sexta-feira, 8 de outubro de 2021

RELACIONAMENTOS SAUDÁVEIS E A BUSCA PELA ESPIRITUALIDADE[1]

 


Gabriela Dias

 

Durante nossa encarnação, podemos ter vários relacionamentos e encontrar neles pontos de equilíbrio e portas abertas para aprimorar nosso contato com a espiritualidade. Obviamente a responsabilidade de buscar o equilíbrio próprio é individual e intransferível, por isso não devemos delegar ao outro a responsabilidade pela nossa evolução, mas podemos buscar relacionamentos que nos auxiliem e nos impulsionem no sentido moral e espiritual.

Para entendermos o que é um relacionamento saudável precisamos refletir sobre o que entendemos por relacionamento, em que acreditamos, o que nos parece ou não normal dentro de uma relação, pois, por mais que não exista a obrigação de estarmos unidos a alguém, parafraseando Kardec em nota explicativa na questão 938 de O Livro dos Espíritos[2], “um dos maiores prazeres que nos são concedidos na Terra é o de encontrar corações que com o nosso simpatizem”.

Já que não existem regras ou manuais de instruções que determinem o que é uma relação saudável. O autoconhecimento se faz muito útil e necessário para que identifiquemos o que é saudável em um relacionamento para cada um, mas sem respeito, companheirismo, comunicação e confiança nenhum relacionamento pode prosperar. Não é o amor que traz tudo isso para uma relação, pelo contrário, ele é a consequência dessas construções.

No livro “Amorosidade[3]” o autor nos explica que:

“O amor de verdade não gera ansiedade. Gera equilíbrio, paz e harmonia. E mesmo que haja algum nível de ansiedade, é razoável pensar que, em dias suportáveis, ela possa fazer algum bem, desde que seja a respeito daquilo que lhe pertence e que é de sua responsabilidade.” (OLIVEIRA, p. 105)

Um relacionamento saudável não é o que não possui conflitos ou problemas, mas o que possui a vontade de aprender e melhorar. Nós somos seres imperfeitos, lutando todos os dias para corrigir e lidar com nossas próprias limitações e muitas vezes isso vai incidir em nosso parceiro (a). Como nos explica o autor Wanderley também no livro “Amorosidade”:

“Ninguém passa pela sua vida sem um motivo que envolva suas próprias necessidades de aprimoramento e autodescobrimento. Relacionamentos são um espelho para a alma”. (OLIVEIRA, p. 192)

Se mantivermos sempre em mente que ninguém passa em nossa vida por acaso, saberemos aproveitar melhor as experiências adquiridas em nossas relações. Os relacionamentos refletem nosso estado emocional e nossos desejos e perspectivas em relação a nós mesmos. Aceitamos o que acreditamos merecer e damos ao outro aquilo que consideramos que lhe é digno e, por esse motivo, relacionamentos são um espelho para alma, refletindo nossas atitudes e sentimentos.

Se o amor de verdade gera equilíbrio, paz e harmonia, podemos aproveitar esses sentimentos para trabalharmos no nosso equilíbrio pessoal e, consequentemente, nos tornarmos mais espiritualizados. Os laços que aqui criamos e que são baseados no amor e no respeito, tendem a perdurar por outras existências, onde espíritos afins podem nos auxiliar e serem auxiliados por nós na caminhada evolutiva.

Por vezes, a abordagem do tema "relacionamentos", sob uma ótica espiritual, pode nos remeter a ideia de almas gêmeas, mas o espiritismo não defende a ideia de uma alma igual a outra ou de uma alma que se divide em duas ao reencarnar, estando predestinada a se encontrar aqui. Para a Doutrina Espírita, o termo mais adequado seria "almas afins" que seriam espíritos diferentes que possuem uma afinidade adquirida em experiências pretéritas e que, por meio da lei de atração e dos laços de amor e amizade que possuem, acabam se atraindo e se reencontrando.

Na Revista Espírita de 1864[4], Kardec fala sobre o amor:

“Antes de tudo, o que é a afeição, o amor? Ainda a atração fluídica, atraindo um ser para outro, unindo-os num mesmo sentimento. Essa atração pode ser de duas naturezas diferentes, já que os fluidos são de duas naturezas. Mas para que a afeição persista eternamente, é preciso que seja espiritual e desinteressada”.

Em um mundo ainda movido por interesses egoístas, é difícil imaginar um relacionamento construído com amor, de fato, pois nossos sentimentos ainda estão mais ligados às questões materiais do que às espirituais. Por esse motivo, a afeição não persiste eternamente porque cessa ao desvencilhar do corpo físico.

