Esta categoria coloca-se entre
as mais importantes, do ponto de vista científico, porque pressupõe a
aplicação, aos fenômenos, dos métodos de investigação experimental.
No estado em que se encontra,
não representa, sem dúvida, mais que um bom começo, mas esse começo é de bom
augúrio e deixa entrever a possibilidade de chegar-se um dia ao fim, de maneira
suficiente e decisiva – o que constituiria um coroamento digno do mais elevado
ideal científico.
Como quer que seja, não é menos
verdade que unicamente por meio desses métodos será possível esperar atingir a
solução final dos problemas perturbadores que se ligam às manifestações
metapsíquicas em geral, problemas cujo alto valor teórico não interessa
unicamente às doutrinas científicas e filosóficas, mas se estende e se eleva
até tornar-se social e moral.
Não se pode dizer, entretanto,
que a introdução do prenúncio ou da reconfirmação mediúnica, no quadro
fenomenológico das aparições, basta eliminar totalmente a hipótese
telepático-alucinatória. A esta os pesquisadores de hoje atribuem multiformes
manifestações hipotéticas, de maneira a tornar quase impossível a sua
eliminação na maior parte dos fenômenos mediúnicos.
Em nosso caso poder-se-ia sempre
imaginar que o fato de uma aparição no leito de morte, prenunciada ou
reconfirmada mediunicamente, tem nascimento de uma relação telepática produzida
entre a consciência do médium e a do doente ou entre as do médium, do doente e
dos consultantes.
...
Caso 41 – Extraio-os dos Annali
dello Spiritismo in Italia, 1875, págs. 120 e 149. A relação do caso ocupa
dez páginas dessa revista. Narrarei tão-somente as passagens principais. O
relator é o conhecido espírita da primeira hora, Rinaldo Dall’Argine, e os
protagonistas pessoas de sua intimidade.
Ele escreve:
“O Dr. Vincent Gubernári,
natural de Maremmes, na Toscana, instalou-se definitivamente em Arcétri,
deliciosa região perto de Florença, e, se bem que não fosse médico oficial,
exercia aí igualmente sua profissão.
Gubernári, favorecido dos bens
da fortuna, esposara Isabel Segardi, de Sienne, descendente duma família
patrícia dessa cidade. Também ela era rica e tinha trazido ao marido um dote
não desprezível.
Os esposos convieram no fazer
doação recíproca de bens e a Sra. Gubernári fizera seu testamento nesse sentido
e supusera que o marido tinha feito outro tanto em seu benefício.
Posto que o Sr. Gubernári,
materialista como era, zombasse do Espiritismo e dos Espíritos, não pôde deixar
de impressionar-se, vendo muitos de seus amigos, que ele sabia bem instruídos,
isentos de preconceitos e outrora mais antiespíritas que ele, tornarem-se
repentinamente crentes com as manifestações espíritas.
Um belo dia, pois, o doutor, ou
porque se quisesse convencer pessoalmente, ou porque se quisesse divertir à
custa dos amigos, manifestou-lhes o desejo de tentar uma experiência na própria
casa e convidou-os a nela tomar parte.
Logo que os experimentadores
formaram a cadeia em torno da mesa, um Espírito agitou-a, com força surpreendente...
E o doutor ficou extremamente admirado quando, perguntando-se o nome do
Espírito presente, este lhe respondeu:
– Tua tia Rosa.
O doutor ficara órfão, com pouca
idade, e fora educado com ternura por essa tia, que lhe tinha servido de mãe.
Quando voltou a si da surpresa,
exclamou:
– Pois bem, se és
verdadeiramente minha tia Rosa, ajuda-me a ganhar muito dinheiro!
– Estou aqui para bem outra
coisa. Vim para aconselhar-te a mudar de vida e pensar em tua mulher –
respondeu o Espírito.
– Já pensei em minha mulher –
respondeu, sem vergonha, o doutor – tanto que ambos fizemos nossos testamentos,
com benefícios recíprocos.
– Mentira! – respondeu o
Espírito, sacudindo fortemente a mesa, para demonstrar o seu descontentamento –
ela te deixou tudo, sim, mas tu não lhe deixaste nada!
A Sra. Gubernári tomou parte,
então, no diálogo, e querendo persuadir o Espírito de que seu marido tinha
feito testamento em seu favor, disse, corajosamente, que ele podia prová-lo,
mostrando o mesmo testamento aos amigos presentes.
O doutor, em consequência dessa
intervenção inesperada de sua mulher, viu-se comprometido e sem saber como
sair-se do aperto. Sabia o que lhe dizia a consciência e lhe era impossível
mostrar os documentos, declarando que o Espírito não tinha dito a verdade.
Muito perturbado com o
incidente, declarou, então, que não faria ver a ninguém o testamento.
