Experiência de
quase-morte
Foram divulgados os resultados
do maior estudo já realizado sobre a "consciência humana na hora da
morte".
O estudo internacional durou
quatro anos e envolveu 2.060 casos de parada cardíaca em 15 hospitais.
Veja as principais conclusões
publicadas pela equipe:
‒
Termos amplamente utilizados, ainda que
cientificamente imprecisos, como experiências de quase-morte e experiências
fora do corpo podem não ser suficientes para descrever a experiência real da
morte.
‒
Os temas relacionados com a experiência da morte
parecem ser muito mais amplos do que o que tem sido considerado até agora, ou o
que tem sido descrito nas chamadas experiências de quase morte.
‒
Em alguns casos de parada cardíaca, memórias da
consciência visual compatíveis com as chamadas experiências fora do corpo podem
corresponder com os eventos reais.
‒
Uma elevada proporção das pessoas pode ter
experiências vívidas da morte, mas não se lembram delas devido aos efeitos da
lesão cerebral ou dos analgésicos sobre os circuitos de memória.
‒
As experiências envolvendo o momento da morte
merecem investigações [científicas] genuínas sem preconceitos.
Consciência após a
morte
Este novo estudo, chamado AWARE
(sigla em inglês para consciência durante a ressuscitação), foi patrocinado
pela Universidade de Southampton, no Reino Unido, mas envolveu pacientes de 15
hospitais no Reino Unido, nos Estados Unidos e na Áustria[2].
A grande novidade é que os
pesquisadores testaram a validade das experiências relatadas pelos pacientes
utilizando marcadores objetivos, para determinar se as alegações de consciência
compatíveis com experiências fora do corpo correspondiam a eventos reais ou
eram alucinatórias.
Eles afirmam que não há
fundamentação científica para chamar as experiências de quase‒ morte ou as
experiências fora do corpo de "alucinatórias ou ilusórias", uma vez
que são poucos os estudos objetivos sobre essas experiências e que os relatos
da experiência fora do corpo foram comprovados em pelo menos um caso.
Com base em sua experiência, e
para dar maior validade científica aos estudos futuros, os pesquisadores
recomendam que seus colegas concentrem-se nos casos de parada cardíaca, que é
considerada biologicamente sinônimo de morte, em vez de estados mal definidos,
algumas vezes citados como "quase-morte".
Lembranças mais ricas
Entre aqueles que relataram uma
percepção de consciência ‒ 46% do total ‒ experimentaram uma ampla gama de
lembranças mentais em relação à morte que não eram compatíveis com o termo
comumente usado de experiências de quase‒morte, incluindo medo e perseguições ‒
os relatos tão comuns de "túneis de luz" não são a maioria.
Apenas 9% tiveram experiências
compatíveis com esse padrão que comumente se fala sobre experiências de quase
morte, e 2% apresentaram plena consciência, compatível com experiências fora do
corpo, com lembranças explícitas de "ver" e "ouvir"
eventos.
Curiosamente, 39% dos pacientes
que sobreviveram a paradas cardíacas e puderam ser entrevistados descreveram
uma percepção de consciência, mas não tinham qualquer lembrança explícita de
eventos.
"Isto sugere que mais
pessoas podem ter atividade mental inicialmente, mas então perdem suas memórias
após a recuperação, quer devido aos efeitos da lesão cerebral ou dos sedativos
sobre as lembranças," explicou o Dr. Sam Parnia, da Universidade Estadual
de Nova Iorque (EUA).
Confirmação objetiva
Um dos casos pode ser confirmado
graças a gravações realizadas durante a parada cardíaca.
"Isto é significativo, uma
vez que têm sido assumido que as experiências em relação à morte são
provavelmente alucinações ou ilusões, ocorrendo quer antes de o coração parar
ou depois que o coração foi reanimado, mas não uma experiência correspondente a
eventos 'reais' quando o coração não está batendo," disse o Dr. Parnia.
"Neste caso, a consciência
e o alerta parecem ter ocorrido durante um período de três minutos, quando não
havia batimento cardíaco. Isto é paradoxal, já que o cérebro deixa de funcionar
normalmente dentro de 20 a 30 segundos depois de o coração parar e não retoma
novamente até que o coração seja reanimado. Além disso, as lembranças
detalhadas da consciência visual, neste caso, foram consistentes com eventos
verificados," disse o cientista.
O pesquisador afirma que a
possibilidade de confirmação de apenas um caso é insuficiente para uma
conclusão definitiva, e recomenda a realização de "novos estudos objetivos
sem preconceitos" com o tema.
[2] O Brasil participou através de uma equipe da
Universidade Federal de Juiz de Fora.
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