sábado, 11 de agosto de 2018

Um exemplo de caridade - Irena Sendler, o “Anjo do Gueto de Varsóvia”[1]



Mesmo quando dormia, Irena não conseguia esquecer. Em sonhos, ela se via tirando uma criança, que chorava desesperadamente, dos braços da mãe que lhe perguntava: 'jura que meu filho se salvará?' Responsável por salvar 2.500 crianças do gueto de Varsóvia, Irena jamais esqueceu aqueles terríveis momentos em que era obrigada a separar os filhos de seus pais.
Irena Sendler faleceu no dia 12 de maio último, aos 98 anos. Jamais se considerou uma heroína. Pelo contrário. Quando alguém mencionava sua coragem, respondia: Continuo com a consciência pesada de ter feito tão pouco...
O Instituto Yad Vashem reconheceu o valor dessa mulher extraordinária, em 1965, concedendo-lhe o título de "Justo entre as Nações", mas poucos conheciam sua história até menos de uma década atrás. Em 2000, o silêncio que se formara em volta de seu nome foi quebrado, quase por acaso, graças ao empenho das alunas de uma escola secundária de Uniontown, Kansas, nos Estados Unidos: Megan Stewart, Elizabeth Cambers, Jessica Shelton, de 14 anos, e Sabrina Coons, de 16.
No início do ano letivo de 1999, as quatro jovens, estimuladas por seu professor, Norm Conard, se inscreveram no Concurso Nacional de História de seu país para alunos do ensino médio. Na hora de escolher o tema, Conard mostrou-lhes um recorte de 1994, do News and World Report, onde havia uma nota sobre Irena Sendler, polonesa que salvara ao menos 2.500 crianças judias do Gueto de Varsóvia. Mas, alertara o professor, era provável que houvesse um erro tipográfico naquele número, pois jamais ouvira falar da tal senhora. As jovens não tardaram a descobrir que os números eram exatos, mas que não faziam jus à coragem e valor de Irena.
Nos primeiros meses de 2000, decidiram escrever uma peça teatral baseada em sua vida, intitulada "Life in a Jar", Vida dentro de uma garrafa. E, para grande surpresa, descobriram que Irena ainda estava viva e bem de saúde, apesar de presa a uma cadeira de rodas, há anos, por lesões provocadas pelas torturas que sofreu nas mãos da Gestapo. As jovens entraram em contato com Irena e, a partir dali, mudaram sua vida.
A peça teve grande aceitação e foi representada centenas de vezes através dos Estados Unidos e Canadá, até finalmente chegar aos palcos da Polônia, além de ser transmitida pelo rádio e televisão.
Os primeiros anos
Irena nasceu em 15 de fevereiro de 1910, em Otwock, cidade próxima a Varsóvia, filha única do casal Krzyzanowski. A família sempre manteve estreitas relações com a comunidade judaica da cidade. O pai, Stanislaw, era médico e entre seus pacientes havia vários judeus, muito dos quais sem recursos. Ardente socialista, Stanislaw não cansava de ensinar à pequena Irena que o ato de ajudar devia ser para todo ser humano uma necessidade que emanasse do coração, não importando se o indivíduo a ser ajudado era rico ou pobre, nem a que religião ou nacionalidade pertencia. Em 1917, Otwock foi tomada por uma epidemia de tifo. Stanislaw, fiel aos seus ideais, não deixou a cidade e continuou socorrendo os doentes. Ele mesmo contraiu tifo, mas antes de morrer fez uma última recomendação à filha: Se vires alguém se afogando, deves pular na água e tentar ajudar, mesmo se não souberes nadar.
Na juventude, Irena estudou literatura polonesa e se filiou ao Partido Socialista. Na década de 1930, quando o endêmico antissemitismo polonês aumentava sua virulência, Irena foi expulsa da Universidade de Varsóvia por enfrentar um professor que obrigara os alunos judeus a se sentar em local separado, na classe. A jovem foi para o "setor judaico" da sala e quando o professor lhe disse para mudar de lugar, respondeu: "Hoje sou judia".
