Jorge Hessen
Kardec nos remete a reflexões,
lembrando que a questão fenomênica no Espiritismo é acessória e não constitui
ponto essencial para as propostas dos Espíritos. Ademais o Espírito Emmanuel
recomenda: “São muito poucas as casas espíritas que se podem entregar ao
exercício da mediunidade. Os dirigentes vigilantes devem intensificar reuniões
de estudos teóricos, meditação e debates racionais para entendimentos seguros,
fugindo de um prematuro intercâmbio com as forças advindas do além-túmulo” [2].
Para melhor abarcarmos os
objetivos fundamentais da mediunidade, temos que separar racionalmente o
exercício mediúnico dos postulados Espíritas e definirmos fenômeno por
componente material de análise e Espiritismo, como a base teórica que esclarece
os fenômenos. Esse comportamento é para nos alforriarmos das ilusões, folclores
e superstições. Desta forma, destacamos a imprescindível obrigação do estudo
continuado do Livro dos Médiuns para o melhor juízo no exercício da
mediunidade.
O termo médium advém do latim,
“médium”, ou seja: meio, intermediário. Pessoa que pode servir de intermediário
entre os Espíritos e os homens conforme instrui Allan Kardec. Incidiremos em
atinada distorção doutrinária se assegurarmos que todos nós somos mais ou menos
médiuns no sentido restrito e habitual da palavra, ou seja, se julgarmos que
todos podem produzir manifestações ostensivas, como psicofonia, psicografia,
efeitos físicos etc..
Um aspecto central, relativo à
natureza da mediunidade, acha-se exposto na resposta à pergunta que Kardec
endereçou aos Benfeitores do além: “O desenvolvimento da mediunidade guarda
proporção com o desenvolvimento moral dos médiuns? Não”; esclarecem os Espíritos
– “a faculdade propriamente dita prende-se ao organismo; independe do moral. O
mesmo, porém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom ou mau, conforme as
qualidades do médium “ [3].
Infere-se, do exposto, que
mediunidade (ostensiva) é faculdade especial que certas pessoas possuem para
servirem de intermediárias entre os Espíritos e os homens. É de origem orgânica
e independe da condição moral do médium, de suas crenças, de seu
desenvolvimento intelectual. No parágrafo 200, de O Livro dos Médiuns, o Codificador deixa claro que não há senão um
único meio de constatar a existência da faculdade mediúnica em alguém: a
experimentação. Ou seja, só poderemos saber se uma pessoa é médium, observando
se ela é, efetivamente, capaz de servir de intermediária aos Espíritos
desencarnados. Isso, naturalmente, remete-nos à importante questão do estudo
metódico e educação da mediunidade.
O desenvolvimento da faculdade
mediúnica depende da natureza mais ou menos expansível do perispírito[4]
do médium e da maior ou menor facilidade de assimilação das energias dos
Espíritos; depende, portanto, do organismo e pode ser desenvolvida quando
existir um relacionamento fluídico entre o médium e o espírito comunicante;
caso contrário, não há fórmula sacramental para desenvolver esse dom de Deus.
Incorre em inadvertência grave
quem queira forçar, a todo custo, o desenvolvimento de uma faculdade que ainda
não aflorou, pois, como sabemos todos os homens têm o seu grau de mediunidade,
nas mais variadas posições evolutivas (…) [5]. Emmanuel explica à questão 384 no livro O
Consolador: Dever-se-á provocar o desenvolvimento da mediunidade? “Ninguém
deverá forçar o desenvolvimento dessa ou daquela faculdade, porque, nesse
terreno, toda a espontaneidade é necessária; observando-se contudo, a floração
mediúnica espontânea, nas expressões mais simples, deve-se aceitar o evento com
as melhores disposições de trabalho e boa-vontade (…)” [6].