E o Espírito, agitando a mesa
com força ainda maior, respondeu:
– Tu és um impostor! Sim, eu te
repito: esqueceste tua mulher e em teu testamento só te lembraste da tua
criada, porque... Muda, sim, teu modo de vida e teu testamento e apressa-te,
porque não tens tempo a perder, dentro de alguns dias estarás conosco no mundo
dos Espíritos.
Essa revelação foi como que um
raio sobre a cabeça do doutor. Ele ficou aterrado e, depois, com raiva, gritou:
– Como? Tenho que morrer antes
de minha mulher, eu que sou mais moço que ela? Não, isso não acontecerá nunca;
quero viver ainda e viverei.
Assim dizendo, levantou-se
irritado e ordenou que levassem a mesa que servira à experiência.
No dia seguinte, um dos seus
amigos, o Coronel Maurício – para acalmar-lhe a agitação –, falou-lhe de
possíveis mistificações espíritas e lhe disse que, nessa noite mesma, iria à
casa da Condessa Passerini, a fim de pedir uma sessão de contraprova.
O doutor pareceu acalmar-se e
esperou com impaciência o resultado da nova experiência.
O Coronel Maurício foi, com
efeito, à casa da Condessa Passerini e, começada a sessão, perguntou ao Guia se
conhecia o que tinha sucedido à noite precedente em casa do Dr. Gubernári.
Responderam-lhe:
– Não houve mistificação; o
Espírito da tia do doutor revelou-lhe a pura verdade.
– Então – perguntou o Prof.
Capéli – o Dr. Gubernári deve morrer em breve?
– Sem dúvida nenhuma – continuou
o Espírito – e antes do fim do ano corrente.
– Mas – acrescentou Capéli –
como podemos contar ao doutor a terrível confirmação do que sua tia lhe
revelou? Não queremos nem podemos aumentar sua perturbação.
– O que eu disse é a vós que o
digo; com o doutor comportai-vos como quiserdes.
Escreveram imediatamente ao Dr.
Gubernári que o Espírito assegurara que se tratava de mistificação
O doutor leu avidamente a carta
e acalmou-se, rindo-se de si próprio e de seus terrores e, como gozasse de
perfeita saúde, teve vergonha de haver acreditado, um único instante, na morte
próxima.
Apesar de tudo, na noite de 12
de novembro foi assaltado por febre muito forte, acompanhada de muitas dores...
Os médicos diagnosticaram moléstia sem importância e que não merecia se
preocupassem com ela... Mas, com o tempo, o mal aumentava e ele sofria
horrivelmente.
Seus amigos foram de novo à casa
da Condessa Passerini, a fim de obterem uma sessão mediúnica. Manifestou-se a
entidade habitual. Interrogada, a propósito, respondeu:
– Como se trata de uma doença e
não conheço esse gênero de coisas, procurarei, para satisfazer-vos, um Espírito
que tenha exercido a Medicina durante a vida e vo-lo enviarei. Esperai um
momento.
A mesa parou, mas depois de
alguns minutos agitou-se de novo e o mesmo Espírito disse:
– Achei o médico; está aqui;
interrogai-o:
P. – Podeis dizer-nos alguma
coisa sobre a doença de Gubernári?
R. – Digo que, como Espírito,
acho Gubernári gravemente doente; declaro, entretanto que, se estivesse entre
vós, diria dele o que dizem os meus colegas vivos.
P. – Mas se é verdade que ele
está gravemente doente, como podem declarar os médicos que seu mal é negócio de
alguns dias?
R. – Se o corpo, que tem a alma
aprisionada, fosse como uma caixa que se pudesse abrir à vontade, os médicos veriam
o mal que consome Gubernári, enquanto ele parece exteriormente bem.
P. – Seu mal é somente físico ou
também moral?
R. – Ambas as coisas.
P. – Curar-se-á ou morrerá?
R. – Lamento vo-lo dizer; mas
estará ele brevemente entre nós.
P. – Podei-nos dizer quem sois?
R. Um médico cujo nome não vos é
conhecido.
P. – Sede bastante bom para nos
fazer conhecido o vosso nome.
R. – Eu vo-lo digo e já me vou
porque estou com pressa. Panattôni. Boa-noite a todos. (O Dr. Panattôni,
parente do deputado do mesmo nome, tinha sido um bom médico e havia exercido
sua profissão em Florença.)
Foram feitas outras consultas e
os médicos sentenciaram, por fim, que o doutor tinha um quisto interno.
Ele morreu a 30 de dezembro de
1874.
Em estado de agonia, dizia ver
perto do leito o Espírito do Dr. Panattôni, que não o abandonava um só momento
e à sua cabeceira os Espíritos de sua mãe e de sua tia Rosa, que o consolavam
com sua presença e o encorajavam a deixar a vida terrestre.
Temendo que o não acreditassem,
exclamou mais de uma vez:
– O que eu digo é a pura
verdade; estou na agonia e na agonia não se mente”.
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