Esse grupo de casos, com
percepção coletiva do mesmo fantasma, apresenta um grande interesse teórico,
embora possamos vir ainda a explicar os fatos pela hipótese da transmissão
telepática do pensamento, a menos que nos encontremos em face de alguma
circunstância especial.
Com efeito, a coincidência da
aparição vista por terceiras pessoas, coletivamente com o moribundo, nos casos
de visualidade simultânea, pode atribuir-se a ter este último servido de agente
transmissor de uma forma alucinatória elaborada em seu cérebro. Se, ao
contrário, o fantasma é percebido pelos assistentes e pelo moribundo, em
momentos e em lugares diferentes, o caso, então, atinge grande significação
teórica no sentido de sua interpretação espírita.
Aliás, num caso como noutro,
chegamos raramente a conclusões decisivas, porque nunca é possível
certificarmo-nos de que os fantasmas sejam completamente independentes da
mentalidade do moribundo; e não nos aproximamos da demonstração requerida senão
nas circunstâncias seguintes:
Em primeiro lugar, quando
os assistentes percebem a aparição no momento em que o doente se encontra no
estado de coma, o qual exclui toda e qualquer elaboração do seu pensamento; em
segundo lugar, quando o moribundo é criança de tenra idade, circunstância que,
na maior parte dos casos, exclui a possibilidade de que o seu pensamento tenha
podido servir de agente transmissor de alucinações telepáticas aos assistentes.
Citarei mais adiante (abaixo) um
exemplo que se aproxima da prova ideal desejada, por causa das condições
comatosas do moribundo...
Caso 33 – Este foi comunicado à S.P.R[2].,
pelo Professor W. C. Crosby, um de seus membros:
Mrs. Caroline
Rogers, com 72 anos de idade, viúva de dois maridos – cujo primeiro, o Sr.
Tisdale, morrera 35 anos antes –, viveu, durante os últimos 25 anos de sua
existência em Roslindale (Mass., Estados Unidos), na Rua Ashland.
Depois da morte do
seu último filho, que se deu há alguns anos, ela vivia constantemente só. Nos
primeiros dias de março deste ano foi atacada de paralisia e, após uma doença
de cerca de seis semanas, expirou na tarde de 15 de abril.
Mary Wilson,
enfermeira, de 45 anos, assistiu a Sra. Rogers durante toda sua moléstia e
ficou, quase sem interrupção, à sua cabeceira, até que ela expirou.
Nunca, antes dessa
época, tinha visto a Sra. Rogers e ignorava o que dizia respeito à sua
existência ulterior. A doente conversava frequentemente com ela, bem como com
outras pessoas, sobre o seu segundo marido, o Sr. Rogers, e sobre o filho,
exprimindo a esperança de revê-los um dia.
Na tarde de 14 de
abril, Mrs. Rogers caiu em estado de inconsciência, no qual ficou até a morte,
que sobreveio 24 horas depois.
A Sra. Wilson
sentia-se esgotada pelas vigílias prolongadas; e como esperasse assistir, de um
momento para outro, ao passamento da enferma, estava naturalmente nervosa e
inquieta, tanto mais quanto Mrs. Rogers lhe tinha dito que havia percebido,
muitas vezes, em torno de si, os fantasmas dos seus mortos queridos. Ela
experimentava, ao mesmo tempo, estranha sensação, como se aguardasse uma visita
de além-túmulo.
Entre as 2 e 3 da
manhã – quando sua filha dormia, e estando ela própria estendida, acordada, no
canapé – a Sra. Wilson voltou, por acaso, o olhar para a porta que comunicava
com o outro quarto; e percebeu, nos umbrais, a figura de um homem de talhe
médio, com aspecto feliz, tendo largas espáduas, que trazia um pouco inclinadas
para trás.
A cabeça estava
descoberta; os cabelos e a barba eram-lhe de cor vermelha carregada; trazia um
sobretudo escuro e desabotoado; tinha a expressão do rosto, nem muito áspera
nem muito amável.
Parecia olhar, ora
para a Sra. Wilson, ora para a Sra. Rogers, ficando em imobilidade absoluta.
A Sra. Wilson
acreditou, naturalmente, achar-se em presença de uma pessoa viva, sem que
pudesse descobrir, no entanto, como poderia ela ter entrado na casa.
Vendo, em seguida,
que o visitante continuava imóvel como uma estátua, começou a suspeitar que se
tratasse de algo anormal; inquieta, voltou a cabeça para outro lado, chamando a
filha em altas vozes, a fim de acordá-la. Algum tempo depois, começou a olhar
na primitiva direção, mas tudo havia desaparecido.
Tanto a aparição
como a desaparição do fantasma se tinham produzido sem ruído.
Durante esse tempo,
a Sra. Rogers ficara absolutamente tranquila, provavelmente mergulhada no mesmo
estado de inconsciência no qual se encontrava havia muitas horas.
O quarto para o qual
a porta dava acesso não estava iluminado; a Sra. Wilson não pôde, pois,
verificar se a aparição era transparente. Ela foi, instantes depois, a esse
quarto, e ao outro do apartamento; logo que o dia rompeu, desceu ao andar
inferior e encontrou todas as portas fechadas a chave; tudo estava em seu
lugar.
Nessa mesma manhã, a
Sra. Hildreth, sobrinha da enferma, que morava não longe daí e que vivia, desde
alguns anos, em grande familiaridade com a tia, foi visitá-la. A Sra. Wilson
aproveitou para fazer-lhe a narrativa do que se tinha passado, perguntando-lhe
se a aparição que houvera visto parecia-se com a do defunto Sr. Rogers.
A Sra. Hildreth
respondeu negativamente (outras pessoas que conheceram o Sr. Rogers fizeram, em
seguida, a mesma declaração).
A conversa foi
interrompida nesse momento; mas, algumas horas depois, a Sra. Hildreth voltou
ao assunto e disse a Mme. Wilson que a descrição, que lhe acabara ela de fazer,
correspondia perfeitamente com o aspecto pessoal do Sr. Tisdale, primeiro
marido da Sra. Rogers.
É preciso observar,
agora, que a Sra. Rogers se tinha estabelecido em Roslindale depois do segundo
casamento; a Sra. Hildreth era a única pessoa do lugar que conheceu o Sr.
Tisdale; em casa da Sra. Rogers não existiam retratos nem qualquer outro objeto
capaz de fazer reconhecer os traços de aparição.
(Assinado: Mary Wilson.)
A narrativa que
precede constitui a exposição completa e cuidadosa do fato sucedido à Sra.
Wilson, tal como me foi contado por ela própria na manhã de 15 abril.
(Assinado:
Mrs. P. E. Hildreth. – Proceedings of the S. P. R., vol. VIII, págs.
229-231.)
No caso que acabamos de ler, há
a notar que, apesar de a doente haver declarado muitas vezes ter visto em torno
de si os fantasmas de seus mortos, não é, entretanto, verossímil que tenha
participado da percepção alucinatória da Sra. Wilson, em razão do estado
comatoso no qual se achava, havia muitas horas, e permaneceu até à morte.
Tudo leva, pois, a supor que a
alucinação não foi coletiva e simultânea e que a visão da Sra. Wilson foi
inteiramente independente.
Não é permitido ir mais longe
nessas suposições, não estando provado o grau de inconsciência em que se
encontrava a doente; não se pode, com efeito, afastar completamente a dúvida de
que ela conservava um resto de consciência suficiente a determinar um fenômeno
de alucinação subjetiva, transmissível telepaticamente a uma terceira pessoa.
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