E reitera: “A mediunidade não deve ser fruto de precipitação nesse ou naquele
setor da atividade doutrinária, porquanto, em tal assunto, toda a
espontaneidade é indispensável, considerando-se que as tarefas mediúnicas são
dirigidas pelos mentores do plano espiritual” [7].
As pessoas quando procuram os
centros espíritas, cedo ou tarde, são encaminhadas, irrefletidamente, às
chamadas reuniões de desenvolvimento mediúnico, antes mesmo de se evangelizarem
ou nem mesmo apresentarem indícios rudimentares dessa faculdade. Os
orientadores argumentam que, se são pessoas que apresentam desequilíbrios
múltiplos de saúde que desafiam a perícia médica, ou se revelam distúrbios de
comportamento que, de alguma forma, fogem aos costumes estipulados pela
sociedade, devem entregar-se, imediatamente, ao desenvolvimento da mediunidade,
o que é um contrassenso. Sugerem, ainda, que, se alguém tem grande interesse
pelo Espiritismo, ele tem todas as condições para o exercício do sublime
mandato mediúnico. Eis aí outro engano.
A educação mediúnica promovida
nos centros espíritas não deve, jamais, ser entendida como aprendizado de
técnicas e métodos para fazer surgir a mediunidade, mas, exclusivamente, como
aperfeiçoamento e norteamento eficaz para o equilíbrio das faculdades brotadas
naturalmente, o que conduz ao aperfeiçoamento moral do médium por meio do
estudo sério e de seus esforços continuados para o ajuste de suas práticas às
recomendações evangélicas.
Pergunta Kardec – “Os médiuns
que fazem mau uso de suas faculdades, que não se servem delas para o bem, ou
que não as aproveitam para se instruírem, sofrerão as consequências dessa
falta? Advertem os Benfeitores – “Se delas fizerem mau uso, serão punidos
duplamente, porque têm um meio a mais de se esclarecerem e não o aproveitam.
Aquele que vê claro e tropeça é mais censurável do que o cego que cai no fosso
“[8].
Emmanuel ainda recorda : “O exercício
da mediunidade nas tarefas espíritas exige larga disciplina mental, moral e
física, assim como grande equilíbrio das emoções” [9].
Portanto, a mediunidade mal exercida significará sofrimento para o médium,
pois, a invigilância por falta de conhecimento prévio de seus mecanismos,
fatalmente, o conduzirá à confusão, à dúvida, à mentira, insuflando o egoísmo,
o orgulho, a vaidade e o personalismo. Mediunidade sem estudo sério da Doutrina
Espirita e sem Jesus sedimenta a emissão de forças mentais deletérias, abrindo
espaço à perseguição dos Espíritos comprometidos com o mal.
[2] Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, RJ:
Ed.FEB-2000, ditado pelo Espírito Emmanuel, questão, RJ: Ed. FEB 1999.
[3] Kardec, Allan. O
Livro dos Médiuns, RJ: Ed. FEB, 1997, parágrafo 226.
[4] O perispírito desempenha papel de suma importância no
processo, sendo o mesmo o agente de todos os fenômenos mediúnicos, e estes só
podendo produzir-se pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o
Espírito, temos como regra sem exceções que, ocorrendo um fenômeno de
comunicação com o mundo espiritual, necessariamente haverá a participação de um
médium. Em alguns casos, como em certas manifestações de efeitos físicos, não
se nota a presença do médium, mas podemos estar certos de que haverá alguém, em
algum lugar, servindo de médium, ainda mesmo que este não esteja consciente do
papel que desempenha.
[5] Xavier,Francisco Cândido. O Consolador, RJ:
Ed.FEB-2000, ditado pelo Espírito Emmanuel, questão 383, RJ: Ed. FEB 1999.
[6] Idem questão 384.
[7] Idem.
[8] Kardec, Allan. O Livro
dos Médiuns, RJ: Ed. FEB, 1997, parágrafo 226
[9] Xavier, Francisco Cândido. Encontro Marcado, Capítulo
Examinando a Mediunidade, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 2002.
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