Casou com Mieczyslaw Sendler, com o qual não teve filhos e passou a trabalhar como assistente social. Quando os alemães invadiram a Polônia, em setembro de 1939, ela trabalhava no Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia, única organização oficial polonesa autorizada a atuar no país, além da Cruz Vermelha. Irena era responsável pela administração dos refeitórios comunitários localizados em cada distrito da cidade, que, graças a ela, distribuíam, além de alimento, roupas, medicamentos e algum dinheiro. E, quando se tornou proibido atender os judeus, ela registrou aqueles que iam pedir ajuda com nomes cristãos, fictícios. Para evitar visitas de inspeção, colocava nas fichas que na família havia doença infecciosa, como tifo ou tuberculose.
Atuando dentro do Gueto de Varsóvia
Na Polônia, a perseguição nazista aos judeus iniciara-se imediatamente após a invasão. Os alemães sabiam que o profundo antissemitismo que permeava a sociedade polonesa facilitaria a execução de seus planos para a comunidade judaica. Em outubro de 1940, a Gestapo decretou a transferência imediata de todos os judeus de Varsóvia para um antigo bairro que, em poucos meses, se tornou um gueto no sentido mais nefasto da palavra. Rapidamente, levantou-se um alto muro isolando seus habitantes da "Varsóvia ariana". O gueto, com apenas 4 km2, com capacidade, em condições normais, para 60 mil pessoas, passou a abrigar 380 mil judeus. Nos meses seguintes, outros 100 mil para lá foram levados. Em menos de um ano, meio milhão de judeus estavam isolados e vigiados de perto pelos nazistas, para impedir contatos com a parte 'ariana' da cidade.
Dentro do gueto, as condições de vida eram subumanas. As cotas de alimentos eram mínimas, produtos sanitários e farmacêuticos em quantidade insuficiente. Grande parte da população sequer tinha abrigo; quem conseguia algum cômodo o partilhava, com mais 10 pessoas. Além das execuções sumárias, os nazistas queriam matar os judeus de fome, frio e doenças. Entre o início de 1940 e meados de 1942, uns 83 mil morreram.
Os números só não foram maiores porque os judeus conseguiam contrabandear para dentro dos muros alimentos e remédios. Instituições judaicas atuavam dentro do gueto tentando aliviar o sofrimento de seus irmãos. Entre elas, a Sociedade Judaica de Ajuda Mútua, a Federação Judaica das Associações de Orfanatos e Lares para Crianças e a Organização de Reabilitação através do Trabalho (ORT). Até o final de 1941, quando os Estados Unidos entraram na guerra e passou a ser proibido aos americanos remeter fundos a países sob ocupação inimiga, as organizações recebiam recursos principalmente do American Jewish Joint Distribution Committee.
Quando, em novembro de 1940, os portões do gueto se fecharam, Irena se deu conta que 90% dos 3 mil judeus a quem prestava auxílio ficaram fora de seu alcance. Mas não se deu por vencida. Em depoimento ao Yad Vashem, conta:
Consegui, para mim e minha amiga Irena Schultz, identificações do Gabinete Sanitário, que tinha como tarefa, entre outras, lutar contra as doenças contagiosas. Aleguei que não íamos ajudar judeus, mas apenas fazer um levantamento diário das condições sanitárias. Mais tarde, consegui passes para outras colaboradoras". Irena Schultz também foi agraciada em 1965 pelo Yad Vashem com o título de "Justa entre as Nações.
Com esse estratagema, as duas Irenas poderiam entrar no gueto quando quisessem. Uma vez dentro, as jovens imediatamente reataram seus antigos contatos. Diariamente ‒ e mais de uma vez em um único dia ‒ cruzavam os portões levando escondido em suas roupas, alimentos, roupas, remédios e dinheiro que obtinham do próprio Departamento de Bem-Estar Social, apresentando documentos que elas mesmas falsificavam. Para não despertar a suspeita dos guardas alemães, entravam sempre por portões diferentes e, uma vez dentro do gueto, Irena usava no braço a Estrela de David. Além de ser uma forma de mostrar sua solidariedade, ela se confundia entre a população e "ninguém me pedia documentos ou questionava o que eu fazia".
