Gabriela Dias
Durante nossa encarnação,
podemos ter vários relacionamentos e encontrar neles pontos de equilíbrio e
portas abertas para aprimorar nosso contato com a espiritualidade. Obviamente a
responsabilidade de buscar o equilíbrio próprio é individual e intransferível,
por isso não devemos delegar ao outro a responsabilidade pela nossa evolução,
mas podemos buscar relacionamentos que nos auxiliem e nos impulsionem no
sentido moral e espiritual.
Para entendermos o que é um
relacionamento saudável precisamos refletir sobre o que entendemos por
relacionamento, em que acreditamos, o que nos parece ou não normal dentro de
uma relação, pois, por mais que não exista a obrigação de estarmos unidos a
alguém, parafraseando Kardec em nota explicativa na questão 938 de O Livro dos Espíritos[2],
“um dos maiores prazeres que nos são concedidos na Terra é o de encontrar
corações que com o nosso simpatizem”.
Já que não existem regras ou
manuais de instruções que determinem o que é uma relação saudável. O
autoconhecimento se faz muito útil e necessário para que identifiquemos o que é
saudável em um relacionamento para cada um, mas sem respeito, companheirismo,
comunicação e confiança nenhum relacionamento pode prosperar. Não é o amor que
traz tudo isso para uma relação, pelo contrário, ele é a consequência dessas
construções.
No livro “Amorosidade[3]”
o autor nos explica que:
“O amor de verdade não
gera ansiedade. Gera equilíbrio, paz e harmonia. E mesmo que haja algum nível
de ansiedade, é razoável pensar que, em dias suportáveis, ela possa fazer algum
bem, desde que seja a respeito daquilo que lhe pertence e que é de sua
responsabilidade.” (OLIVEIRA, p. 105)
Um relacionamento saudável não é
o que não possui conflitos ou problemas, mas o que possui a vontade de aprender
e melhorar. Nós somos seres imperfeitos, lutando todos os dias para corrigir e
lidar com nossas próprias limitações e muitas vezes isso vai incidir em nosso
parceiro (a). Como nos explica o autor Wanderley também no livro “Amorosidade”:
“Ninguém passa pela
sua vida sem um motivo que envolva suas próprias necessidades de aprimoramento
e autodescobrimento. Relacionamentos são um espelho para a alma”. (OLIVEIRA, p.
192)
Se mantivermos sempre em mente
que ninguém passa em nossa vida por acaso, saberemos aproveitar melhor as
experiências adquiridas em nossas relações. Os relacionamentos refletem nosso
estado emocional e nossos desejos e perspectivas em relação a nós mesmos.
Aceitamos o que acreditamos merecer e damos ao outro aquilo que consideramos
que lhe é digno e, por esse motivo, relacionamentos são um espelho para alma,
refletindo nossas atitudes e sentimentos.
Se o amor de verdade gera
equilíbrio, paz e harmonia, podemos aproveitar esses sentimentos para
trabalharmos no nosso equilíbrio pessoal e, consequentemente, nos tornarmos
mais espiritualizados. Os laços que aqui criamos e que são baseados no amor e
no respeito, tendem a perdurar por outras existências, onde espíritos afins
podem nos auxiliar e serem auxiliados por nós na caminhada evolutiva.
Por vezes, a abordagem do tema
"relacionamentos", sob uma ótica espiritual, pode nos remeter a ideia
de almas gêmeas, mas o espiritismo não defende a ideia de uma alma igual a
outra ou de uma alma que se divide em duas ao reencarnar, estando predestinada
a se encontrar aqui. Para a Doutrina Espírita, o termo mais adequado seria
"almas afins" que seriam espíritos diferentes que possuem uma afinidade
adquirida em experiências pretéritas e que, por meio da lei de atração e dos
laços de amor e amizade que possuem, acabam se atraindo e se reencontrando.
Na Revista Espírita de 1864[4],
Kardec fala sobre o amor:
“Antes de tudo, o
que é a afeição, o amor? Ainda a atração fluídica, atraindo um ser para outro,
unindo-os num mesmo sentimento. Essa atração pode ser de duas naturezas
diferentes, já que os fluidos são de duas naturezas. Mas para que a afeição
persista eternamente, é preciso que seja espiritual e desinteressada”.
Em um mundo ainda movido por
interesses egoístas, é difícil imaginar um relacionamento construído com amor,
de fato, pois nossos sentimentos ainda estão mais ligados às questões materiais
do que às espirituais. Por esse motivo, a afeição não persiste eternamente
porque cessa ao desvencilhar do corpo físico.
