim é.
Porque o caso de Shanti Devi, embora importante, e sobretudo recente, não é o
único a apresentar essas características. Há numerosos casos de reencarnação
completamente provados, e o leitor curioso poderá encontrar a citação de muitos
deles na obra “A Reencarnação e suas provas”, de Carlos Imbassahy e Mário
Cavalcanti de Mello. O próprio prof. Wood teve oportunidade de investigar, em
Londres, um dos mais importantes, publicando a respeito uma obra em dois
volumes, intitulada “O Milagre Egípcio”. Tratava-se da reencarnação de uma
princesa egípcia, do tempo de Amenotep II, na Inglaterra. Caso provado em
minúcias, de maneira impressionante, e principalmente através de elementos de
alta cultura, como a reconstituição de danças sagradas e da língua egípcia
antiga.
E agora mesmo aí está, nas livrarias,
a tradução desse curioso livro de Morey Bernstein, “O Caso de Bridey Murphy”,
que revive as famosas experiências do cel. Albert De Rochas, diretor do
Instituto Politécnico de Paris, sobre a regressão hipnótica da memória. Morey
Bernstein conseguiu descobrir, na consciência profunda de uma senhora do
Colorado, Estados Unidos, a personalidade de uma mulher que vivera na Irlanda,
há mais de um século. E as pesquisas a respeito comprovaram grande parte das
revelações feitas pela paciente, o que provocou grande agitação em torno do
caso. Bernstein conclui o seu livro, muito ponderadamente, reclamando atenção
dos estudiosos e dos cientistas para esse problema. Assinalou o caracter
pessoal da sua experiência, mas lembrou as anteriores e encareceu a necessidade
de trabalhos mais amplos a respeito. O problema da reencarnação, como se vê,
não é tão simples como o pretendem os antagonistas do Espiritismo. Tanto
através de casos espontâneos, quanto de pesquisas hipnóticas ou de experiências
parapsicológicas, a reencarnação vem se afirmando, através dos anos, como uma
lei natural. Já não bastam argumentos, contra esse princípio. É preciso um
pouco mais, quando alguém quiser combatê-lo. a
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