Com o passar dos meses, as condições de vida no gueto se tornaram ainda mais terríveis. Sabe-se que a partir de junho de 1941 o número mensal de mortes chegou a 5 mil. Irena estava definitivamente convencida de que a única forma de salvar alguém daquele inferno era ajudando-o a fugir. Passa, então, a trabalhar na organização das fugas. Os primeiros a serem retirados foram as crianças órfãs.
Em julho de 1942, os nazistas iniciaram a deportação em massa para o campo de Treblinka. Tornara-se ainda mais premente remover do gueto o maior número possível de pessoas. Irena já estava de posse de uma lista de endereços onde os judeus poderiam ficar, principalmente as crianças, até conseguir documentos de identidade "arianos" e encontrar um lugar onde viver em relativa segurança. Sendler e Schultz conseguiram 3 mil documentos falsos.
Como as deportações continuavam sem tréguas, Irena decidiu procurar ajuda e se filiou à Zegota, movimento clandestino com a infraestrutura e o dinheiro necessários. Esta organização, que contava com o apoio financeiro de judeus britânicos, foi criada naquele fatídico mês de julho por poloneses católicos, muitos, entre eles, membros da resistência, que se opunham ao extermínio em massa de judeus. O objetivo era ajudar os judeus a sobreviver em meio à população local. Infelizmente quando começou a operar, no final de 1942, já era tarde para a maioria dos judeus de Varsóvia. Mais de 280 mil já haviam sido mortos em Treblinka. No entanto, ainda havia milhares dentro do gueto e outros tantos vivendo escondidos em Varsóvia e outras cidades.
Usando o codinome Jolanta, Irena se tornou uma das principais ativistas da Zegota. Comandava uma equipe de 25 pessoas incumbidas de tirar crianças do gueto, obter documentos falsos e encontrar uma família ou local onde as abrigar ‒ algo não tão fácil de conseguir.
O resgate de uma criança judia requeria a ajuda de no mínimo dez pessoas. O primeiro passo era fazer contato com as famílias dentro do gueto. Persuadir pais a se separarem dos filhos era uma tarefa dolorosa.
Eu ouvia sempre a mesma pergunta: 'Jura que o meu filho viverá?' Mas o que podia prometer? Sequer sabia se conseguiria tirá-los com vida...", lembrava Irena. "A única certeza era que se lá permanecessem, a probabilidade de sobreviver era praticamente nula. Eu sabia que os primeiros a serem mortos pelos nazistas eram as crianças. Às vezes, o pai aceitava a ideia, mas a pobre mãe relutava; era como rasgar sua carne. Em outras ocasiões, era o contrário. Eu entendia a dor deles, mas a indecisão foi fatal, em muitos casos. Quando voltava para tentar fazê-los mudar de ideia, já não mais os encontrava... Haviam sido levados para os campos da morte".
Durante os últimos três meses antes da liquidação do gueto, lutando contra o tempo, Sendler e Schultz retiraram 2.500 crianças. As duas jovens levavam-nas, às vezes, por corredores subterrâneos do edifício do Tribunal, localizado entre o gueto e o lado ariano; outras vezes, através de uma igreja que tinha acesso pelos dois lados; ou mesmo pelos esgotos. Alguns eram escondidos dentro de ambulâncias. Crianças pequenas eram sedadas para não fazer barulho. Nas mãos de Irena qualquer coisa se transformava em instrumento de fuga: sacolas, latas de lixo, sacos de batatas, caixões. Chegou a esconder algumas dentro de seu casaco! Já fora dos muros, as crianças eram levadas para locais onde iam ficar até serem entregues a famílias ou instituições religiosas confiáveis.