Todavia, uniões genuínas tendem
a ser cada vez mais frequentes conforme vamos atendendo ao chamado da
espiritualidade que, de muitas maneiras, nos convida e nos concede oportunidade
e auxílio para progredir. Dessa forma, iremos atrair pessoas que também estão
buscando espiritualizar-se.
O romance “Construtores da Nova
Era[5]”,
por meio da narrativa de seus personagens, nos dá exemplos de como a
espiritualidade nos convida ao trabalho e de como a vida a dois pode nos fazer
crescer espiritualmente.
A história nos apresenta à
médica Dona Rosa e ao professor Flammarion, casados há anos, viviam de forma
harmoniosa, trabalhavam a espiritualidade no estudo do espiritismo desde muito
tempo; Rubens e Sophia, jovens inquietos, que começam a estudar o espiritismo e
buscam fortalecer sua espiritualidade através do conhecimento, se desprendendo
de crenças que os limitam e não mais os convencem; os pais de Sophia que viviam
de forma desarmônica por conta do fanatismo religioso da mãe e, também, da
mediunidade ostensiva do pai que lhe começara a trazer consequências físicas.
Tanto os instrutores, quanto os
pais de Sophia atenderam ao chamado da espiritualidade através "da
dor", conforme o livro relata, mas Rubens e Sophia despertaram para esse
chamado de forma mais branda, empreendendo uma busca por respostas e não,
necessariamente, por soluções.
À medida que a Terra caminha
para seu estado de regeneração, nós também sentimos a necessidade de evoluir; e
aquela inquietação que permanecia em seu estado de latência, vem à tona para
nos conduzir ao progresso espiritual. Por meio da vigilância e com o apoio
daqueles que compartilham dessa jornada, estaremos mais atentos às nossas
atitudes e vibrações em todas as relações.
É o que o autor Wanderley
Oliveira no livro “Amorosidade”, nos esclarece:
“O homem consciente
do futuro fará relacionamentos mais empáticos e sensitivos, nos quais prevaleça
a vibração mais do que o que se fala ou o que se faz”. (OLIVEIRA, p. 91)
Nesse entendimento, Rubens e
Sophia representam um tipo de relacionamento saudável, onde os espíritos estão
cada vez mais conscientes da importância de cuidar das energias e das relações,
almas afins com objetivos em comum que anseiam por mudança e, dentro do
relacionamento, trilham juntos seus próprios caminhos pessoais rumo à evolução
espiritual.
No capítulo 24 do romance, é
descrita a cena do casamento dos dois e o professor Flammarion, que conduzia a
cerimônia, fala aos presentes:
“(...) O importante,
o verdadeiramente importante, é o que virá a partir de hoje: a construção de
uma relação afetiva que oportunizará a Rubens e Sophia um mergulho nas águas
profundas de suas próprias almas, de seus corações.”
E continua:
“No casamento, as almas
que buscam crescer amadurecem, se autodescobrem, são aprimoradas no divino
laboratório do matrimônio. Casamos para, por meio do amor conjugal,
desenvolvermos outros amores; (...) O amor em família nos prepara para o amor
universal”.
A convivência com o outro nos
traz muitos desafios, mas também oportunidades de aprender a renunciar
interesses egoístas, buscando a harmonia no lar e priorizando o amor e o
respeito pelo outro. Consequentemente, estamos também trabalhando em nossa
reforma íntima e nos preparando para não apenas amar e renunciar por aquele
parceiro (a) que está ao nosso lado, mas por todos os que cruzarem nosso
caminho.
Observemos nosso papel
individual nessa evolução coletiva, para começarmos nossa transformação moral
através dos conhecimentos adquiridos nessa e em outras existências. Os laços
que aqui criamos, passageiros ou eternos, são oportunidades de crescimento e
trabalho na reforma íntima. Cuidemos uns dos outros, amemos com desinteresse e
dedicação, pois o amor de verdade atravessa as barreiras do tempo e perdura por
toda nossa verdadeira e única vida.
Fonte: Blog Letra Espírita
[2] KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. Tradução de Guillion Ribeiro. Rio de Janeiro, RJ, FEB,
84ª edição, 2003, p. 436.
[3] OLIVEIRA, Wanderley [psicografado por] Ermance Dufaux.
“Amorosidade: A cura da ferida do abandono”. DUFAUX, Belo Horizonte/MG, 2018.
[4] Revista Espírita:
jornal de estudos psicológicos. Ano sétimo - 1864 / publicada sob a direção de
Allan Kardec; [tradução de Evandro Noleto Bezerra; 3ª Ed. Federação Espírita
Brasileira, Rio de Janeiro/RJ, 2006. p. 78.
[5] SOBRINHO, Rossano. “Construtores da Nova Era”. Editora
Letra Espírita, Campos dos Goytacazes/RJ, 2021. p. 229-230
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