Todavia, uniões genuínas tendem a ser cada vez mais frequentes conforme vamos atendendo ao chamado da espiritualidade que, de muitas maneiras, nos convida e nos concede oportunidade e auxílio para progredir. Dessa forma, iremos atrair pessoas que também estão buscando espiritualizar-se.

O romance “Construtores da Nova Era[5]”, por meio da narrativa de seus personagens, nos dá exemplos de como a espiritualidade nos convida ao trabalho e de como a vida a dois pode nos fazer crescer espiritualmente.

A história nos apresenta à médica Dona Rosa e ao professor Flammarion, casados há anos, viviam de forma harmoniosa, trabalhavam a espiritualidade no estudo do espiritismo desde muito tempo; Rubens e Sophia, jovens inquietos, que começam a estudar o espiritismo e buscam fortalecer sua espiritualidade através do conhecimento, se desprendendo de crenças que os limitam e não mais os convencem; os pais de Sophia que viviam de forma desarmônica por conta do fanatismo religioso da mãe e, também, da mediunidade ostensiva do pai que lhe começara a trazer consequências físicas.

Tanto os instrutores, quanto os pais de Sophia atenderam ao chamado da espiritualidade através "da dor", conforme o livro relata, mas Rubens e Sophia despertaram para esse chamado de forma mais branda, empreendendo uma busca por respostas e não, necessariamente, por soluções.

À medida que a Terra caminha para seu estado de regeneração, nós também sentimos a necessidade de evoluir; e aquela inquietação que permanecia em seu estado de latência, vem à tona para nos conduzir ao progresso espiritual. Por meio da vigilância e com o apoio daqueles que compartilham dessa jornada, estaremos mais atentos às nossas atitudes e vibrações em todas as relações.

É o que o autor Wanderley Oliveira no livro “Amorosidade”, nos esclarece:

“O homem consciente do futuro fará relacionamentos mais empáticos e sensitivos, nos quais prevaleça a vibração mais do que o que se fala ou o que se faz”. (OLIVEIRA, p. 91)

Nesse entendimento, Rubens e Sophia representam um tipo de relacionamento saudável, onde os espíritos estão cada vez mais conscientes da importância de cuidar das energias e das relações, almas afins com objetivos em comum que anseiam por mudança e, dentro do relacionamento, trilham juntos seus próprios caminhos pessoais rumo à evolução espiritual.

No capítulo 24 do romance, é descrita a cena do casamento dos dois e o professor Flammarion, que conduzia a cerimônia, fala aos presentes:

“(...) O importante, o verdadeiramente importante, é o que virá a partir de hoje: a construção de uma relação afetiva que oportunizará a Rubens e Sophia um mergulho nas águas profundas de suas próprias almas, de seus corações.”

E continua:

“No casamento, as almas que buscam crescer amadurecem, se autodescobrem, são aprimoradas no divino laboratório do matrimônio. Casamos para, por meio do amor conjugal, desenvolvermos outros amores; (...) O amor em família nos prepara para o amor universal”.

A convivência com o outro nos traz muitos desafios, mas também oportunidades de aprender a renunciar interesses egoístas, buscando a harmonia no lar e priorizando o amor e o respeito pelo outro. Consequentemente, estamos também trabalhando em nossa reforma íntima e nos preparando para não apenas amar e renunciar por aquele parceiro (a) que está ao nosso lado, mas por todos os que cruzarem nosso caminho.

Observemos nosso papel individual nessa evolução coletiva, para começarmos nossa transformação moral através dos conhecimentos adquiridos nessa e em outras existências. Os laços que aqui criamos, passageiros ou eternos, são oportunidades de crescimento e trabalho na reforma íntima. Cuidemos uns dos outros, amemos com desinteresse e dedicação, pois o amor de verdade atravessa as barreiras do tempo e perdura por toda nossa verdadeira e única vida.

 

Fonte: Blog Letra Espírita



[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillion Ribeiro. Rio de Janeiro, RJ, FEB, 84ª edição, 2003, p. 436.

[3] OLIVEIRA, Wanderley [psicografado por] Ermance Dufaux. “Amorosidade: A cura da ferida do abandono”. DUFAUX, Belo Horizonte/MG, 2018.

[4] Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Ano sétimo - 1864 / publicada sob a direção de Allan Kardec; [tradução de Evandro Noleto Bezerra; 3ª Ed. Federação Espírita Brasileira, Rio de Janeiro/RJ, 2006. p. 78.

[5] SOBRINHO, Rossano. “Construtores da Nova Era”. Editora Letra Espírita, Campos dos Goytacazes/RJ, 2021. p. 229-230

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