No entanto, escapar do gueto era mais fácil do que sobreviver no lado "ariano". Irena conseguira recrutar pelo menos uma pessoa em cada um dos centros do Departamento de Bem-estar Social, que a ajudaram a forjar centenas de documentos. Para escondê-las, contou com o auxílio de várias instituições religiosas. Entre estas, o Convento da Família de Maria, dirigido pela madre superiora Matylda Getter, e o de Turkowice, dirigido pela madre superiora Stanislawa. Neste último, Irena contava ainda com a ajuda das Irmãs Irena e Hermana, que sempre que recebiam uma mensagem codificada corriam a Varsóvia para buscar as crianças. As quatro freiras foram também agraciadas pelo Yad Vashem, em 1965, com o título de "Justos entre as Nações".
Em seus relatos depois da guerra, Irena deu os nomes de várias pessoas que a ajudaram, entre estas, Jan Dobraczynski. Membro de um partido cristão de extrema direita, com uma plataforma antissemita, Jan era diretor do Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia. Graças à sua função, ele conseguia documentos para as crianças, nos quais atestava serem cristas, órfãs ou carentes, para que as instituições cristãs as admitissem. Salvou assim mais de 300. Jan Dobraczynski também foi reconhecido pelo Yad Vashem com o título de "Justo entre as Nações".
No entanto, de todos os seus colaboradores dentro do Zegota, Irena tinha mais afinidade com Julian Grobelny, de codinome Trojan. Um homem de grande coração, completamente devotado a salvar os que estavam em perigo. Irena contou que, certa vez, ele a chamou para juntos buscarem uma menina judia que estava em estado de choque havia vários dias. Assistira sua mãe ser morta de forma bestial.
Quase fomos presos durante a viagem", lembrou Irena, "e como ele era pessoa vital para a resistência, sugeri prosseguir sozinha, mas Grobelny recusou indignado. Ao encontrar a menina, ele a pegou no colo e, falando devagar, carinhosamente, conseguiu fazê-la sair do torpor, até que ela conseguiu balbuciar: 'Não quero ficar aqui, me leva daqui'. Trojan, então, me pediu que encontrasse um lar onde aquela inocente encontrasse afeto.
Irena e todos os demais sabiam que, se fossem presos, seriam fuzilados. Cartazes por toda Varsóvia alertavam que a pena para quem escondia judeus era a morte e não faltavam pessoas dispostas a ganhar com a tragédia, chantageando os judeus e, em seguida, ganhando ainda mais ao entregá-los aos alemães, em troca de alguma recompensa.
Irena Sendler se preocupava com o futuro das crianças. Vejam como ela mesma descreve os cuidados que tinha para, um dia, poder recuperar suas identidade:
Escrevia em papel de seda os nomes das crianças salvas. Havia duas listas idênticas, que eu guardava em duas garrafas distintas. Por razões de segurança não deixava as listas em casa, as enterrava em locais distintos. À medida que aumentava o número de crianças salvas, as garrafas onde eu guardava as listas eram desenterradas e novos nomes incluídos.
Ela tinha a esperança de, no final da guerra, localizar as crianças e informá-las acerca de sua verdadeira origem. Queria que um dia pudessem recuperar seus nomes, identidade, suas famílias e, principalmente, voltar à sua fé. Irena fazia as famílias envolvidas no salvamento dos menores prometerem que os devolveriam a qualquer parente que sobrevivesse à guerra. Infelizmente, nem todos mantiveram sua palavra. Terminada a guerra, Irena passou anos com as listas nas mãos, tentando localizar crianças desaparecidas e as reaproximar de sua verdadeira família.
Sendler e Schultz também ajudaram adultos a fugir do gueto. A fuga era organizada para quando deixavam o gueto para ir trabalhar. Os guardas eram subornados para omiti-los em sua contagem diária dos empregados. Os judeus ficavam escondidos do lado ariano e o Zegota se incumbia de ajudá-los. Parte das despesas das famílias que davam abrigo a judeus eram pagas por esta organização que lhes entregava também roupas, alimentos e cupons para leite. Geralmente, Irena colocava jovens judias para trabalhar como governantas ou babás. Adotavam um novo nome e, sendo a Polônia um país profundamente católico, elas deviam aprender pelos menos o básico de sua suposta fé.
A prisão de Pawiak
No dia 20 de outubro de 1943, Irena foi à casa de sua mãe para uma reunião de amigos. No final da tarde, a Gestapo invadiu o local. Por sorte, ajudada por uma amiga, ela conseguira esconder documentos que a incriminavam e uma grande quantia do Zegota destinada à ajuda aos judeus. A busca durou três horas. Não encontraram nada, mas Irena foi presa e levada à terrível prisão de Pawiak. Uma de suas colaboradoras havia sido presa e, sob tortura, revelara seu nome.
O alemão que a interrogou era jovem, com boas maneiras e falava perfeitamente o polonês. Queria os nomes da liderança do Zegota, endereços e a relação de todos os envolvidos. Apesar de brutalmente torturada ‒ quebraram-lhe as duas pernas ‒ ela não cedeu. Sua vontade foi mais forte que a dor. Recusou-se a trair colaboradores ou crianças. Passou três meses nessa prisão até ser julgada e condenada à morte. "Todos os dias, ao amanhecer, as portas das celas eram abertas e eram chamados nomes de pessoas que nunca mais voltavam. Um dia, meu nome foi chamado"; lembrou Irena em seus depoimentos.
Irena estava sendo levada para o local onde devia ser fuzilada quando um agente da Gestapo surgiu com a ordem de conduzi-la a outro interrogatório. O Zegota conseguira subornar o agente minutos antes da execução; após conduzi-la a um canto, o nazista mandou-a desaparecer. Estava livre. Na mesma noite, Irena viu cartazes, nos muros de Varsóvia, com o nome das pessoas executadas. Entre eles, constava o seu.
A Gestapo não tardou a descobrir o que ocorrera; isto forçou Irena a viver escondida, sob falsa identidade, até a libertação da Polônia pelos exércitos russos ‒ exatamente como tantos outros a quem salvara. Mas, mesmo perseguida pela Gestapo, continuou a atuar.
Fim da guerra
Em 1945, ao término da guerra, sua primeira providência foi desenterrar as garrafas onde havia guardado as listas com os nomes das crianças que ajudara a salvar. Passou então a procurá-las para as reunir com pais ou outros membros de suas famílias. Poucos, porém, estavam vivos. Adolph Berman, um dirigente do Zegota, decidiu levar 400 crianças para Israel. Apesar de todos os esforços, até hoje não se tem informações sobre o paradeiro de 500. Talvez muitas não tenham sobrevivido ou estejam vivendo na Polônia ou em outros países, sem consciência de sua identidade judaica.
No fim da guerra, os comunistas tomaram conta da Polônia. A política do novo regime, de forte antissemitismo oficial, fez com que a história do Zegota, de Irena Sendler e de tantos outros fosse apagada dos livros de história do país. A própria Irena foi tachada de fascista por seu trabalho com o Zegota, durante a guerra, e por ter salvado judeus.
Voltou a trabalhar como assistente social. Levava uma vida simples e discreta e não falava de seu passado. Seu casamento com Mieczyslaw Sendler acabara logo após a guerra. Divorciada, casou-se com Stefan Zgrzembski, com quem teve dois filhos, Janka e Adam. Quando, em 1965, o Instituto Yad Vashem concedeu a Irena o título de "Justa entre as Nações", os líderes comunistas não permitiram que ela saísse da Polônia para receber o prêmio. Só mais tarde, em 1983, pôde receber o título, ocasião em que foi plantada uma árvore em seu nome.
O ano de 1994 é marcado pela queda do comunismo, na Polônia. Mas a vida de Irena só iria mudar seis anos mais tarde, quando as 4 jovens americanas de Uniontown, no Kansas, contataram-na. Irena vivia, à época, em um lar de idosos, em Varsóvia, presa a uma cadeira de rodas, seu souvenir da Gestapo. Nos últimos anos, Elzbieta Ficowska, menina a quem salvara aos 5 meses de idade, ajudava a cuidar dela.
Irena rememora o momento em que soube do projeto das jovens:
Fiquei boquiaberta e fascinada, a um só tempo; interessada, muito feliz". Em uma das primeiras cartas de Irena às jovens, escreveu: "Minha emoção está sendo ofuscada pelo fato de que ninguém do meu círculo de colaboradores, que viviam arriscando suas vidas, pôde viver o bastante para desfrutar todas as honras que hoje recaem sobre minha pessoa... Não encontro palavras para lhes agradecer, minhas queridas meninas... Antes de vocês escreverem a peça "Life in a Jar", ninguém em meu próprio país e em todo o mundo se havia preocupado com minha pessoa ou com o trabalho que desempenhei durante a guerra...".
Em maio de 2001, as 4 jovens, acompanhadas do professor Conrad, viajaram a Varsóvia para se encontrar com Irena. Na mesma época, a mídia internacional começa a divulgar sua história. Emocionada, Irena diz às jovens que elas eram "as resgatadoras da história de Irena perante o mundo".
Ao publicar a história, vários jornais colocaram uma antiga foto dela. De repente, diversas pessoas a contataram: "Lembro-me de seu rosto... sou uma daquelas crianças, devo-lhe a minha vida e meu futuro, preciso vê-la!"
No ano de 2003, Irena Sendler recebeu uma carta do papa João Paulo II. Em março daquele ano foi a vez da Polônia fazer reparações oficiais. Irena é agraciada com a Ordem da Águia Branca, a mais importante distinção concedida pelo governo daquele país. Devido ao seu delicado estado de saúde, ela não participou da cerimônia em sua homenagem, mas enviou Elzbieta Ficowska para ler uma carta em seu nome. Entre outros, a carta dizia:
Nós e as gerações futuras precisamos recordar a crueldade e o ódio humano que dominava aqueles que 'entregaram' seus vizinhos ao inimigo; o ódio que lhes ordenou cometerem assassinato e a indiferença pela tragédia daqueles que pereceram. Meu sonho é que esta recordação se torne um alerta ao mundo ‒ para que a humanidade jamais volte a vivenciar uma tragédia de igual proporção.
No ano seguinte foi publicado um livro sobre sua vida escrito por Anna Mieszkowska: Mother of the Children of the Holocaust: The Irena Sendler Story.
Em março de 2007 a Polônia prestou-lhe uma homenagem, em sessão solene na Câmara Superior do Parlamento, tendo seu nome sido indicado para o Prêmio Nobel da Paz. Neste ano de 2008, em fevereiro, quando celebrou 98 anos, recebeu das jovens de Kansas a notícia de que a peça sobre sua vida fora representada pela 254ª. vez, em Toronto, Canadá. Irena partiu deste mundo no dia 12 de maio de 2008, em Varsóvia. Centenas de pessoas acompanharam seu corpo até sua última morada, no cemitério de Varsóvia. Na ocasião, o Rabino-chefe ortodoxo da Polônia, Rabi Michael Schudrich, recitou o Kadish por aquele ser humano tão nobre.
O Rabino lembrou-a dizendo que esperava que a vida de Irena servisse de inspiração a outros:
Fomos abençoados com tantos anos em que a tivemos como exemplo vivo... Ela não apenas salvou crianças judias; salvou também a alma da Europa... seu exemplo pode ajudar-nos a mudar o mundo... Bastará que cada pessoa que ouça a sua história tente fazer um ato de bondade por outro ser humano, dia após dia.
Bibliografia:
§  Paldiel, Mordecai, The Rightheous Among The Nations, Rescuers of Jews During The Holocaust, Yad Vashem - The Holocaust Martyrs' and Heroes' Remembrance Authority.
§  Life in a jar, The Irena Sendler project, www.irenasendler.org
§  Artigo do International Herald tribune, Poland holds memorial service for Irena Sendler, 15 maio de 2008




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